Lia-Tânia Dinis, investigadora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD
UvineSafe quer estimular as defesas naturais e combater as pragas na vinha
“Os principais beneficiários dos resultados deste projeto serão as regiões vitivinícolas de Portugal, especialmente a Região Demarcada do Douro”, destaca Lia-Tânia Dinis, investigadora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD.
Ana Grácio Pinto
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Combater pragas e doenças da vinha, especialmente a traça-da-uva, recorrendo a um protótipo com radiação ultravioleta C (UV-C), que estimula as defesas naturais das videiras e promove práticas agrícolas mais sustentáveis. É o que propõe o projeto UvineSafe, coordenado por Lia-Tânia Dinis, investigadora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD. “Os principais beneficiários dos resultados deste projeto serão as regiões vitivinícolas de Portugal, especialmente a Região Demarcada do Douro”, destaca a responsável.
Financiado em 250 mil euros pelo BPI-Fundação ‘La Caixa’, o projeto UvineSafe tem arranque previsto para o início de 2025 e prolonga-se até 2028. Será implementado em várias fases, uma das quais, a de testes em vinhas da Fundação Casa de Mateus.
“O tema já não é novo, há alguns estudos em UV-A e UV-B em hortícolas e até na utilização de UV para desinfeção de superfícies e adegas. Se era eficaz nesta desinfeção, e se há estudos a mostrar a sua eficácia, por que não usar na vinha? E começámos assim a delinear a proposta”, revela Lia-Tânia Dinis ao Hipersuper.
A partir desta questão foi delineado um projeto que culminou na criação de um consórcio formado por investigadores da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e da FCUP,(Faculdade de Ciências da Universidade do Porto), em parceria com a Fundação da Casa de Mateus e as empresas Castros e MatGlow.
A traça-da-uva, uma das mais preocupantes para os viticultores, será a praga sobre a qual vai incidir a investigação, mas o uso de radiação ultravioleta C poderá estender-se a outras. Até, porque, como sublinha a coordenadora do projeto, é espectável que as alterações climáticas originem um aumento da incidência de certas doenças e pragas. “Como a radiação ultravioleta também induz as defesas naturais da planta, esta tecnologia poderá também ser eficaz no controlo indireto de outras doenças e pragas. Escolhemos esta como ponto de partida, no entanto pretendemos estender o estudo do efeito dos UV a outras pragas”, explica Lia-Tânia Dinis, apontando o míldio, o oídio e a podridão cinzenta, como as das principais doenças que afetam as vinhas são. Doenças causadas por microrganismos que se desenvolvem à superfície das folhas e dos cachos, “o que os torna particularmente suscetíveis à ação esterilizante da radiação ultravioleta”.
Um protótipo na vinha
Nos terrenos da Fundação Casa de Mateus, a equipa do UvineSafe vai introduzir um protótipo, revestido de lâmpadas UV-C e acoplado a um equipamento agrícola, que poderá ser um trator, e que irá percorrerá uma área de vinha. A radiação UV-C será aplicada ao final do dia. O protótipo está em fase de otimização e desenvolvimento pelas empresas Castros e Matglow, parceiras do consórcio. “Serão testadas várias doses, apenas durante uns segundos, com o intuito de prevenir, mas caso haja já pequenos focos (de pragas) também funcionará como efeito curativo”, explica a investigadora.
O estudo vai incidir inicialmente na casta Sauvignon, escolhida pela Fundação da Casa de Mateus por ser comercialmente atrativa e suscetível a doenças. Mas os investigadores pretendem que os resultados possam ser extrapoláveis a outras castas e regiões. A colaboração da Fundação da Casa de Mateus com a UTAD não é nova, tem-se pautado por uma grande abertura a estudos de Investigação, sublinha Lia-Tânia Dinis. Neste caso, vai permitir o ensaio em vinhas comerciais e com ambiente natural e real. “Nada melhor que este tipo de parceira, até porque eles são o melhor meio de divulgação entre os viticultores”, define.
Mas por que razão se centra o projeto na radiação ultravioleta C? Lia-Tânia Dinis diz que em comparação à radiação UV-B, as lâmpadas de UV-C têm um comprimento de onda mais curto, o que significa um menor tempo de aplicação para ober o mesmo efeito da radiação UV-B. Como na vinha a incidência será de apenas alguns segundos, as videiras estarão menos expostas à radiação, o que aumentará as suas defesas, e, “supostamente, será benéfico para reduzir a incidência de doenças”, explica.
Estimular as defesas naturais das videira
São inúmeros os benefícios que projetos como o UvineSafe trarão à produção agrícola. Neste caso, a substituição de fitoquímicos por radiação UV-C no controlo de doenças e pragas da vinha “representa um avanço significativo para a sociedade, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis e ambientalmente responsáveis”, destaca a investigadora. Isto porque ao eliminar a necessidade de pesticidas químicos, reduz a contaminação do solo e da água, preservando a biodiversidade e protegendo os ecossistemas locais. Para além de não deixar resíduos, “minimizando o risco de exposição humana a substâncias potencialmente tóxicas”, a radiação UV-C não é afetada pela chuva ou pelo vento o que possibilita que seja aplicada em qualquer altura.
Trará ainda outro benefício à vitivinicultura: a redução da utilização de químicos, defendida pela UE. “A União Europeia quer reduzir o uso de pesticidas em 50% até 2030 e isto reflete-se numa lista cada vez mais restrita de substâncias ativas permitidas em Portugal”, recorda Lia-Tânia Dinis, acrescentando que o uso repetido de alguns fitofármacos “pode levar ao surgimento de estirpes resistentes que tornam os tratamentos pouco eficazes”. “Isto demonstra a importância de procurar alternativas sustentáveis, como a radiação ultravioleta, que possam complementar e, eventualmente, substituir os fitofármacos convencionais”, sublinha.
Mas tão importante quanto os benefícios já referidos, a radiação UV-C estimula defesas na planta, torna-as mais resistentes, “e pode influenciar positivamente a qualidade do vinho”, acrescenta, uma vez que a exposição das vinhas a altos níveis de radiação UV “estimula a produção de compostos fenólicos nas uvas”.
“Os viticultores beneficiarão diretamente, pois poderão aceder a suporte financeiro da União Europeia, incluindo o Fundo Europeu Agrícola de Garantia e o Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural, para reestruturar e converter as suas vinhas, incorporando sistemas de produção mais sustentáveis. Este apoio não só facilita a transição para métodos mais ecológicos, como também pode melhorar a competitividade dos vinhos portugueses, especialmente num mercado onde a sustentabilidade é cada vez mais valorizada pelos consumidores”, defende.
O projeto UvineSafe será implementado em várias fases, com a primeira a ser o desenvolvimento do protótipo que seja capaz de percorrer as vinhas irradiando-as com luz ultravioleta. Depois, há que perceber quais serão as doses e a frequência de aplicação mais eficazes para reduzir a incidência de pragas e doenças e aumentar as defesas naturais das plantas, “sem afetar negativamente a fisiologia das videiras e a qualidade da produção”. “Para isso, será criado um modelo de previsão baseado em inteligência artificial”, revela a investigadora.
Este sistema de apoio à decisão, que vai integrar o conhecimento sobre o ciclo de vida dos organismos causadores de pragas e doenças e as previsões meteorológicas locais, fará uma recolha contínua de dados climáticos e da previsão das condições ideais para o desenvolvimento de pragas e doenças. Dados que vão permitir a aplicação de radiação UV-C em momentos-chave, que maximizem a sua eficácia.
Este artigo faz parte da edição 426 do Hipersuper