O discreto rebranding da agricultura

É uma mudança subtil e discreta e, acredito, nasce mais de um entendimento empírico do que estratégico. Foram já várias as ocasiões em que, no léxico habitual do setor agrícola, em vez da palavra “agricultura” ouvi a palavra “agroalimentar”.

O discreto rebranding da agricultura

É uma mudança subtil e discreta e, acredito, nasce mais de um entendimento empírico do que estratégico. Foram já várias as ocasiões em que, no léxico habitual do setor agrícola, em vez da palavra “agricultura” ouvi a palavra “agroalimentar”.

Sobre o autor
Ana Rute Silva

Numa agência como a Evaristo, que nasce no seio do setor primário (ou seja, o primeiro elo da cadeia), sei bem o que é tentar passar no meio do ruído e comunicar a causa agrícola, trabalhar a sua reputação e tentar mudar percepções, alimentadas durante décadas pelos media, pela indústria alimentar, pelas organizações do Estado e pelos próprios agricultores. Muito mudou e evoluiu, para melhor. Mas recentemente, os produtores estão também a mudar o léxico e começam a referir-se ao seu setor como “agroalimentar” em vez de “agrícola”.

A agricultura é a atividade de cultivar a terra e criar animais para produzir alimentos. O setor agroalimentar engloba toda a cadeia de produção, transformação, distribuição e comercialização, desde a origem agrícola até ao consumidor final. São, portanto, mundos de dimensões diferentes.

É claro que, dado o músculo económico do agroalimentar, é muito mais apelativo comunicar esta bandeira e tentar reposicionar a agricultura neste grupo. Já há trabalho feito na construção da reputação e o consumidor percepciona – de forma quase automática – o setor agroalimentar como importante, com poder, dimensão e larga escala. Já a agricultura, embora seja um pilar fundamental da sociedade humana e uma das atividades económicas mais antigas, nunca conseguiu conquistar um lugar ao sol junto dos consumidores portugueses e da sociedade em geral.

Quando damos ao outro o poder de falar por nós, arriscamo-nos a perder identidade. E é muito difícil para os agricultores ter o mesmo tipo de meios (financeiros, mas não só) para igualar a comunicação em massa e responder a campanhas de publicidade, por exemplo, que os retratam sempre da mesma forma.

Esta mudança discreta de “agricultura” para “agroalimentar” é, no fundo, um rebranding em curso que dá à agricultura uma hipótese de se fazer ouvir de forma mais veemente perante os stakeholders. Mais importante: de a colocar à mesa das grandes decisões.

Contudo, pergunto-me se também não contribuirá para afastar mais o consumidor do produtor e, ao mesmo tempo, para separar os próprios agricultores: os pequenos de um lado, os grandes do outro. Sendo um setor visto como pouco atrativo, dependente de subsídios e sempre em protesto ou com queixas, há muito por fazer para comunicar o seu real valor económico e social.

Agricultura é identidade. Quem mais será o guardião da tradição gastronómica, da dieta portuguesa e mediterrânea, da soberania alimentar? Esse é o poder do agricultor.

Sobre o autorAna Rute Silva

Ana Rute Silva

Partner da agência Evaristo
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