O que esperar das colheitas de 2017?
2017 trouxe um clima atípico para a produção vinícola no País. No entanto, a maioria dos produtores estima que as temperaturas altas e baixa humidade tenham sido benéficas para a qualidade das colheita deste ano. Enquanto os resultados não apuram os sentidos, as Comissões Vitivinícolas Regionais preparam as iniciativas de promoção dos vinhos para o próximo ano. Em entrevista ao HIPERSUPER, as comissões de nove das 13 regiões vitivinícolas do País comentam a mais recente vindima
Ana Catarina Monteiro
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2017 trouxe um clima atípico para a produção vinícola no País. No entanto, as temperaturas altas e a baixa humidade podem ter sido benéficas para a qualidade das colheitas deste ano. Enquanto os resultados não apuram os sentidos, as comissões de nove das 13 regiões vitivinícolas do País comentam, em entrevista ao HIPERSUPER, a mais recente vindima e desvendam os planos de promoção dos vinhos para o próximo ano
CVR Alentejo
Os vinhos alentejanos detêm a maior fatia das vendas no retalho nacional (31% em valor, segundo a Nielsen). Nos primeiros seis meses do ano, as exportações evidenciam um aumento de 28% em valor e de 17% em volume. A manter-se este ritmo, as vendas da região para o exterior podem atingir este ano “o valor mais elevado de sempre”, prevê Francisco Mateus, presidente da CVR (Comissão Vitivinícola Regional) do Alentejo que, ao contrário de outras regiões, não prevê aumentos da quantidade de vinho certificado. Pelo contrário, a certificação deve cair dos 97,2 milhões de litros em 2016 para um volume de 96,5 milhões de litros este ano. “Este ano houve um bom desenvolvimento do número de cachos e a sanidade geral das uvas é muito boa mas, com a pouca humidade no solo e no ar, os bagos apresentam-se pequenos e com alguma desidratação. Por isso, o Alentejo terá uma quebra na produção de uvas, à qual deverá juntar-se também uma redução na redimento da transformação em mosto”, observa o presidente.
Sem registar crescimentos em volume, o vinho da região tem subido em preço médio. Nos primeiros seis meses do ano, o aumento foi de 9% para os 3,08 euros por unidade, valor acima da média nacional de 2,75 euros por unidade. Além disso, na primeira metade do ano, a região representou “20% em valor e 18% em volume no total das exportações de vinhos DOC [Denominação de Origem Controlada] e Regionais portugueses”, diz o presidente que espera manter em 2018 o orçamento de 1,7 milhões de euros para promoção da região, sendo que 60% do valor destina-se a mercados internacionais.
A CRV alentejana está a aplicar o valor para intensificar o interesse de “líderes de opinião” no Estados Unidos, os quais “têm influenciado positivamente os consumidores”. Está a promover “masterclasses”com os entendidos no assunto para os mercados do Reino Unido e Alemanha, e a atuar para criar condições para os produtores trabalharem a Suíca, que o presidente classifica como mercado “interessante e com bom poder de compra”.
Brasil, Angola, Estados Unidos da América, Suíça e França captam 57% das vendas além-fronteiras dos vinhos alentejanos, cuja quantidade exportada duplicou nos últimos dez anos e hoje chegam a 112 mercados.
Em Portugal, a CVR está focada no turismo, sob o chapéu da Rota dos Vinhos do Alentejo. “Em 2016, cerca de 15% dos turistas que visitaram o Alentejo quiseram conhecer as adegas ou a nossa sala em Évora”, salienta Francisco Mateus. “Neste âmbito, estamos a intensificar a atividade e teremos no início de 2018 um novo espaço nobre junto à Sé Catedral de Évora, que pensamos ser inovador a nível mundial e que nos permitirá comunicar os vinhos da região através de uma experiência emocional”.
CVR Vinhos Verdes
A CVR dos Vinhos Verdes é a que mais investe em promoção – três milhões de euros -, realizando mais de 100 ações por ano. Para Manuel Pinheiro, presidente da comissão, os números da evolução da exportação dos vinhos da região são motivo de orgulho no plano de marketing desenhado. “Não se trata de responder a oportunidades de negócio, mas sim de estruturar toda a oferta para ganhar espaço nos mercados externos. A região tem-no sabido fazer. Em 2000 exportávamos 15% do negócio e neste momento exportamos 50%, sendo que estamos a crescer a dois dígitos. Em 2016, alcançamos cerca de 60 milhões de euros em vendas para o exterior”.
