Especial Azeite: Portugal já é auto-suficiente
Em 2013, pela primeira vez em várias décadas, o sector do azeite atingiu a auto-suficiência, com um grau de auto-aprovisionamento de 117%, revela Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite
Ana Catarina Monteiro
Quinta da Vacaria investe na produção de azeite biológico
Grupo Rotom reforça presença no Reino Unido com aquisição da Kingsbury Pallets
Diogo Costa: “Estamos sempre atentos às necessidades e preferências dos nossos consumidores”
Staples une-se à EDP e dá passo importante na descarbonização de toda a sua cadeia de valor
CTT prepara peak season com reforço da capacidade da operação
Já são conhecidos os três projetos vencedores do Prémio TransforMAR
Campolide recebe a terceira loja My Auchan Saúde e Bem-Estar
Montiqueijo renova Selo da Igualdade Salarial
Sensodyne com novidades nos seus dentífricos mais populares
Salutem lança Mini Tortitas com dois novos sabores
O consumo de azeite em Portugal apresentou um crescimento muito residual nos últimos anos. Segundo dados da A.C. Nielsen, o consumo do óleo de azeitona cresceu apenas 0,5% no retalho no ano passado, face ao período homólogo.
Por outro lado, o Instituto Nacional de Estatística (INE) assinala, no mesmo período, um decréscimo ainda mais significativo no consumo total de azeite em Portugal, para 74 000 toneladas consumidas, de uma produção que ultrapassou as 90 000 toneladas.
Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, explica o fenómeno com base no “aumento dos preços, devido à economia desfavorável, que se reflecte de forma expressiva na diminuição do consumo”. No último ano, o aumento do preço do produto sofreu um incremento de quase 24% em relação a 2012.
Apesar dos resultados não muito felizes mo mercado nacional, as exportações de azeite português cresceram 23,8% de 2012 para 2013, ano em que o valor total das exportações de azeite foi de 343,7 milhões de euros. Os azeites virgem estão na origem de 77% das exportações, representando uma fatia de 265,5 milhões de euros do valor total.
Destaque internacional
Nos últimos anos, com o crescimento exponencial da produção, principalmente no Alentejo devido ao forte investimento feito na região, Portugal passou a produzir azeite “em quantidade e qualidade, a preços muito competitivos, concebidos em explorações agrícolas de elevada especialização”, afirma Mariana Matos. Tradicionalmente, Portugal é um País exportador de azeite embalado, de elevado valor acrescentado, essencialmente para o mercado brasileiro, onde detém uma quota de mercado de 58%, a par do mercado angolano. “Ambos apresentam uma expansão acelerada de consumo de azeite”.
Parte significativa da produção de azeite português é hoje exportada a granel, rotulado como “azeite da UE”. A exportação a granel destina-se sobretudo a Espanha e Itália, recentemente, os principais mercados de destino do azeite português”.
Além de Angola e Brasil, os países onde o azeite português tem uma quota de mercado superior são: França, Canadá, Estados Unidos, Luxemburgo, Polónia, Japão, Reino Unido, Macau, Suécia e Rússia.
Em 2013, as exportações de azeite virgem cresceram 41% face ao ano anterior e representaram 60% do consumo total de azeite. A responsável pela Casa do Azeite sublinha que, “quer em Portugal quer nos mercados internacionais, tem havido uma transferência de consumo significativa para azeites de maior qualidade, azeites virgens, particularmente para o azeite virgem extra”. Em 2000, por exemplo, o consumo de azeites virgem correspondia a cerca de 37% do total.
Consumidor mais exigente
As marcas sentem que “há uma crescente procura por azeites de qualidade”. Contactadas pelo Hipersuper, marcas como a Companhia das Lezírias, que se posiciona apenas nos azeites “gourmet”, acreditam que a tendência segue “para um consumidor final cada vez mais exigente na escolha de azeite”.
A Nono Sentido, por sua vez, registou um crescimento de 20% face ao período homólogo, no sector dos produtos gourmet. O azeite vigem extra -especial reserva foi, inclusive, recentemente seleccionado para integrar o guia internacional dos “Melhores Azeites Virgem Extra a nível mundial”, Flos Olei 2015, publicado pelo italiano Marco Oreggia. A produtora prevê um crescimento do consumo mundial na casa dos dois dígitos, “sobretudo pelo reconhecimento do azeite como um produto que contribui para uma alimentação saudável e promove o bem-estar”. No total, a exportação representa cerca 30% do volume de facturação da marca, que tem o objectivo de reverter as cifras nos próximos três anos, através do crescimento nos mercados internacionais.
