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Entrevista

“Questionar e ouvir os trabalhadores é uma estratégia eficaz para reter talento”

Como atrair e reter talento num mercado de trabalho constituído por quatro gerações de trabalhadores: baby boomers, geração X, millennials e geração Z? “Acima de tudo, necessitamos de perceber claramente o que é efetivamente valorizado pela nossa base de talentos. Diria que é relativamente fácil de conseguir, quando questionamos e nos dispomos a ouvir”, afirma Marlene Fernandes (Randstad), em entrevista ao Hipersuper.

Rita Gonçalves
Entrevista

“Questionar e ouvir os trabalhadores é uma estratégia eficaz para reter talento”

Como atrair e reter talento num mercado de trabalho constituído por quatro gerações de trabalhadores: baby boomers, geração X, millennials e geração Z? “Acima de tudo, necessitamos de perceber claramente o que é efetivamente valorizado pela nossa base de talentos. Diria que é relativamente fácil de conseguir, quando questionamos e nos dispomos a ouvir”, afirma Marlene Fernandes (Randstad), em entrevista ao Hipersuper.

Rita Gonçalves
Sobre o autor
Rita Gonçalves
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As tendências de recrutamento no retalho, as competências mais procuradas e como criar uma boa estratégia de atração e retenção de talento, na primeira pessoa, pela voz de Marlene Fernandes, sales & operations director outsourcing da Randstad

Quais as principais tendências de recrutamento no retalho em 2024?

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A definição do perfil adequado para a realização de determinada função, está intrinsecamente ligado ao comportamento e expectativa do próprio negócio e respectivo consumidor. Esse é o grande desafio que as equipas de recrutamento e gestão de talento têm pela frente, nomeadamente num setor que tem vindo a evoluir de forma consistente nos últimos anos. Seja devido aos contínuos avanços tecnológicos ou à evolução das expectativas dos próprios clientes, o setor do retalho tem vindo também a mudar e a acompanhar as tendências do mercado de maneira geral. Tudo isto obrigou as empresas a adaptarem-se nomeadamente no que respeita à relação com os seus clientes e parceiros, otimizarem a sua presença no mercado e apostarem em novos e diferentes canais de comunicação.

Que competências são mais procuradas neste setor?

Em 2024, as competências comerciais vão continuar a ser muito relevantes, ainda para mais quando conjugadas com a capacidade de manusear e interagir com soluções tecnológicas que permitam a automatização de determinadas tarefas, deixando para a componente humana todas as outras em que os trabalhadores possam verdadeiramente acrescentar valor. Por outro lado, tendo a experiência do cliente como foco primordial, torna-se também fundamental a identificação de candidatos com soft skills apuradas, capazes de personalizar cada interação com o cliente e, por isso, a capacidade de comunicação e de relacionamento interpessoal são também essenciais.

Que medidas devem fazer parte de uma boa estratégia de atração de talento?

É importante recordar que atualmente existem quatro gerações no mercado de trabalho: baby boomers, geração X, millennials e geração Z, o que traz desafios quando falamos em atrair e reter talento. Isto porque cada uma destas gerações valoriza e dá uma importância maior ou menor a diferentes critérios. É evidente que cada profissional é diferente e tem exigências e condições profissionais particulares, mas perceber o que é mais importante para cada uma destas gerações é determinante e pode ajudar a compreender de uma forma geral os princípios, as competências e os valores que vão condicionar as decisões de cada um deles na escolha de um empregador.

O que leva um candidato a escolher entre um empregador em detrimento de outro?

Realço cinco aspectos: A atratividade da marca. A marca é forte, comunica confiança, qualidade e valores positivos? Assume a diversidade e inclusão como um pilar estratégico?; Oportunidades de crescimento. A empresa possui um plano bem definido e concreto de progressão de carreira?; Ambiente de trabalho. Os atuais colaboradores são embaixadores e promotores da marca? A empresa promove a produtividade, a satisfação e a retenção do talento?; Remuneração. São justas e competitivas? Além do salário, a empresa tem um programa de fringe-benefits?; Políticas de flexibilidade. Existe um política de horários e licenças flexível que considera diferentes necessidades?

O que deve fazer parte de uma boa estratégia de retenção?

Acima de tudo, necessitamos de perceber claramente o que é efetivamente valorizado pela nossa base de talentos. Diria que é relativamente fácil de conseguir, quando questionamos e nos dispomos a ouvir. Segundo o estudo Randstad Research “Tendências de Recursos Humanos 2023-2024”, existem quatro fatores que assumem a liderança quando procuramos saber quais os benefícios mais relevantes para os profissionais: Oportunidades de crescimento; Flexibilidade laboral (horários, escalas): Progressão salarial; e Bom ambiente de trabalho. Partindo desta certeza e considerando a especificidade do setor, torna-se urgente considerar a atratividade de uma função, onde a prática de horários noturnos e folgas durante a semana acabam por ser algo habitual. Claro que existem profissionais que procuram precisamente estas características, mas colocar em cima da mesa a possibilidade de um modelo de trabalho mais flexível, tornará esta função igualmente interessante para outros. Por último, o investimento e promoção de uma cultura de bem estar, suportada em princípios e valores equitativos, terão também certamente o seu peso na decisão de ficar.

E a possibilidade de ter formação contínua, é um fator eliminatório?

Em termos de desenvolvimento de competências e com a contínua introdução da componente tecnológica no setor, abre-se uma oportunidade de dotar os colaboradores de determinadas competências técnicas, que continuarão a enriquecer o seu perfil, tornando-o viável para uma contínua progressão dentro da organização.

*Entrevista originalmente publicada na edição 419

Sobre o autorRita Gonçalves

Rita Gonçalves

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“A logística urbana é sem dúvida um grande desafio para todo o setor”

“As cidades deverão dar cada vez mais atenção a este tema da logística urbana. Existem medidas que têm sido tomadas e projetos em curso, mas existe um longo caminho a percorrer”, define ao Hipersuper, Afonso Almeida, presidente da direção da APLOG.

Afonso Almeida, presidente da direção da APLOG, sublinha o desafio que a logística urbana representa para todo o setor.

A logística urbana é um dos grandes desafios para os players do setor? Na abertura da conferência Cidades & Logística, referiu que de 2022 para 2023, o tráfego aumentou 20% em Lisboa e Porto.
A logística urbana é, sem dúvida, um grande desafio para todo o setor. O aumento exponencial da entregas on-line, em especial nos últimos anos durante e pós pandemia, fez com os players do setor tivessem que se modernizar de forma muito rápida para poder responder às necessidades do mercado. Através da tecnologia, da digitalização, da automação, entre outras ferramentas, é possível hoje fazer entregas por todas as cidades em tempos muito reduzidos. Um estudo apresentado pela Inrix, uma consultora norte americana especializada em análise de dados de tráfego, mostra que a maioria das grandes cidades na Europa e no mundo tiveram um aumento de tráfego muito significativo. No caso de Lisboa e Porto os dados apresentados de 2023, mostram um crescimento do tráfego em mais de 20% em relação ao ano anterior. Esta situação deve mostrar-nos uma grande preocupação, sendo muito importante perceber as causas para este aumento e fazer com que as cidades possam tomar medidas urgentes para minimizar esta situação.

