A nova revolução tecnológica, os avanços da inteligência artificial, a blockchain e a internet das coisas (IoT), assim como a automação e o futuro do trabalho, o crescimento do e-commerce e a transição para uma economia sustentável, recorrendo a investimentos em energias renováveis, estão a marcar a indústria alimentar. Inflação, guerras e instabilidade geopolítica impulsionaram mudanças nos padrões de consumo, influenciando a forma como vivemos, nos comportamos e o que comemos.
Os consumidores continuam preocupados com o aumento dos preços, mas tendencialmente estão a mudar o seu foco no momento da compra dos alimentos, preferindo os frescos e de origem vegetal, os que trazem mais benefícios para a saúde e os que provocam experiências sensoriais diferenciadas, como texturas crocantes ou sabores exóticos. A capacidade de melhorar a aparência física, assim como os benefícios que podem trazer para a saúde mental e emocional, são fatores decisivos para os consumidores no momento da compra. A procura por alimentos com base na experiência e no propósito torna os consumidores mais exigentes e atentos aos impactos das suas escolhas. O ato de comer, por si só, já não basta: os consumidores procuram experiências únicas, com histórias para contar e partilhar nas redes sociais.
Estas são algumas das conclusões que a consultora internacional Innova Market Insights, a convite da PortugalFoods, entidade gestora do Portuguese Agrofood Cluster, apresentou esta terça-feira, no seminário “Trends 2025”, que juntou na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, mais de 200 representantes da indústria agroalimentar e do sistema científico e tecnológico nacional. Esta iniciativa decorreu no âmbito no Pilar Estratégico dedicado ao Comportamento do Consumidor da Agenda Mobilizadora VIIAFOOD (Plataforma de Valorização, Industrialização e Inovação Comercial para o Agroalimentar – n.º C64492945600000040), que visa promover a transformação estrutural do setor Agroalimentar em linha com os desígnios estabelecidos no Pacto Setorial para a Competitividade e Internacionalização do Setor Agroalimentar.
“Esta nova edição mostra que as tendências de consumo são, hoje, muito abrangentes e que os fatores de compra são múltiplos. Responder a este grau de exigência por parte dos consumidores é um desafio para a indústria. Sem dúvida, o setor agroalimentar português tem demonstrado uma capacidade notável de adaptação às tendências globais, mantendo-se dinâmico e inovador, investindo em tecnologia e sustentabilidade. A orientação para o mercado e a atenção às preferências dos consumidores têm sido fundamentais para o desenvolvimento de novos produtos e soluções”, sublinha Deolinda Silva, diretora executiva da PortugalFoods. “Para mim, a grande revelação neste estudo é, sem dúvida, o papel que a inteligência artificial já está a ter na produção alimentar. As empresas começam a identificar as possibilidades que esta ferramenta pode oferecer ao nível da segurança alimentar, bem-estar, inovação em novos sabores ou mesmo na sustentabilidade da produção”, acrescenta.
“Os consumidores estão cada vez mais focados na qualidade dos ingredientes, valorizando aspetos como frescura, benefícios nutricionais e naturalidade. As marcas que enfatizam a qualidade superior das suas composições tendem a destacar-se no mercado. Adicionalmente, a conjuntura mundial e as novas formas de viver vieram alterar determinantemente a forma como nos comportamos em relação à alimentação, valorizando os momentos, junto de familiares e amigos e reforçando a velha máxima de que menos é mais”, afirma Enric Tardio, da Innova Market Insights, consultora que anualmente monitoriza o comportamento do consumidor e o lançamento de novos produtos a nível global, desenvolvendo uma análise aprofundada às principais tendências de consumo e apontando as oportunidades de inovação para a indústria e para as marcas alimentares.
10 grandes tendências que vão impactar o setor agroalimentar em 2025 e a médio prazo:
1. Ingredients and Beyond: À medida que a procura de produtos de valor acrescentado aumenta é fundamental relevar a qualidade, para além dos ingredientes. A qualidade do produto é o fator mais importante para os consumidores: 50% a 60% dos inquiridos valorizam o preço e a frescura dos alimentos; 40% a 50% realçam os benefícios para a saúde; 30% a 40% atribuem importância ao prazo de validade, naturalidade e teor nutricional dos alimentos; e menos de 30% valorizam as marcas.
2. Precision Wellness: A quantidade de informação ao dispor do consumidor eleva a fasquia no desenvolvimento de produtos, desafiando as marcas a satisfazerem necessidades nutricionais específicas, em qualquer fase do ciclo de vida. As marcas direcionam a sua inovação na resposta a necessidades específicas do consumidor, em termos de saúde, como, por exemplo, o controlo do peso – o que originou, no ano passado, um aumento de 10% no lançamento de novos produtos com esta finalidade.
3. Wildly Inventive: Os consumidores procuram o extraordinário, o diferente, levando as empresas a apresentarem novos produtos com misturas surpreendentes e que proporcionam o efeito “uau”. 43% dos inquiridos afirmam que procuram fórmulas “fora da caixa”, que proporcionem experiências únicas e inesquecíveis; e 40% continuam a privilegiar o sabor. Entre as combinações improváveis que despertam mais a atenção dos consumidores, 36% afirmam serem os preparados para sobremesas, 32% os alimentos que combinam lanche e prato principal e, na mesma proporção, os alimentos que misturam o salgado e o doce.
