Mas afinal, a bitcoin é ou não segura?
Depois de lançar a caixa multibanco para bitcoins em Portugal, no ano passado, a Bitcoin Já está a desenvolver um ponto de venda “muito simples e de baixo custo”, para a difusão da moeda virtual. O projecto será lançado no final do primeiro trimestre deste ano
Ana Catarina Monteiro
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Depois de lançar a caixa multibanco para bitcoins em Portugal, no ano passado, a Bitcoin Já está a desenvolver um ponto de venda “muito simples e de baixo custo”, para a difusão da moeda virtual. O projecto será lançado no final do primeiro trimestre deste ano.
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A Bitcoin Já concentra actividades na divulgação da tecnologia que envolve a moeda bitcoin e no desenvolvimento de pontos de venda associados ao modo de pagamento que chegou a Portugal em Outubro do ano passado.
Em Portugal, a utilização das moedas virtuais continua a ser “muito limitado”, dirigido essencialmente para compras online, sobretudo asefectuadas a países não SEPA (Single Euro Payments Area – área de pagamentos exclusivos ao euro), como Estados Unidos e China. O Director-Geral da empresa, Joaquim Lambiza, explicou ao HIPERSUPER que a comunidade estrangeira instalada ou de visita a Portugal está a impulsionar a adopção da moeda junto dos portugueses que, ainda não encontraram o “incentivo fundamental” para utilizarem a moeda regularmente. Para o responsável “quando puderem pagar o seu café com bitcoins, o interesse rapidamente se converterá em adopção”.
A moeda ainda é bastante recente, mas “há muito em jogo e estão a nascer, diariamente, centenas de start-ups em todo o mundo, exclusivamente dedicadas a esta tecnologia”. Para o empresário, Portugal tem “todas as possibilidades e até a obrigação” de estar na linha da frente quanto à adopção comercial da moeda, em vez de se “limitar a ver passar as oportunidades que vão sendo aproveitadas por outros países”, como hoje está a acontecer.
Para comerciantes com clientes ou fornecedores internacionais, o baixo custo, a segurança e a instantaneidade das operações são os atractivos da bitcoin, o que tem levado a que “as entidades financeiras olhem hoje com muito mais interesse para a nova tecnologia”. A discussão sobre a nova moeda gerou “pano para mangas” entre as autoridades financeiras e bancos centrais, por não haver uma entidade reguladora que, à semelhança das mesmas, controle o valor da moeda e regule as transacções.
O valor é calculado consoante a relação entre procura e oferta da moeda, pelo que pode mudar radicalmente num abrir e fechar de olhos, enquanto o mercado não absorve a moeda por completo. No entanto, as entidades bancárias não estão indiferentes ao sistema de troca de dinheiro, e começam a entender a “necessidade de não estrangular” a evolução “prometedora” da tecnologia. O responsável prevê que, no futuro, alguns bancos ou associações bancárias criem a sua própria moeda virtual “com bastante sucesso”, acreditando que haverá “moedas específicas para determinadas indústrias”, incluindo o sector da distribuição.
Regulação da bitcoin na Europa
2015 será um “ano crítico para regulação da bitcoin na Europa”, além “do efeito que a crescente adopção da moeda trará para a sociedade”.
Vários restaurantes, cabeleireiros e médicos portugueses manifestaram interesse, junto da Bitcoin Já, em adaptarem os estabelecimentos ao sistema de pagamento virtual, nos próximos meses. O Director espera que os comerciantes portugueses percebam as vantagens para o negócio, dando exemplos de sucesso como os “SmartContracts e o do AssetManagement”.
O “momento-chave”, que serviu para demonstrar as competências da Bitcoin Já,nesta área, deu-se em Outubro do ano passado com o lançamento da ATM (Automatic Teller Machine), caixa multibanco que permite trocar dinheiro por bitcoins. A empresa portuguesa desenvolveu o produto, que chamou a atenção de “imensos curiosos”, desde a instalação da máquina no Cinema do shopping Saldanha Residence, em Lisboa. Por ser o mais “tecnologicamente evoluído” no país, o espaço foi escolhido para ‘showcase’ do multibanco para bitcoins, com a finalidade de encontrar interessados em comercializar o produto. A “falta de pontos de venda” adaptados aos bitcoins e o facto de“proprietários de alguns centros comerciais” estarem associados a fundos bancários que “imediatamente colocam entraves ao uso da moeda”, foram as principais dificuldades que a empresa encontrou quando procurava por potenciais compradores da máquina.
Apesar do alvoroço criado em torno da máquina, os consumidores nacionais não lhe têm dado muita utilização, ocorrendo cerca de “150 transacções por mês”. Porém, o objectivo da empresa não é promover directamente a máquina junto ao público mas encontrar empresários “com interesse em explorar uma ou mais ATM em Portugal”. Como até agora não foram estabelecidos “contactos concretos”, a empresa tomou a decisão de “criar uma unidade” dedicada à exploração do seu produto, caso não se concretize nenhum negócio até ao final de Fevereiro, contando instalar a segunda máquina já no “próximo mês de Março, no Algarve”, revelou o Director. O local foi estrategicamente escolhido, por ser a região onde o turismo se concentra mais em Portugal.