A logística urbana deve dar prioridade a conceitos como a habitabilidade e a sustentabilidade nas cidades? Nesse sentido, os lockers e as entregas de última milha com veículos alternativos deveriam ser priorizados?
As cidades deverão dar cada vez mais atenção a este tema da logística urbana. Existem medidas que têm sido tomadas e projetos em curso, mas existe um longo caminho a percorrer. É um tema que nunca está terminado, e deve ser importante envolver todas as partes interessadas, no sentido de conseguir arranjar as melhores soluções para a cidade, tendo uma visão de futuro mais sustentável. Existem já lockers a funcionar em alguns locais mas ainda estamos numa fase algo inicial. Devemos olhar para projetos noutras cidades e noutros países, que nos indicam caminhos interessantes. A forma como se faz as entregas da última milha deverá ser claramente otimizada com a implementação de hub´s em diferentes zonas da cidade, que permitam reduzir claramente o número de viaturas que existem hoje a efetuar entregas na cidade de Lisboa e Porto. A eletrificação das frotas deverá ser acelerada e também o uso de novos veículos de diversos tipos mais sustentáveis.

No global, para onde apontam as soluções? Como obter uma logística urbana eficaz e sustentável?
As soluções devem passar claramente por um trabalho sério das autarquias, alinhadas com políticas centrais, envolvendo especialistas e trabalhar em conjunto para arranjar soluções par este problema atual e real. É preciso investir neste tema com mais planeamento, rapidez e estratégia de médio longo prazo. Por esse mundo fora existem soluções interessantes e inovadores que podem ser analisadas e ver a possibilidade de poder aplicar nas nossas cidades as soluções que possam fazer sentido. Questões como dos horários de entregas, locais de descargas, hub´s estrategicamente locados em locais de Lisboa e Porto que permitam reduzir o tráfego, centralizando entregas com uma redução significativa do número de veículos em circulação. A questão dos lockers é fundamental, pois vamos ter que nos convencer que não é sustentável continuarmos a receber as nossas encomendas em casa. Se continuarmos neste caminho, a tendência será continuar a aumentar o tráfego e o congestionamento das cidades, entrando em contraciclo com o que se pretende para ter cidades mais sustentáveis.

Esta entrevista foi publicada na edição 426 do Hipersuper

Sobre o autorAna Grácio Pinto

Ana Grácio Pinto

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“Realizar os WCA em Viseu e na Região Centro é um sentimento de enorme orgulho e satisfação”

A cidade de Viseu recebe, em novembro, os World Cheese Awards 2024. Considerados os ‘Óscares do Queijo’, decorrem pela primeira vez em Portugal. Motivo para uma entrevista a Bruno Filipe Costa, o impulsionador da vinda do evento para Portugal. “A organização portuguesa sempre defendeu a visão que, mais do que ser em Portugal, era na Região Centro, o que significaria receber este evento no berço de um dos mais antigos, mais tradicional e de maior prestígio internacional, entre os queijos nacionais: o Queijo Serra da Estrela”, destaca.

Como decorreu o processo até a Guild of Fine Food decidir realizar o World Cheese Awards 2024 em Portugal?
Num evento com a dimensão e relevância dos World Cheese Awards, a escolha da região e país anfitriões é encarada como um passo determinante no processo de organização de cada edição, desempenhando um papel significativo, não só para o sucesso do próprio evento, mas sobretudo para a promoção e divulgação dos melhores queijos do mundo em mercados reconhecidos pela sua importância na produção queijeira a nível mundial, que é um dos principais objetivos dos World Cheese Awards.
Dito isto, o processo acabou por ser bastante longo devido, não apenas aos valores envolvidos, mas à necessidade de garantir o envolvimento de uma região que nos permitisse reunir as condições certas para receber o evento. A par disso, a existência de um espaço físico com as dimensões e características adequadas para o evento, a logística, os hotéis, os voos, tudo foram variáveis, por vezes desafiantes de solucionar, e que levaram a que o processo de negociação se estendesse por largos meses. Começámos a falar com a Guild of Fine Food em agosto de 2023, alcançámos o acordo em fevereiro de 2024 e só no final de maio foi possível formalizar com todas as entidades envolvidas. De ressalvar a postura sempre aberta e simpática com que a Guild of Fine Food sempre recebeu a delegação portuguesa.

No final, o que pesou para que o país fosse escolhido? A qualidade dos queijos produzidos em Portugal foi um fator importante?
Acredito que tínhamos a proposta que melhor personificava o evento. Por um lado, era um país que ainda não tinha recebido os WCA, com a mais-valia de que o erámos, ao mesmo tempo, um dos países com melhor gastronomia e produção artesanal. Desde o início, a organização portuguesa sempre defendeu a visão que, mais do que ser em Portugal, era na Região Centro, o que significaria receber este evento no berço de um dos mais antigos, mais tradicional e de maior prestígio internacional, entre os queijos nacionais: o Queijo Serra da Estrela. Tudo isto, combinado com o empenho e profissionalismo da nossa candidatura, onde tenho de destacar o Paulo Salvador, resultaram na vitória de Portugal nessa decisão.

Como se processa a competição e as escolhas do júri?
Vou tentar simplificar um processo que engloba alguma complexidade. Os cerca de 4500 queijos a concurso são divididos por grupos de 45 unidades (100 mesas) e cada uma dessas mesas recebe um grupo de jurados que irá pontuar cada queijo individualmente, numa prova cega e sem saber nada sobre cada um deles – origem, produtor, etc. Assim, teremos um queijo vencedor em cada mesa, resultando num lote de 100 queijos apurados para passar à grande final. Nessa segunda avaliação, um grupo restrito dos mais prestigiados juízes do mundo irá realizar uma nova prova cega. Dessa segunda pontuação, irão resultar as 13 medalhas Super Gold – Os Melhores Queijos do Mundo 2024.

O que destacaria, para além do concurso, como importante no programa deste evento? Haverá outras ações?
A Feira de Produtores é um dos pontos de maior atratividade deste evento. Obviamente que assistir ao vivo, e poder provar, alguns dos melhores queijos do mundo, podendo interagir, no mesmo espaço, com autênticas estrelas mundiais, é uma oportunidade ímpar e talvez única. No entanto, não só de super chefs e jornalistas internacionais mediáticos se faz o evento. As verdadeiras estrelas são os nossos produtores. Numa tenda com 1.100 metros quadrados, os visitantes poderão, não só provar os melhores queijos do mundo, como celebrar aquilo que de melhor se faz em Portugal a nível gastronómico. Serão três dias de queijos, vinho, enchidos e doces, ou seja, os melhores sabores e aromas estarão disponíveis a todos aqueles que nos quiserem visitar.

Referiu que a escolha de Viseu como cidade do evento teve em conta a sua cultura gastronómica e tradição da indústria queijeira. Houve também uma preocupação em descentralizar a realização de grandes eventos?
Sim, isso é bastante claro. Tanto eu como o Paulo Salvador tínhamos esse objetivo delineado desde o primeiro momento. É importante, num país tão pequeno, poder criar condições para que outras cidades e regiões tenham o destaque internacional que tanto merecem. Poder realizar os WCA em Viseu e na Região Centro é um sentimento de enorme orgulho e satisfação, e talvez o maior prémio de termos ganho esta organização. Cada dia que passo na região, com os produtores e com as pessoas, cresce a minha admiração e profundo agradecimento por aquilo que melhor representa Portugal: aqueles que, diariamente, muitas vezes enfrentando profundas adversidades e assimetrias, elevam o nome do país, através do seu trabalho, do seu talento, produtores que criam, com as suas próprias mãos, verdadeira riqueza, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento regionais. Viseu e a Região Centro mereciam esta distinção e tenho a certeza de que será impactante, para quem nos visita de fora de Portugal, conhecer esta terra e esta gente.