Porém, as marcas sentem que ainda têm um longo caminho a percorrer na valorização do azeite, tanto lá fora como entre os portugueses. Sendo Portugal um País com capacidade para produzir azeite virgem extra de qualidade, “é curioso constatar que o azeite é um dos poucos produtos que não é cobrado ao consumidor final na restauração”. Ao contrário do que acontece geralmente com o pão, a manteiga, as entradas, o azeite não aparece na conta. A marca aponta este como um dos motivos para que a “grande maioria dos portugueses não consuma azeite de qualidade e, por isso, não saiba valorizar correctamente o produto”.
Já a produtora de Rodoliv acredita que um bom azeite deveria ser mais caro, de forma a valorizar a qualidade. Um dos desafios que o sector atravessa é a falta de reconhecimento e o facto de os consumidores não estarem dispostos a pagar por um bom azeite. “Se uma garrafa de vinho normal custa cerca de oito euros e dá para uma ou duas refeições, então porque é que um litro de azeite virgem extra, que dá em média para 15 refeições, se custar os mesmos oito euros, as pessoas dizem que é caro?”. O maior desafio para os produtores passa agora por levar os consumidores a experimentarem as gamas de qualidade, para que sejam capazes de distinguir os azeites produzidos nas diferentes regiões, ou produzidos com diferentes variedades de azeitonas, sendo, consoante estes factores, mais apropriados para um ou outros pratos.
Promoção da saúde e bem-estar
“O sector tem ainda espaço para crescer”, garante a Casa do Azeite. Nota-se que o aumento da procura, a nível mundial, deve-se ao facto de “muitos chefes de cozinha, de países do norte da Europa, começarem a descobrir e a promover a cozinha mediterrânica e os seus benefícios”. O consumo de azeite representa apenas cerca de 3% do consumo total de gorduras líquidas no mundo. O azeite tem, comprovadamente, uma série de benefícios nutricionais, e para a saúde, que “muitos povos ainda desconhecem”. As marcas têm muito ganhar com a divulgação destes benefícios, para conquistar novos consumidores.
A Casa do Azeite tem em curso um programa de promoção conjuntamente com a CVR Alentejo. A campanha assenta na divulgação do conceito da “Dieta Mediterrânica como Arte de Viver”, na qual o azeite e o vinho são dois produtos basilares. Esta campanha desenvolve-se em Portugal, Alemanha, Reino Unido, Suécia e Polónia, durante os próximos três anos.
A par do Brasil, que “sempre foi e será um destino fulcral para as exportações nacionais de azeite”, e de Angola, que tem registado um importante crescimento nos últimos anos, a Casa do Azeite vai apostar naqueles mercados para divulgar o azeite português, principalmente na Alemanha e no Reino Unido. “Estes dois mercados, sendo os mais importantes da Europa para o consumo de azeite (excluindo obviamente os países produtores), tem crescido muito significativamente nos últimos anos, mas as exportações de azeite português para esses dois importantes mercados são muito baixas”.
Apesar de este ser um sector muito regulamentado, onde de facto “é muito difícil inovar, diferenciar e acrescentar valor, é preciso continuar a apostar na inovação e diferenciação”. Outra forma de divulgar o azeite passa por associá-lo a outro tipo de aplicações que se revelam uma completa surpresa para os consumidores, como a “utilização do líquido dourado para o fabrico de doces”.
Os inconvenientes naturais
Na balança comercial regista-se um saldo positivo de 55 mil milhões de euros, o que significa que Portugal está a mostrar a “capacidade em produzir azeite de qualidade”. A produção de azeite na última campanha foi de 91 587 toneladas de azeite, “a maior registada em Portugal desde o início dos anos 60”, assegura a Casa do Azeite.
Para a actual campanha, as produtoras estimam uma redução da produção, devido às “condições climatéricas nada favoráveis. Este ano, a produção esperada é muito reduzida e a qualidade inferior devido a algumas pragas que se fizeram notar, nomeadamente a mosca”, alertou a Rodoliv.
Por outro lado, as zonas de produção mais tradicionais representam a maior parte da área de produção em Portugal. Estas zonas, onde a confecção é feita à moda antiga, são “muito menos produtivas e têm elevados custos de produção e dificilmente conseguem competir no mercado”, alerta Mariana Matos. “Essa outra olivicultura terá que encontrar o seu espaço e a sua estratégia própria, uma vez que a manutenção é extremamente importante em termos sociais, culturais e até mesmo geográficos e ambientais”.