Laticínios: produção, consumo e preço em 2017 e perspetivas para 2018 (FENALAC)
Fernando Cardoso, secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite, faz um retrato do setor dos laticínios no ano passado e levanta um pouco o véu do que esperar de 2018
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Fernando Cardoso, secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite, faz um retrato do setor dos laticínios no ano passado e levanta um pouco o véu do que esperar de 2018
Por: Fernando Cardoso, secretário-geral da FENALAC (na imagem)
O mercado do leite e dos laticínios na União Europeia (UE) em 2017 foi marcadamente positivo, uma vez que a produção registou um ligeiro aumento, enquanto a procura mostrou um comportamento muito dinâmico. Com efeito, espera-se que a produção da UE28 termine o ano com um aumento na ordem de 1%, em resultado de um crescimento sensível no segundo semestre. O mercado foi movido, em particular, pelas exportações, que se mostraram muito dinâmicas no caso do leite em pó magro e do queijo, sendo que os destinos mais relevantes foram a China e os países do sudeste asiático.
A nível interno (UE), o consumo também mostrou um bom desempenho, em particular no caso da manteiga, que atingiu preços recorde (acima dos 7€/kg) devido à sua maior incorporação em produtos industriais e de confeitaria. Em consequência deste quadro, os preços médios do leite ao produtor registaram um crescimento persistente ao longo de 2017, atingindo valores próximos dos 0,37€/kg em outubro.
Em Portugal, segundo as nossas expectativas, a produção de leite em 2017 deve aumentar entre +0.5% a +1.0%, o que reflete um segundo semestre de significativo crescimento, após um início do ano de quebra, em resultado do forte travão que se registou no final de 2015 decorrente dos apoios europeus para a redução da oferta de leite.
No que toca aos preços pagos à produção em Portugal, é certo que os mesmos não atingiram os valores médios da UE. Ainda assim, é necessário distinguir a situação verificada nos Açores da ocorrida no continente. Aproveitando o exemplo do mês de outubro, em que o valor médio nacional (0.308 €/kg) figura como o mais baixo da UE, tal resulta da situação particular que se vive nos Açores, região que beneficia de apoio europeus específicos e onde (alguns) operadores teimam em não regular os fornecimentos de leite por via de contratos com os seus produtores.
Com efeito, o preço médio praticado no Continente atingiu quase 0.33€/kg, pelo que se não fossem os cerca de 0.28 €/kg praticados nos Açores, a aproximação à média comunitária seria muita mais expressiva.
Acresce que a produção de leite dos Açores tem por principal destino o restante território nacional, contribuindo assim para a desvalorização da matéria-prima e a degradação das condições negociais de toda a fileira, facto tragicamente aproveitado pelos grandes operadores da Distribuição.
Em relação à balança comercial de lácteos, a situação em 2017 (até outubro) melhorou consideravelmente. Com efeito, à exceção do segmento “Queijos”, nos restantes produtos lácteos registou-se uma melhoria de comportamento, na medida em que os balanços positivos de “leites e natas” e “manteiga” foram reforçados, enquanto o deficit nos iogurtes foi atenuado. Em resultado, a balança comercial de lácteos (jan-out) registou, em 2017, um ganho a rondar os 16 milhões de euros.
Projeções para 2018
As projeções para o mercado europeu em 2018 são de difícil antecipação, sendo no entanto razoável afirmar que o mercado estará a atingir o final de um ciclo muito positivo. O comportamento recente no mercado da manteiga pode ser um sinal, pois a elasticidade do preço foi levada ao máximo, razão pela qual os efeitos da menor procura já se fazem sentir nas cotações no final de 2017.
Ainda assim, a procura mundial de lácteos está estruturalmente forte pelo que o panorama é medianamente otimista. Como ameaças ao bom desempenho do setor a nível europeu, durante 2018, temos a crescente valorização do euro face ao dólar, que tem resultado em desvantagens competitivas nas exportações europeias, e os elevadíssimos stocks ainda existentes de leite em pó magro (350 mil toneladas).
Para 2018, as perspetivas para a produção de leite em Portugal dependem do grau de inversão da tendência positiva verificada a nível internacional, sendo que o impacto dessa alteração poderá ser minorado pelo facto de no mercado interno não ter ocorrido um desenvolvimento tão positivo como aconteceu no norte e no leste europeus e também por que o mesmo foi mais tardio.
O comportamento da Distribuição será também decisivo. Foram visíveis alguns progressos nas condições negociais em 2017, sendo que em 2018 a sua persistência estará dependente da situação de abastecimento do mercado europeu, sendo certo que um menor desempenho das exportações europeias conduzirá à existência de excedentes, que com certeza perturbarão o mercado nacional.
Acresce que a Distribuição nacional insiste em rebaixar o valor percecionado dos produtos lácteos, com destaque para o segmento “leites”, na medida em que os preços de comercialização são dos mais reduzidos da UE, sendo que o diferencial com os nossos vizinhos espanhóis e franceses varia entre -30 a -50%.