Que importância pensa que venha a ter para Viseu e para a região da Beira? Acredita que possa ir além da divulgação do setor e dos seus queijos DOP ou de cariz ‘único’ e dar visibilidade a outros produtos endógenos? Ou até a outros setores, como o do turismo?
Tenho a certeza e tudo faremos por isso. Teremos mais de 100 jornalistas internacionais no território ao longo dessa semana, além de influencers e profissionais de quatro continentes, a quem iremos apresentar a região. Nessa semana, teremos o nosso foco, extraconcurso, na promoção das pessoas, do turismo, dos produtos e, numa palavra, do Centro. Esta pode ser a melhor ação de promoção internacional para esta região e espero que possamos contribuir para futuras exportações e ganhos turísticos e de notoriedade.

E, num plano mais alargado, o que poderão Portugal e os produtores a concurso ganhar com a realização deste evento mediático?
Acima de tudo, acredito que ganham dimensão mundial. Viseu é, neste momento, a ‘Capital Mundial do Queijo’ e isso, por si só, já nos garante uma visibilidade internacional que irá perdurar nos próximos anos. Nesse plano mais alargado, os produtores vão ganhar palco internacional para alavancar os seus produtos e marcas, aumentando significativamente o seu espectro de clientes.

 

Sobre o autorAna Grácio Pinto

Ana Grácio Pinto

Carlos Gonçalves, CEO e co-fundador da Casa Mendes Gonçalves
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Carlos Gonçalves: “Não queríamos ser mais um e hoje continuamos a não querer”

Carlos Gonçalves assume plenamente a afirmação que dá titulo a esta entrevista. Mas, com a mesma intensidade, afirma “o orgulho” em que a Casa Mendes Gonçalves seja, há 42 anos, “uma empresa de pessoas”. “Foram as pessoas que nos trouxeram até aqui”.

A Casa Mendes Gonçalves chegou ao mercado há 42 anos e logo com um produto que tanto teve de arriscado como de inovador. O vinagre de figo firmou-se e provou que vale a pena arriscar e diferenciar-se. E os dois fundadores, responsáveis pelo seu lançamento, mostraram que inovar e apoiar a produção nacional, vale ainda mais a pena. “Fazemos as coisas porque nos apaixonamos por elas, porque acreditamos nelas e a nossa história mostra isso. Temos tido sucesso e o sucesso é esse: as pessoas acreditarem e fazerem”, define Carlos Gonçalves, CEO e co-fundador da Casa Mendes Gonçalves nesta entrevista ao Hipersuper.

Fotografias Frame It

Começou ainda adolescente a trabalhar com o seu pai, na produção de vinagres, e decidiram-se pela criação de um vinagre de figo. Essa aposta arriscada, mas ao mesmo tempo inovadora, definiu logo ali o que seria a Casa Mendes Gonçalves?
Sim. Sempre que acompanho uma visita à fábrica e chego à área onde estão os figos, digo que nós temos duas características. Costumo dizer, a brincar, que há 42 anos a palavra inovação só estava no dicionário ninguém a usava. Mas não queríamos ser mais um e hoje continuamos a não querer. Quisemos fazer um produto diferente. A outra característica, que também sempre nos marcou, foi a produção nacional, produzir com matérias-primas nacionais, de perto de nós. E o figo reunia essas duas características: é do concelho de Torres Novas e é um produto bastante diferenciador, com muita qualidade.
E era sempre uma empresa a começar, com um homem de 60 e um miúdo de 15 anos a fazerem uma coisa que ninguém fazia e a adicionarem bastante complexidade e risco. Mas o processo valeu a pena.

Referiu o facto de a empresa apostar nos produtos da região. O crescimento levou a Casa Mendes Gonçalves a diversas geografias e continentes, mas continua a manter-se na Golegã. Esta ligação é também parte do seu percurso de sucesso?
Não só se mantém, como se aprofundou. Nós, empresas familiares, para além de acharmos convictamente que temos uma responsabilidade muito grande, temos também uma facilidade grande de o fazer. Ou seja, por um lado em termos de decisões nós podemos pensar as coisas a médio e longo prazo. Não temos que pensar a quatro anos, a princípio não somos despedidos, ficamos cá, portanto temos essa possibilidade. E hoje em dia esse é um bem enorme, o de poder planear o futuro sem o imediatismo.
Por outro lado, é isso mesmo que diz: nós estamos na nossa terra com a nossa gente, num sítio que conhecemos e isso dá-nos uma vantagem competitiva enorme. Se estivéssemos noutro sítio qualquer não aconteceria. Portanto essas duas coisas juntas dão-nos uma possibilidade de mudar o nosso mundo, como eu costumo dizer.
As empresas familiares têm essa responsabilidade que, no nosso caso, assumimos claramente, de que a sociedade toda evolua connosco e que nós, a cada momento, possamos ser produtores desse desenvolvimento. Não só dar emprego, mas que haja outros negócios à volta. Digo muito convictamente: estaria muito satisfeito se houvesse mais empresas na Golegã e se houvesse empresas maiores que nós. Era sinal que tínhamos feito o nosso papel e já não precisávamos estar sozinhos a ‘puxar a carroça’, já haveria mais gente a puxar.

Carlos Gonçalves, CEO e co-fundador da Casa Mendes Gonçalves


Os molhos foram uma aposta natural para quem já fazia vinagres alimentares ou viram nesse novo produto também uma forma de se diferenciarem?

É um pouco das duas coisas. Por um lado, uma continuidade daquilo que nós fazíamos e de uma empresa que estava mais ou menos ‘esgotada’ por ali. Nós começamos a fazer vinagre, fizemos muitos e diferentes vinagres, embalagens diferentes, negócios diferentes, apareceu a distribuição em Portugal e estávamos em todo lado, fazíamos as nossas marcas, as marcas próprias, até as marcas concorrentes… Portanto, o negócio de vinagre estava muito esgotado e os molhos foram um seguimento natural, dentro da mesma área de negócios, muitas vezes com os mesmos compradores, e uma evolução natural daquilo que fazíamos. E, claramente, uma oportunidade de podermos diferenciar-nos. É isso também com a Paladin e hoje o que trazemos são sabores diferentes, os sabores portugueses. A Paladin, no relançamento, foi muito por aí, por sabores diferentes que não existiam muito ligados ao nosso sabor português e aos nossos ingredientes.

Foi o que viram na Paladin, que adquiriram em 2000? Uma mostarda que podia ‘sair’ do circuito das roulottes, digamos assim, dar origem a uma gama de produtos e ganhar as vendas no retalho?
Quando comprámos a Paladin, tinhamos muito pouco conhecimento da área, mas investimos, começámos a fazer uma fábrica. Digo sempre que sabia menos que zero porque algumas coisas que eu achava que eram certas estavam erradas, portanto, literalmente, sabia menos que zero. Foi um risco grande ir para uma área de negócio muito diferente, muito mais competitiva que o vinagre sem ter esse conhecimento. Mas fomos à procura da oportunidade e rapidamente contratamos colegas com conhecimento e que desenvolveram o negócio aqui em casa.
Quando olhamos para o mercado, estamos perante um mercado bem diferente do tradicional, um mercado muito competitivo dominado pelas grandes multinacionais, muito dinâmico a todos os níveis. E, portanto, uma empresa da Golegã, de Portugal, que estava a começar sem conhecimento nenhum, ir ‘de frente’ seria mais ou menos um suicídio. Mas escolhemos os dois caminhos, de que já falámos hoje, e com muito orgulho continuamos a seguir: a portugalidade – não seria credível que nenhuma multinacional viesse a abrir uma fábrica em Portugal e fazer as coisas com os nossos ingredientes e a inovação/versatilidade, ser rápido a chegar ao mercado.
Como costumo dizer, usando a linguagem futebolística, puxámos o jogo para o nosso lado, para o nosso campo onde tínhamos uma vantagem competitiva. Hoje isso trouxe-nos o ‘prémio supremo’ e que é produzirmos para alguns que eram os nossos concorrentes.
A Paladin era uma marca de mostarda, tinha uma referência no mercado tradicional, e nós vimos a oportunidade de ser a nossa marca dos molhos. A nossa marca era a Peninsular, que estava muito ligada a vinagres, e quando iniciamos os molhos começámos com a Peninsular que era o que tínhamos. Mas rapidamente vimos que a Paladin poderia ser a nossa marca para molhos e também a nossa marca para internacionalizar.