Tanto os que se deslocam a Portugal para férias, como a trabalho, “procuram a solução de pagamento”, que lhes garante menos contratempos, quanto a câmbios bancários, processo que lhes acaba por reter parte do valor. Por este motivo, o turismo já começou a possibilitar pagamentos com a moeda virtual para “aluguer de apartamentos a estrangeiros”.
Focada na exportação e no “lançamento iminente” de serviços de consultoria na área da “tecnologia do Blockchain” (contabilidade), a empresa prepara a “primeira ronda de financiamento”.
Mas afinal, a bitcoin é ou não segura?
A segurança do bitcoin reside, entre outros factores, na existência de uma “contabilidade única”. Todas as transacções são registadas, desde a primeira transacção, efectuada em 2009, o que envolve, hoje em dia, “mais comutação dedicada a essa segurança do que a soma de todos os super computadores existentes no mundo”. Esta contabilidade (Blockchain) é completamente “transparente” e coexiste, simultaneamente, em todos os nós da rede global. “Espera-se inclusivamente, para breve, o lançamento em órbita de um satélite com mais um nó da rede Bitcoin”, revela o Director.
Todos os utilizadores podem visualizar “qualquer transacção”, em qualquer momento, de uma forma “bastante simples e directa”. A contabilidade descentralizada, isto é, não dependente de qualquer manipulação central, confere uma “tranquilidade única aos utilizadores”, que permanecem no anonimato ao longo das operações.
No mesmo dia em que foi lançada a caixa multibanco,que permite trocar dinheiro por bitcoins, o Banco de Portugal emitiu um comunicado alertando os consumidores para os riscos de utilização e comercialização da moeda virtual. Aviso que, dada a “volatilidade actual da moeda”, o empresário subscreve, e desaconselha as pessoas “menos informadas” a utilizarem a moeda para “especular ou para nestas investirem todas as suas poupanças”.
Resultado natural da sua ‘juventude’, a instabilidade do valor da bitcoin “não é um problema para comerciantes”, já que o valor é calculado no instante da venda e imediatamente convertido em euros. A solução para a estabilização da moeda passaria pela “criação de políticas monetárias descentralizadas”, o que ainda não existe. Na prática, à medida que vai ‘amadurecendo’, e com o desenvolvimento de sistemas financeiros, a bitcoin tende a “estabilizar no mercado e a convencer os utilizadores a não armazenarem bitcoins apenas para tirarem partido da sua característica deflacionaria”.
Quanto ao uso de bitcoins em operações ilícitas, o Director considera apenas como um espelho da sociedade, comprovando que a segurança da bitcoin questiona-se quando entregue a terceiros. “Há sempre um segmento da nossa sociedade que vai usar os euros ou dólares ou bitcoins para este tipo de actividades”. As detenções já efectuadas neste departamento demonstram que “as autoridades estão atentas e tanto seguem o rasto do dinheiro fiduciário como o do virtual”.
A União Europeia está a canalizar esforços para produzir legislação, que saíra “muito em breve”, para proteger os utilizadores contra empresas “pouco escrupulosas”, às quais entreguem bitcoins.
As carteiras desprotegidas (sem passwords ou mesmo com passwords fracas) levam à necessidade “imediata” de educação dos utilizadores para prevenção de roubos. “Outras soluções inovadoras estão a surgir, incluindo alternativas biométricas ou até, em casos mais extremos, a implementação da carteira a nível subcutâneo”.
No futuro, são esperados desenvolvimentos quanto à segurança das carteiras virtuais, facilidades acrescidas na utilização da moeda, quebrando a dependência do uso de smartphones, e regulação dirigida às empresas de câmbio e produtos financeiros em bitcoins.
As vantagens da bitcoin no comércio, segundo Joaquim Lambiza
– O baixo custo das transacções e a inexistência de estornos sãoos maiores benefícios para o comércio. Esta poupança pode ser reflectida nos preços dos produtos ou serviços, criando uma vantagem competitiva para o comerciante. Além disso, as soluções actuais permitem a compatibilização da aceitação de bitcoins com a maioria dos pontos de venda existentes.
– Para comerciantes com clientes ou fornecedores internacionais, o baixo custo, a segurança e a instantaneidade das operações são o maior atractivo. Deixam de haver questões cambiais, custos de transferência de valores ou qualquer tipo de compensação.
– Para o comerciante local, a bitcoin oferece uma entrada quase instantânea nos mercados internacionais, já que torna possível aceitar pagamentos pelas suas mercadorias sem qualquer entrave.
Três tipos de consumidores que utilizam a bitcoin em Portugal
Para o Director da Bitcoin Já, Joaquim Lamiza, o perfil de cliente que ainda falta conquistar, em Portugal, é “aquele que vem comprar bitcoins para usar no comércio local”. Aqueles que efectuam transacções com bitcoins no País são:
– os que já conheciam e usavam, regularmente, as moedas virtuais. A maioria destes clientes compra e vende bitcoins, quer para especular no mercado quer como investimento;
– os curiosos que querem experimentar a moeda e, normalmente, acabam por usá-la em compras na internet;
– os imigrantes que enviam dinheiro para os países de origem, sem se sujeitarem às taxas e câmbios bancários.