No total, no último ano foram vendidos “cerca de 57 milhões de litros” de Vinho Verde. “Estamos a crescer ligeiramente no mercado nacional e de forma muito sólida nos principais mercados mundiais, entre os quais se destacam a Alemanha e os Estados Unidos”. Mais de dois terços do investimento destina-se à promoção nos mercados externos, “esforço que tem sido essencial na afirmação mundial da região e que procuraremos manter em 2018”, assegura o presidente.
A colheita de 2017 foi para a região “uma das vindimas mais precoces da última década”, mas Manuel Pinheiro não se queixa do clima. “A uva é excelente, tem boa maturação e o tempo seco é naturalmente mais agradável para o trabalho da vindima”. Desta forma, a comissão espera “um aumento de 15%” da produção face ao ano anterior.
Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP)
Para a região do Douro e do Porto, a quantidade de uvas estimada para a vindima de 2017 será “superior à do passado ano embora não deva atingir as projeções feitas”, explica fonte do IVDP, que espera para a mais recente colheita “um ano de excecional qualidade” para os vinhos. “O calor durante o dia e as noites frescas do início de agosto aceleraram a maturação das uvas. Alguns desequilíbrios de acidez provocados por vindimas tardias, serão compensados por outros mostos muito equilibrados com a antecipação da maioria das vindimas”. Quanto aos volumes certificados, o instituto espera manter a “tendência dos últimos anos”. Assim, os 1050 registos de vinhos com Denominação de Origem (D.O.) do Porto atribuídos em 2016 não devem variar muito no próximo ano, enquanto para os vinhos com certificação D.O. Douro ou Indicação Geográfica Duriense se prevê uma evolução anual “a rondar os 10%” a partir 2586 registos efetuados este ano.
Com um orçamento de 1,5 milhões de euros, em 2017 a região promove-se em nove mercados: “Portugal, França, Espanha, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, Brasil e China”. A tipologia de ações desenhadas para dar visibilidade aos vinhos do Douro e do Porto centra-se na “formação e pedagogia, principalmente em escolas de hotelaria e canal Horeca (hotéis, restaurantes e Hotéis), provas e ações de proteção das D.O., entre outras”. Uma estratégia delineada para o triénio entre 2016 e 2018.
CVR Península de Setúbal
Os vinhos certificados da região de Setúbal devem crescer dos 28 milhões de litros em 2016 para os 30 milhões este ano, que será um “valor recorde”, destaca em entrevista Henrique Soares, presidente da direção da CVR da Península de Setúbal, onde a produção de uva cresceu este ano “entre 5% a 10% face a 2016”, para “cerca de 49 milhões de litros”.
Criticando os constrangimentos afetos à captação de mais apoios para investimento promocional, por a região se inserir na NUT (Nomenclatura das Unidades Territoriais) II, correspondente à “Grande Lisboa”, o presidente da comissão espera que o aumento da certificação traga um crescimento do orçamento disponibilizado pelos produtores para promoção em 2018. Este ano, o valor foi de “meio milhão de euros”, sendo que metade se destina a mercados além-fronteiras. “O Brasil e a China concentram o essencial do nosso investimento em mercados externos este ano. Destaca-se também a presença de um stand com a assinatura ‘Vinhos da Península de Setúbal’ pela primeira vez na feira Prowein, em Düsseldorf (Alemanha)”. A exportação capta atualmente 52% do valor das vendas dos vinhos da região.
CVR Lisboa
Na região de Lisboa espera-se uma ligeira queda da quantidade uva. “O clima da região é muito importante para a maturação da uva. O vento que assola a nossa costa traz na primavera e no verão uma quantidade de água, em forma de nevoeiro, que se deposita nas folhas durante a noite e a manhã. Esta humidade é depois, durante o dia, absorvida pela videira”, explica o presidente. O fenómeno característico do clima da região tem o nome de “Rocio” e a sua menor intensidade registada este ano fez antecipar as vindimas na região, onde arrancaram “no final da primeira semana de agosto”, pelo que se espera uma quebra de 10% da quantidade de uvas em relação à colheita do ano anterior.