Para além de inovar, também anteciparam tendências…
Sim, é o que procuramos fazer ainda hoje. Temos uma equipa de colegas no departamento de Investigação e Desenvolvimento e as minhas colegas e os meus colegas vão literalmente a todos os cantos do mundo. Procuramos estar atentos às tendências e também procuramos antecipar as tendências da alimentação que hoje são conhecidas e traduzir essas tendências em produtos que sejam fáceis de usar e adaptados aos nossos hábitos de consumo.

Carlos Gonçalves, CEO e co-fundador da Casa Mendes Gonçalves

O que está a mudar na Casa Mendes Gonçalves, que investimentos em sustentabilidade estão a fazer como consequência dos critérios ESG?
Eu prefiro a expressão que usou, ESG, porque traduz melhor. Sustentabilidade começa a ser um termo que quer dizer tudo e não quer dizer nada e principalmente quer dizer greenwashing e nós procuramos estar afastados disso. O que queremos fazer está bem assente nos três pilares ESG. Nós somos uma empresa industrial temos uma pegada, gastamos água, gastamos energia. Queremos, antes de mais, medir o nosso real impacto, criar medidas para reduzir e então se houver algo que nós não consigamos reduzir ou eliminar, compensar. Não lhe vou dizer que todos os nossos telhados têm painéis. Agora ainda estamos a construir mais e já temos os painéis encomendados porque é quase uma obrigação, hoje, fazê-lo.
Olhamos muito para o social, o ‘S’ para nós é fundamental. Temos orgulho em ser uma empresa de pessoas há 42 anos e foram as pessoas que nos trouxeram até aqui. A complexidade que temos na sociedade levou-nos a uma responsabilidade muito maior nessa área. O concelho da Golegã tem cinco mil habitantes e nós empregamos mais de 400 pessoas. Temos refugiados, que recebemos através de um programa em parceria com a fundação Aga Khan, num plano não para um ano ou para quatro anos, mas para 20 anos. Para que as várias crianças que já nasceram na Golegã, daqui a 20 anos possam contar uma história de sucesso. E, noutra vertente, também dos jovens que emigraram. Temos na empresa quatro ou cinco jovens que estavam a trabalhar no estrangeiro e que vieram trabalhar para a nossa empresa. Portanto, não é uma inevitabilidade que os jovens portugueses não voltem, querem voltar desde que nós lhes demos todas as condições. Porque nós temos que valorizar as pessoas pelo rendimento que dão, eu não conheço nenhum país no mundo que se tenha desenvolvido com salários baixos. Temos um plano de alojamento que nunca tinha sido oferecido e vamos estruturá-lo agora melhor, com regras.

Como trabalha a sustentabilidade económica na empresa? Há um foco no reinvestimento dos lucros, por exemplo? As parcerias, quer com a indústria, quer com as insígnias do retalho têm a sua importância, para além da vossa produção própria?
Claro que nós temos de ganhar dinheiro, claro que se temos este projeto de desenvolver as nossas pessoas, de pagar bem às pessoas, de ter esta ação social, a empresa tem que ter resultados. Mas governance é mais do que isso, claro que no fim traduz-se em resultados, mas é ter gente com capacidade, gente com vontade de fazer diferente e gerir bem a empresa em todos os aspetos.
É fazer parcerias, e hoje, cada vez mais, felizmente, se fala nisso. Parcerias com os nossos fornecedores, com os nossos clientes, que nós preferimos chamar parceiros, precisamente por isso. Porque se nós criarmos um produto extraordinário, mas não tivermos matérias-primas, se não tivermos uma prateleira de supermercado para o colocar ou um restaurante, serve-nos de muito pouco. Ali é que efetivamos a nossa criação, é na venda. Portanto tudo isso é governance.
Precisamos investir no desenvolvimento da empresa, continuar a investir em pessoas, em equipamentos, em conhecimento fundamentalmente, e estamos à beira de o fazer. Iremos já no próximo ano, com toda a estrutura, entregar uma parte à sociedade através da nossa fundação. A empresa vai ser da fundação e, portanto, aquilo que já fazemos hoje vamos fazê-lo de uma forma estruturada. Falando, mais uma vez, em governance, todos nós que estamos nesta casa sabemos o fim para o qual estamos a trabalhar, temos muito bem definido o que é que vamos fazer no fim e toda a gente ter isso como foco.

Qual será o principal foco da fundação? A educação, a formação?
Sim, a educação e a formação são, para nós, quase uma obsessão. Mais uma vez digo que não conheço nenhuma sociedade, nenhum país que se desenvolva baseada em salários baixos e também não conheço, na história da humanidade, nada que se desenvolva sem conhecimento. E temos de o trazer às nossas pessoas, à empresa, à nossa região e esse será um drive muito, muito importante.
O outro está relacionado com o princípio da nossa atividade. Nós somos uma agroindústria e precisamos de produtos agrícolas, queremos muito produzir matérias-primas para nós, queremos testar formas de produzir matérias-primas, estamos a falar de qualquer produto agrícola, mas deixando na terra algo mais. Deixando o solo mais rico do que estava hoje e isto através da agricultura regenerativa, mas sempre com o drive do conhecimento, ou seja, vamos buscar o conhecimento onde ele existe hoje, trazer para aqui, testar e difundir. São os dois grandes drives. Queremos construir uma escola que seja para todos.

Carlos Gonçalves, CEO e co-fundador da Casa Mendes GonçalvesSerá no âmbito do projeto Vila Feliz Cidade? O projeto iniciou-se em 2019, mas teve a ideia em 2017. A agricultura regenerativa está a ganhar força a nível global, mas tanto em 2017 como em 2019, esta era uma abordagem de que pouco ou nada se falava. Porque decidiu avançar com este projeto e em que moldes é desenvolvida a parte agroflorestal?
Como digo, quando ouvimos que há algum conhecimento, há alguém que está a fazer alguma coisa diferente em alguma parte do mundo, vamos procurar saber os fundamentos, se realmente está a ter resultados, se é baseado em ciência vamos aprender e vamos testar. Adquirimos uma área com esse objetivo e estamos a utilizar 33 hectares, porque só tomaremos os outros 20 daqui a algum tempo.
Começámos por plantar os nossos pimentos picantes, fizemos 20 e tal variedades porque queríamos testar, ver as condições, ver os rendimentos. O próximo em que vamos investir é mostarda, muito nesta vertente da agricultura regenerativa, de proximidade, o terreno está aqui ao lado. Em relação aos pimentos picantes, por exemplo, posso lhe dizer que comprávamos fora, na América do Sul, uma grande parte e hoje produzimos aqui em agricultura regenerativa e conseguimos ser competitivos.
O que nós procuramos fazer, desse nosso projeto regenerativo, é criar modelos de negócio que sejam rentáveis para quem faz. Também queremos atrair jovens, atrair pessoas para o fazer, o nosso projeto é muito este: testar, comprovar e ensinar para que outros façam, para criarmos massa crítica com produtores à nossa volta, e, portanto, se queremos ter produtores à nossa volta, eles têm de ter rendimento. As pessoas que trabalham no campo, que fornecem as matérias-primas, têm que viver melhor, têm que ter um rendimento da sua atividade e com os pimentos comprovamos que isso é possível: é possível comprar em condições competitivas e ter um produto melhor porque está próximo e porque é colhido e processado logo para a indústria.
Tivemos uma reunião com um grande produtor local, o engenheiro João Coimbra, para testarmos a mostarda, que, para além de todas estas questões, vem de longe, vem do Canadá. Queremos trazer (a produção) para perto em parceria com outros agricultores de preferência aqui ao lado. Se trouxermos para Portugal é bom, se trouxermos para o Ribatejo é melhor, se trouxermos para a Golegã é melhor ainda.