4. Flourish From Within: A crescente consciencialização sobre o microbioma humano coloca a fibra no centro das atenções. No último ano, verificou-se um crescimento de 8% no lançamento de alimentos e bebidas com ligação à saúde digestiva ou intestinal. A saúde gastrointestinal é o que motiva a compra deste tipo de produtos: alimentos e bebidas funcionais, ricos em fibras, vitamina D e probióticos. Regista-se um aumento de 24% no aparecimento de novos produtos/snacks que incluem especificamente probióticos na sua composição.
5. Rethinking Plants: A falta de naturalidade percebida de alguns produtos de base vegetal tem sido uma barreira para o crescimento desta categoria, com 35% dos inquiridos a indicarem este critério como determinante na hora da compra. Ainda assim, registou-se um aumento de 23% no lançamento de alimentos e bebidas veganos ou de base vegetal, que colocam a naturalidade como argumento de comunicação/venda.
6. Climate Adaptation: Práticas que minimizem o impacto ambiental são valorizadas, influenciando diretamente as decisões de compra. Quase metade dos inquiridos neste estudo estão muito ou extremamente conscientes do impacto das alterações climáticas, em produtos como o café, o azeite ou o chocolate. Este impacto é sentido, sobretudo, no aumento dos preços, impactando as vendas. E se, no caso do café, os consumidores afirmam que continuarão a comprar mesmo num cenário de aumento do preço, o mesmo já não acontece, por exemplo, com o chocolate, em que a tendência será de reduzir ou mesmo não comprar.
7. Taste the Glow: À medida que os consumidores procuram soluções que agreguem benefícios para a saúde e beleza, produtos que promovam benefícios para a imagem tornam-se mais populares entre os consumidores. 1 em cada 5 inquiridos afirmam que, no ano passado, compraram alimentos e bebidas com efeitos benéficos para a sua aparência. O foco está, sobretudo, na pele (face e corpo) e cabelo. As gerações mais jovens, com uma preocupação acrescida em termos de imagem e saúde da pele, motivaram o aumento de 15% no lançamento de alimentos, bebidas e suplementos, com atributos funcionais para a saúde da pele. Esta é uma preocupação com diferente impacto nas várias gerações de consumidores: 27% da geração Z têm-na; 25% da geração Y também; na geração X são 17%; e apenas 13% na geração Boomer, que privilegia mais a saúde do que a imagem nas suas escolhas.
8. Tradition Reinvented: Num mundo em constante evolução, os consumidores desejam redescobrir sabores da sua herança culinária, abraçando a autenticidade e a tradição. Quase 1 em 2 dos consumidores, a nível mundial, considera que é importante consumir alimentos que expressam a sua herança/tradição e a diversidade de culturas alimentares. 65% gostariam de ver mais receitas antigas e tradicionais nas prateleiras dos supermercados, ao passo que 64% afirmam querer experimentar novos produtos com sabores antigos ou inspirados em receitas tradicionais’. Esta é uma oportunidade para as empresas criarem ligações mais próximas com o consumidor nostálgico.
9. Mood Food: Mindful Choices: Os consumidores optam, cada vez mais, por alimentos que influenciam positivamente o humor e o bem-estar mental, estabelecendo ligação direta entre dieta e saúde emocional. Para as marcas, este é o momento de apostarem no lançamento de produtos que se ligam sentimentalmente aos consumidores. 36% dos inquiridos afirmam que ‘sentir-se bem mental ou emocionalmente é o principal objetivo de saúde’. Esta é uma oportunidade para a indústria explorar a utilização de ingredientes como vitaminas e minerais, demonstrando o seu benefício. Destacam-se cinco nutrientes principais a considerar nos alimentos e bebidas que visam melhorar a saúde mental: vitaminas B6, B9 e B12, vitamina D, vitamina C, magnésio e vitamina E. 51% dos novos lançamentos de alimentos e bebidas monitorizados, que alegam benefícios para o cérebro, possuem vitamina B.
10. Bytes to Bites: As empresas começam a desbloquear todo o poder da Inteligência Artificial (IA), passando do reconhecimento das suas potencialidades para aplicações concretas, que elevam as experiências dos consumidores. No ano passado, registou-se um crescimento exponencial (+720%) de novos lançamentos de produtos alimentares criados pela IA. As empresas começam já a identificar as possibilidades que a inteligência artificial oferece, sobretudo, em quatro domínios: i) segurança alimentar, ex: deteção da deterioração de sumo de fruta e leite ii) bem-estar, desenvolvimento de novas formulações, ex: novos adoçantes para bebidas; iii) inovação em sabores, algumas empresas já aproveitam IA para formular os sabores do futuro e elevar a inovação alimentar; iv) sustentabilidade, ex: uma cadeia de distribuição alimentar passou a vender, pastinacas/cherovias (produto hortícola parecido com a cenoura) cultivadas de forma autónoma, recorrendo exclusivamente ao controlo por sistemas que utilizam IA, drones, sensores e equipamentos robotizados, para garantir a eficiência do ciclo produtivo, reduzindo simultaneamente as emissões de carbono e melhorando a qualidade das culturas