“Em 2016 certificamos cerca de 36 milhões de garrafas e esperamos chegar ao final deste ano com 40 milhões de garrafas certificadas”, sendo que “em seis meses apenas, as certificações cresceram 11% acima do mesmo período no ano passado”. 75% de todo o vinho certificado pela CVR de Lisboa dirige-se atualmente aos mercados externos, que recebem todo o bolo de meio milhão de euros do orçamento para promoção dos vinhos. A exportação dos vinhos da região ronda os 27 milhões de garrafas por ano, que representam 56 milhões de euros, destaca Vasco d’Avillez.
CVR Tejo
Os vinhos da região do Tejo cresceram 18% em exportação nos primeiros seis meses do ano, representando atualmente 40% do vinho certificado pela comissão da região. “Brasil, França e China são os mercados com crescimentos mais consideráveis”, revela Luís de Castro, presidente da CVR do Tejo, a qual assiste nos últimos dois anos a uma evolução anual média de 10% no volume de vinho certificado. “A previsão para o corrente ano é de cerca de 14 milhões de litros de vinho certificado”, mantendo-se o índice de crescimento.
O volume de produção da região em 2016 foi de 55 milhões de litros, sendo que para este ano a comissão estima mais cerca de sete milhões para um total de 62 milhões de litros produzidos na região do Tejo.
Quanto ao orçamento, que tem por objetivo aumentar a notoriedade dos vinhos da região, assim como o seu preço-médio, os “cerca de um milhão de euros” são distribuídos da seguinte forma: “65% em ações em países fora da União Europeia, 20% em países comunitários, 13% em ações no mercado nacional e 2% em ações transversais”, descreve Luís de Castro.
CVR Beira Interior
Uma geada tardia, que se abateu sobre as vinhas a 1 de maio, e a seca que o território atravessa, determinam a esperada redução de “entre 20 a 25%” da produção de uvas para a campanha deste ano na Beira Interior. A CVR espera, ainda assim, manter o volume de vinhos certificados, de cerca de cinco milhões de litros, explica o presidente da Comissão Executiva, João Carvalho. Quanto à promoção, a CVR da Beira Interior conta no próximo ano incrementar as suas “condições para receber importadores, jornalistas, entre outros especialistas ligados ao setor, com a abertura de uma “nova sede”. Além disso, quer arrancar com uma “rota dos vinhos” pela região para a qual as exportações pesam 22% das vendas de vinhos. “Temos para promoção cerca de 150 mil euros, sendo que um terço aplica-se aos mercados externos”, destaca João Carvalho.
CVR Bairrada
A seca não foi um problema para os vinhos regionais da Bairrada, que gozam da influência atlântica para manter a água disponível para a planta. “Embora ainda seja cedo para falar dos vinhos tintos, para as variedades de espumante e brancos será um ano excepcional”, acredita José Pedro Soares, presidente da Direção da CVR da Bairrada. Assim, a colheita deste ano deve representar um aumento de 17% em termos de volume de produção. Ainda este ano, a comissão estima um crescimento de 10% das certificações de vinho da região, para os sete milhões de litros.
Com as exportações a representarem ainda cerca de 15% das vendas de vinhos da Bairrada, a comissão aposta no mercado nacional, tendo promovido “de forma mais aguerrida” os espumantes. Para 2018, a entidade dispõe de “cerca de 150 mil euros, destinando cerca de 50 mil euros aos mercados internacionais”.
CVR Açores
Os Açores foram fustigados com chuva, em agosto, e pragas que levam a CVR açoriana a prever para 2017 uma produção mais baixa que a do ano passado, a rondar os mil hectolitros. “No ano de 2016 verificou-se uma considerável quebra de produção, na ordem dos 40% face a 2015, ficando o total de vinho apto a certificação pelos 1217 hectolitros”, lamenta Vasco Paulos, presidente da CVR Açores, que tem apostado na divulgação da cultura vínica da região insular através do online. “Recentemente criámos um novo website através do qual procuramos divulgar a tipicidade da nossa viticultura, nomeadamente as nossas castas nobres, as zonas demarcadas, os vinhos certificados e os produtores, entre outros aspetos”, destaca o presidente. Em 2017, foram exportados 3613.5 litros de vinho da região insular, que conta com 10 mil euros para promoção dos seus vinhos, valor que espera manter em 2018.