A escola que referiu seria construída dentro do espaço do projeto?
Sim, porque tenho realmente este foco grande na escola. O projeto é de uma escola para os filhos dos meus colegas. Um berçário, um infantário, uma escola do primeiro ciclo. Com a estrutura que temos e com o apoio da Fundação Aga Khan, e com a credibilidade que o nosso projeto começa a ter, é fazer um projeto que envolva o estado português através do Ministério da Educação e da Segurança Social, a autarquia, a direção de educação da região. Uma iniciativa privada, mas que seja uma escola pública acessível a todos. Estamos a avançar, com conversas concretas com os ministérios para fazer um projeto piloto nesse sentido.

Referiu a questão da procedência das matérias-primas. Com a pandemia e depois com os conflitos externos, o aumento dos preços, como estão a enfrentar a insegurança no fornecimento? É possível encontrar um abastecimento de matérias-primas mais próximas?
É o que estamos a fazer com este projeto. Estamos a testar e a mostrar que é possível fazer isso, trazer as matérias-primas, os circuitos curtos. Falei na mostarda, toda a vida se produziu aqui mostarda e deixou-se de produzir por qualquer razão que o homem há-de explicar. Com a guerra Rússia-Ucrânia, para ter uma noção, 52% do nosso negócio desapareceu naquela primeira noite, não tínhamos matérias-primas para mais de metade do que nós fazemos. Como deve calcular, foi uma noite bem passada… na altura tínhamos 300 e tal pessoas e no dia a seguir não tínhamos matéria-prima, não tínhamos óleo, não tínhamos açúcar, não tínhamos amido. Isto faz-nos pensar ainda mais e olhar ainda mais para estas dependências e fazer aquilo que lógico e óbvio. Nós sempre produzimos aqui, temos todas as condições de produzir. E além do mais nós, estando aqui no Vale do Tejo com estas características de terreno, de água e de clima, é quase criminoso não o fazer.

Como conseguiram na altura ultrapassar a falta de matéria-prima?
O mais grave para nós foi o óleo de girassol, que era produzido na Rússia e na Ucrânia – produziam mais de metade do óleo de girassol do mundo – e a outra parte na América do Sul, na Argentina, nomeadamente, e não era época de campanha. Portanto, estávamos na campanha da Ucrânia. A partir do momento em que um grande país produtor é bombardeado e o que o bombardeia é o outro fornecedor, cortam-se os circuitos.
Portanto, deixou de sair naquele dia e foi substituído, talvez 10 dias depois, por óleo de colza, com todos os custos associados, com o triplo do preço, com os racionamentos. Nós mudámos as nossas fórmulas todas, foi um período difícil. Eu digo que começámos a empresa de novo, foi praticamente começar a empresa de novo. Porque, em alguns casos os ingredientes eram transversais a quase tudo o que fazemos e, portanto, tivemos de fazer fórmulas novas, testar. Em alguns casos havia questões legais porque o rótulo dizia óleo de girassol e já não era óleo de girassol, o consumidor ia ver que o sabor era diferente, e o preço.
Mas deixe que lhe diga, porque é justo, que foi notável a união de toda a gente, com a distribuição, com a produção primária, para podermos encontrar soluções. No nosso caso vou-lhe dar um exemplo que compreenderá: o óleo foi para o triplo do preço naquele momento, naqueles 10 dias não havia consumidor nenhum que comprasse uma maionese três vezes mais cara, não é um artigo de necessidade para ninguém. Portanto não nos bastava arranjar uma solução e dizer ‘está aqui a solução e custa três vezes mais’. Tínhamos de arranjar uma solução de preço e a reformulação implicou os ingredientes e implicou também mexer no custo porque havia ali um ingrediente que estava completamente ‘disparatado’.

Carlos Gonçalves, CEO e co-fundador da Casa Mendes Gonçalves


Depois de passar por uma situação difícil, era compreensível que adiasse investimentos. Entretanto decide investir numa participação na empresa britânica a Rubies in the Rubble, da qual a Casa Mendes Gonçalves já era fornecedora – neste caso do tomate que está na base do ketchup da marca britânica que foi considerado o melhor ketchup do Reino Unido, pelo jornal The Sunday Times. O que levou a esse investimento?

Procuramos fazer esses investimentos e ter essa clarividência e, lá está, nas empresas familiares é mais fácil. Não cortamos nas pessoas nem cortamos nos investimentos porque estava em causa o nosso futuro e se cortássemos naquela altura iríamos pagar caro mais à frente. E a Rubies in the Rubble é um pouco isso, é continuar a investir naquilo em que acreditamos.
A Rubies teve a ideia de fazer, na altura, chutneys e depois quando conhecemos e com o Eng. Martin Stilwell, que investiu connosco, a Rubies criou esta fórmula com tomate português e com fruta portuguesa, maçã, pera, para substituir o açúcar. E o prémio supremo foi ser considerado o melhor ketchup no Reino Unido com a qualidade do nosso tomate. Tudo aquilo que tenho estado a dizer, dos circuitos curtos, de produzir perto, de transformar imediatamente, obteve esse prémio lá e esperamos que um dia o tenha cá também.

O investimento nessa empresa tem a ver com um plano de expansão da Casa Mendes Gonçalves?
Tem a ver com esta ideia que temos sempre presente de que conseguimos realmente levar pelo mundo o que são os nossos sabores, o que é a qualidade dos nossos produtos, dos nossos ingredientes. E com a inovação de fazer um produto mass market com o desperdício alimentar e com as nossas matérias-primas. Portanto, é um win-win que nós acreditamos que podemos trazer agora para Portugal e levar para outros países. Porque acreditamos que é possível levar a mensagem de que um produto realmente de grande qualidade, e um produto agrícola tão banal como o tomate, pode fazer um ketchup muito bom e que as frutas que nós deitamos fora quase como uma inevitabilidade podem se tornar um ingrediente bom para a saúde porque evitam açúcar e dão um sabor ainda mais extraordinário ao produto.

Em termos de investimentos há projetos que estejam a desenvolver ou que vão iniciar?
Sim, nós não cortamos nos investimentos e estamos a admitir pessoas. Nesta área de tendências dos produtos fermentados, fruto de projetos de investigação e desenvolvimento que tivemos, neste caso com a Sonae e com o ISA, vamos lançar produtos nessa área. Toda esta tendência de produtos mais naturais, com mais sabor e com ingredientes naturais, é a nossa área de negócios em formatos mais ‘amigáveis’ do consumidor e da restauração, que é um negócio cada vez mais importante para nós.
Hoje com a alimentação cada vez mais vegetariana nós olhamos para isso, entramos nessa área. Portanto se há um consumidor que é vegan, que quer um molho vegan, vamos fazer um molho vegan; se é vegetariano, vamos fazer um molho vegetariano.

No âmbito do vosso plano de internacionalização, quanto representam os mercados externos?
Representam 20%, mas queremos chegar, em quatro, cinco anos, aos 40%, 50% do nosso volume de negócios.

Nesse sentido haverá uma aposta em novos mercados ou o foco é crescer onde estão?
Nós queremos consolidar. Nesta lógica de ficarmos por cá mais 400 anos (risos), temos tempo e nesta lógica de a nossa administração não precisar mostrar resultados imediatos, também temos tempo.
Veja o que aconteceu com a Paladin. Tivemos um plano, demorou anos a chegar até aqui, fizemos todo um caminho e criamos todo um plano. Se formos aqui para o lado, eles são cinco vezes maiores que nós, não vamos ser importantes lá porque somos portugueses. Com certeza temos de fazer um trabalho pensado e demorado no tempo. Olhamos muito para reforçar aquilo que temos e aquilo que acreditamos que vai ser importante para nós, ou seja, Marrocos, Espanha, o Médio Oriente, cada um num segmento. Na Europa fazer aquilo que nós fazemos aqui: parcerias fortes com empresas de distribuição que acreditem no que nós fazemos. Ou seja, que a sinergia seja com a qualidade, com os produtos e não seja com o preço.
Deixe-me dar o exemplo da Rubies in the Rubble: não foi chegarmos lá e ganharmos o prémio. Estamos há anos a fornecer para a empresa, precisámos ser relevantes, e precisaram conhecer o que fazíamos para nos dar esse prémio.

Daqui a 42 anos e mais 42 anos, onde estará a Casa Mendes Gonçalves? Qual é o caminho que está a traçar e que espera que a Casa Mendes Gonçalves siga quando já não tiver o Carlos Gonçalves a administrá-la?
Já tem esse caminho e não é por eu cá estar. Agora, estamos a fazer estes projetos, a pensar no ketchup, no piripiri, amanhã serão outros. Eu digo que temos de trabalhar o ESG e a inovação e acredito que a esmagadora maioria dos meus colegas e das minhas colegas estão cá por isso. Nós temos de desenvolver a sociedade, acreditamos que é o certo e acreditamos que temos de ser honestos connosco próprios antes de mais nada. Se fizermos isso vamos ter sucesso. Amanhã estaremos, como estamos hoje, a fazer produtos inovadores. Quando nós lançamos a Paladin fizemos coisas que nunca ninguém tinha feito, quando nós nascemos fizemos coisas que nunca ninguém tinha feito e isso faz-se não porque se estala os dedos ou se vai meditar para o Monte Evereste e se tem uma ideia. Isto faz-se porque se tem um plano e porque as pessoas estão bem, porque se sentem bem aqui, porque são livres de errar.
Mas, fundamentalmente, nós queremos realmente mudar o mundo começando por mudar o nosso mundo. Não sei se teremos capacidade de mudar o mundo, provavelmente não; mudar o nosso, temos. E isso é o que esta empresa vai ser, vai ser uma fundação, primeiro que mais, vai entregar os seus rendimentos a uma fundação e vai desenvolver a sua terra a sua região, o seu país. Acreditando, porque se não acreditássemos nisso, nada valia a pena.
Fazemos as coisas porque nos apaixonamos por elas, porque acreditamos nelas e a nossa história mostra isso. Temos tido sucesso e o sucesso é esse: as pessoas acreditarem e fazerem.

Esta entrevista foi publicada na edição 426 do Hipersuper

 

Sobre o autorAna Grácio Pinto

Ana Grácio Pinto

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Gonçalo Santos Andrade: “Vamos fazer história!”

Em entrevista ao Hipersuper, Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, antecipa um momento histórico para o setor com a maior representação de sempre de empresas portuguesas na edição de 2024 da Fruit Attraction, em Madrid: 54 participantes e um stand de 708m2.

Quais as expetativas para esta edição da Fruit Attraction? A presença portuguesa mostra a força das nossas empresas nestes setores?
As expectativas da Portugal Fresh para esta edição da Fruit Attraction de 2024 são muito altas. Nunca ocupámos tanta área, nem participámos com um número tão elevado de empresas como este ano. Vamos fazer história! O stand conjunto ocupa a maior área de sempre – 708 metros quadrados – e conta com a presença recorde de 54 empresas, organizações e associações de produtores e parceiros. Iremos, juntos, promover as frutas e legumes produzidos em Portugal com uma presença forte na capital espanhola, que mostra bem o dinamismo deste setor.

O objetivo passa por reforçar e procurar novos mercados mas a Portugal Fresh faz mais nesta feira: divulga Portugal. Também passa por aí o sucesso da presença em Madrid?
Sem dúvida. A presença em Madrid permite-nos demonstrar como a aposta na qualidade, na segurança alimentar e na tecnologia do nosso modelo agrícola também são as nossas vantagens competitivas. Debaixo de um único chapéu, promovemos Portugal de forma muito mais eficaz e impactante.

As exportações de frutas, legumes e flores cresceram 13,4% nos primeiros seis meses do ano, face ao mesmo período do ano anterior. A presença em feiras internacionais como a Fruit Attraction fazem a diferença nestes resultados?
As principais feiras internacionais são autênticos centros de negócios onde temos acesso aos principais compradores internacionais. O grande objetivo é maximizar o valor à produção, procurando canais e soluções com valor acrescentado.
As vendas para os mercados externos crescem consecutivamente desde 2010, ano em que a Portugal Fresh foi criada. Em 2022, atingimos o marco histórico dos 2000 milhões de euros de exportações; em 2023 este valor aumentou para os 2303 milhões de euros. Queremos aproveitar todo o potencial do nosso país, onde a produção de frutas, legumes e plantas ornamentais está avaliada em 5000 milhões de euros (dados de 2023).
O grande objetivo da Portugal Fresh é reforçar a competitividade das empresas. E a promoção feita de forma conjunta e estruturada tem trazido inúmeras vantagens, não só em termos de rentabilização de custos e recursos, mas também no que toca à visibilidade da presença de Portugal. Passam milhares de visitantes por estas feiras empresariais e é aqui que se reúnem os principais players mundiais.

Como trabalha a Portugal Fresh para a internacionalização do setor?
Para continuar a ajudar as empresas a crescer, a Portugal Fresh tem em curso um Projeto Conjunto de Internacionalização para 2023-2025, apoiado pelo Portugal 2030 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, e que prevê um investimento global de 1.561.663,52€ euros, financiado em 48,8% pelo FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Além da presença na Fruit Logistica, em Berlim, na Fruit Attraction, em Madrid, e na IPM Essen, realizamos missões empresariais e ações de prospeção nos Estados Unidos, Chile, Índia e Polónia. Este ano, em Abril, participámos na 1ª edição da Fruit Attraction em São Paulo, no Brasil.
A nossa aposta é consolidar clientes nos mercados com maior volume de vendas, nos países onde o PIB per capita é mais elevado e também em cidades onde a presença da comunidade portuguesa é relevante. Abordamos ainda geografias com crescimento demográfico e com elevada concentração de consumidores, atrativas quer do ponto de vista logístico, quer económico. Países como o Luxemburgo, a Irlanda, a Suíça, o Qatar e a Noruega entram nas nossas prioridades devido ao PIB que apresentam. Já Nova Deli e Bombaim, na Índia, Tóquio, no Japão, Cidade do México, no México, e São Paulo, no Brasil, são atrativas pela demografia e logística.

As expectativas são de crescimento nas exportações mas para isso não chega a aposta em inovação e tecnologia. A disponibilidade de recursos hídricos é uma preocupação urgente?
Muito urgente. A evolução positiva das exportações precisa de ser acompanhada por investimentos concretos no acesso à água e na gestão dos recursos hídricos. Esta é a nossa principal batalha pois, sem uma gestão adequada da água, dificilmente conseguimos superar metas, crescer e ganhar maior competitividade. Temos vindo a defender, repetidamente, que é urgente avançar com a modernização da área de regadio existente para evitar perdas de água na distribuição antes de chegarem aos agricultores.
É urgente um plano estratégico nacional para a gestão deste tema. É urgente a criação de uma via verde para a construção de charcas e reservatórios de água e a construção de barragens para múltiplos fins. Este é um tema que continuará no topo das preocupações.

O que nos torna mais competitivos que outros países exportadores? De que forma os produtos deste setor se diferenciam?
Pela sua localização, Portugal possui um clima único na Europa e com forte influência do Atlântico. Esta diferenciação climática traz-nos, não só, qualidade e sabor, como nos permite produzir, por exemplo, framboesa na região do Sudoeste Alentejano durante as 52 semanas do ano. O clima ameno e mais estável ao longo do ano, com temperaturas não muito altas no verão e não muito baixas no inverno é uma grande vantagem competitiva. Permite-nos prolongar mais as campanhas. Ao mesmo tempo, também nos destacamos pela diversificação da oferta. Além dos pequenos frutos, distinguimo-nos na produção de tomate, citrinos, peras e maças, hortícolas, etc. A qualidade e o sabor são outros dois ingredientes fundamentais em que a produção nacional dá cartas.

Sobre o autorAna Rita Almeida

Ana Rita Almeida

Entrevista

“O e-commerce é uma realidade cuja posição pretendemos reforçar no imediato”

Pedro Subtil destaca o crescimento financeiro do Grupo os Mosqueteiros em Portugal e sublinha que estes resultados mostram um desempenho positivo, destacando-se a contínua expansão e o fortalecimento da presença no mercado português.

Em entrevista ao Hipersuper, o presidente do Grupo os Mosqueteiros em Portugal comenta os resultados de 2023, destacando um crescimento sólido com um volume de negócios de 2,9 mil milhões de euros, um aumento de 7,8% face ao ano anterior. O Grupo, que gerou mais de 350 novos postos de trabalho e inaugurou 10 novas lojas, totalizando 357 pontos de venda, reafirma o seu compromisso com a expansão no país. Pedro Subtil aborda também os desafios da estrutura de gestão descentralizada e os planos ambiciosos para 2024, incluindo a abertura de novas lojas e o reforço do comércio eletrónico.

Quais os principais resultados do Grupo os Mosqueteiros em Portugal em 2023? Como compara com os anos anteriores?
Em 2023, o Grupo os Mosqueteiros em Portugal obteve resultados significativos, registando um volume de negócios de 2,9 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de 7,8% em comparação com 2022.
Além do crescimento financeiro, o Grupo inaugurou 10 novas lojas, totalizando 357 pontos de venda e criou mais de 350 novos postos de trabalho, fechando o ano com mais de 14 500 colaboradores. Estes resultados mostram um desempenho positivo, destacando-se a contínua expansão e o fortalecimento da presença no mercado português.

Quais foram os dados de crescimento para cada uma das insígnias – Intermarché, Bricomarché e Roady – em 2023? Destaca alguma?
Em 2023, o Intermarché cresceu 7,7%, atingindo um volume de negócios de 2,8 mil milhões de euros. O Bricomarché registou um crescimento de 7,3%, com um volume de negócios de 184 milhões de euros. A insígnia que se destacou particularmente foi a Roady, com um crescimento de 11%, alcançando um volume de negócios de 48 milhões de euros

A estrutura organizacional do Grupo os Mosqueteiros distingue-se no mercado. Quais são as principais vantagens e desafios deste modelo de gestão para o Intermarché em Portugal?
A estrutura organizacional do Grupo os Mosqueteiros distingue-se no mercado pela sua gestão global partilhada pelos proprietários das lojas, mais de 287 aderentes, que operam de forma independente. Este modelo de gestão oferece diversas vantagens e desafios para o Grupo em Portugal. As principais vantagens incluem a proximidade com as comunidades, onde os proprietários das lojas, sendo parte das comunidades locais, conseguem adaptar a oferta às necessidades específicas dos clientes, garantindo um serviço mais personalizado e próximo. Além disso, a autonomia e flexibilidade proporcionadas pela independência dos empresários permitem uma rápida adaptação às mudanças do mercado e uma gestão mais ágil, que pode responder eficazmente a desafios e oportunidades locais. Outra vantagem é o compromisso e envolvimento dos proprietários, que, sendo também gestores, têm um elevado nível de compromisso com o sucesso das suas lojas, resultando em melhor atendimento ao cliente e eficiência operacional.
Adicionalmente, o Grupo os Mosqueteiros está em contínuo desenvolvimento e sempre aberto a todos os que desejem investir no seu próprio negócio. Oferecemos a oportunidade para empreendedores se tornarem parte de uma rede sólida e bem-sucedida, beneficiando da notoriedade, apoio logístico e comercial de um grupo internacional. Esta estrutura permite que os empreendedores tenham o seu próprio negócio, integrando uma estrutura comum que facilita o crescimento e sucesso no competitivo mercado de retalho.

Houve mudanças nos canais de distribuição em 2023? Que papel desempenha o comércio eletrónico na estratégia do grupo?
O e-commerce é, sem dúvida, uma realidade cuja posição pretendemos reforçar no imediato. Sabemos o quanto o consumidor valoriza a conveniência, a poupança de tempo e a rapidez de compra e de entrega, se associarmos a isso a oferta qualitativa e de baixo preço do Intermarché teremos os drivers essenciais para continuar a desenvolver este canal com sucesso.
Em 2023 tivemos uma nova ferramenta a reforçar os nossos canais de distribuição através de uma parceria de sucesso com a Uber Eats.
Temos já um conjunto de cerca de 70 lojas podendo por agora chegar às 120. Disponibilizamos uma gama de cerca de 9500 referências e estimamos ficar próximos de duplicar o nosso volume de negócio face a 2023. São dados muito interessantes e embora ainda exista um longo caminho a percorrer é um exemplo de que estamos empenhados em introduzir este e outros serviços, para atingir o sucesso e a modernidade nos canais de distribuição da nossa insígnia.

Como avalia o impacto da situação económica atual em Portugal nas operações do grupo? Que medidas têm sido tomadas para mitigar esses impactos?
A situação económica atual em Portugal apresenta desafios significativos, especialmente para as famílias, e o Grupo os Mosqueteiros está plenamente consciente do impacto que isso tem nas suas operações. Para mitigar esses impactos, temos implementado várias estratégias e campanhas destinadas a defender o poder de compra dos consumidores, que é uma prioridade no nosso posicionamento.
Uma das principais medidas é o nosso “Compromisso”, que se foca em garantir preços acessíveis e justos, sem comprometer a qualidade dos produtos. Além disso, o grupo tem investido fortemente no desenvolvimento de produtos da marca própria Por Si, que oferecem uma excelente relação qualidade-preço e são uma alternativa competitiva para os consumidores que procuram poupar sem abdicar da qualidade.
Este enfoque na defesa do poder de compra dos consumidores está no ADN do Grupo os Mosqueteiros, desde sempre, pelo que continuamos comprometidos em apoiar as famílias portuguesas durante tempos económicos desafiantes, mantendo o nosso compromisso com a qualidade e a acessibilidade.

Quais os planos para 2024 quando falamos de abertura de lojas? Qual o investimento previsto?
Para 2024, o Grupo os Mosqueteiros tem um plano ambicioso que faz parte de uma estratégia de crescimento para os próximos anos. Estamos a planear abrir cerca de 15 novas lojas por ano, ao longo de cinco anos, o que resultará na criação de aproximadamente 3.000 postos de trabalho durante este período, ou seja, uma média de 500 novos empregos por ano. Este plano de expansão prevê um investimento na ordem dos 240 milhões para os próximos 5 anos.
Este investimento permitirá não apenas a expansão do nosso parque de lojas, mas também fomentará o empreendedorismo, ao recrutar novos aderentes que terão a oportunidade de criar o seu próprio negócio. Acreditamos que esta estratégia contribuirá significativamente para o desenvolvimento da economia local, enquanto dinamiza a nossa relação comercial com parceiros e fornecedores.

Como olha para a compra por parte da Auchan da totalidade da operação do Grupo Dia em Portugal? O Intermarché cai no ranking. Como olha para estes números?
A aquisição do Grupo Dia em Portugal pela Auchan, validada pela Autoridade da Concorrência, representa uma mudança significativa no panorama do retalho nacional. No entanto, no Intermarché, estamos confiantes na solidez da nossa estratégia de proximidade e na oferta de produtos de qualidade a preços acessíveis, o que nos permitirá continuar a fortalecer a nossa posição no mercado.
Desde a nossa chegada a Portugal em 1991, temo-nos focado em estar próximos dos nossos clientes, oferecendo uma experiência de compra diferenciada. A nossa presença de norte a sul do país, aliada à dedicação à sustentabilidade e à adaptação às especificidades de cada região, são pilares fundamentais que nos permitem manter a confiança dos nossos clientes. Mesmo com esta mudança, acreditamos que a nossa abordagem única continuará a ser uma escolha preferencial para muitos consumidores.

Apesar do crescimento, a verdade é que o Intermarché tem perdido quota de mercado. Qual a estratégia para combater esta perda?
Para enfrentar esta nova realidade competitiva, o Intermarché está a adotar várias estratégias, incluindo a expansão contínua da nossa rede de lojas. Desde o início do ano, já abrimos três novas lojas Intermarché.
Estamos a apostar também num novo conceito de loja, com um forte investimento no novo conceito “Feito Aqui”, com comida fresca e saudável preparada no local, com uma oferta de uma ampla variedade de receitas. A aposta no segmento de refeições de qualidade é complementada com a secção de “Pronto a Comer”, que disponibiliza uma seleção de produtos frescos e congelados, projetada para atender à crescente procura por opções rápidas e saudáveis. Outra característica distintiva deste novo conceito de loja são as novas secções que apresentam uma oferta exclusiva de queijos de corte, frutas e legumes, garrafeira refrigerada, refeições frescas e talho, proporcionando uma variedade de produtos que refletem as tradições culinárias locais e internacionais.
Estamos também a investir em inovação e tecnologia para melhorar a experiência de compra dos nossos clientes, além de reforçar o nosso compromisso com práticas sustentáveis e responsabilidade social. Acreditamos que estas iniciativas, juntamente com o nosso foco na qualidade dos produtos e no serviço ao cliente, nos permitirão manter uma posição sólida entre os líderes do mercado e continuar a crescer de forma significativa em Portugal.

O Intermarché valoriza as comunidades locais onde cada loja está inserida. Como é que o Intermarché garante a valorização, por exemplo, dos mercados de proximidade?
O Intermarché valoriza as comunidades locais onde cada loja está inserida, e esforça-se para se adaptar às necessidades específicas dessas comunidades de diversas formas. Um dos principais exemplos é o nosso apoio contínuo a associações e coletividades locais. Ao colaborar com estas organizações, conseguimos responder a necessidades específicas e contribuir para o bem-estar social e cultural das áreas em que operamos.
Além disso, valorizamos também os produtores locais através do nosso “Programa Origens”, que promove e integra produtos nacionais nas nossas lojas. Este programa permite que os clientes tenham acesso a produtos frescos e autênticos, diretamente dos produtores locais, enquanto ajuda a fortalecer a economia local.

Qual o balanço quando falamos de novas lojas? Quais são os planos de expansão do grupo para 2024? Estão previstas novas aberturas de lojas?
O balanço em termos de novas lojas tem sido positivo, alinhado com o nosso plano de crescimento. Temos um business plan que projeta a abertura de cerca de 15 lojas por ano ao longo de cinco anos, abrangendo as três insígnias do grupo: Intermarché, BricoMarché e Roady. Este plano de expansão está em plena execução, refletindo o nosso compromisso com o crescimento e a consolidação da nossa presença em Portugal.
Para 2024, mantemos a nossa estratégia de expansão, com um investimento anual entre 17 e 20 milhões de euros, destinados à abertura de novas lojas, valores que fazem parte de um plano mais amplo de investimento de 240 milhões de euros ao longo de cinco anos, que permitirá reforçar a nossa rede e criar novas oportunidades de emprego e negócios em diversas regiões. Estamos empenhados em continuar a crescer de forma sustentável e a fortalecer o nosso impacto económico e social nas comunidades onde operamos.

A inovação é um fator de diferenciação. Como trabalham este eixo para se distinguirem no mercado português?
A inovação é, de facto, um dos pilares fundamentais que nos permite distinguir no mercado português. No Intermarché, trabalhamos constantemente para introduzir novos conceitos e produtos que atendam às necessidades em evolução dos nossos clientes e nos permitam destacar da concorrência.
Uma das formas como incorporamos a inovação é através do desenvolvimento de novos conceitos de loja que melhoram a experiência de compra dos nossos clientes. Estas inovações incluem o design moderno das lojas, a introdução de serviços como o self check-out para tornar o processo de compra mais eficiente e rápido, e as novas secções que apresentam uma oferta exclusiva de queijos de corte, frutas e legumes, garrafeira refrigerada, refeições frescas e talho, proporcionando uma variedade de produtos que refletem as tradições culinárias locais e internacionais.
Além disso, os novos produtos “Por Si” reflete também o nosso compromisso com a inovação. Esta gama de produtos é cuidadosamente desenvolvida para oferecer qualidade e valor, adaptando-se às tendências de consumo e preferências dos clientes. Estamos sempre atentos às mudanças no mercado e às expectativas dos consumidores, o que nos permite introduzir produtos que não só satisfazem as suas necessidades, mas também lhes oferecem novas experiências.
Ao focarmo-nos na inovação contínua, garantimos que o Intermarché permanece na vanguarda do setor de retalho em Portugal, proporcionando aos nossos clientes soluções que realmente fazem a diferença nas suas vidas diárias.

Gostava de falar mais dos produtos PorSi. Qual o peso de vendas desta marca? Representa um aumento?
Os produtos da marca PorSi têm tido um impacto significativo nas vendas do Grupo os Mosqueteiros. Em 2023, a marca PorSi atingiu um volume de negócios de 395 milhões de euros, o que representa uma progressão de 18,05% em relação ao ano anterior. Este aumento demonstra a crescente popularidade e aceitação dos produtos da marca entre os consumidores, que valorizam a combinação de qualidade e preço acessível que a marca oferece.
A marca PorSi tem-se destacado ao proporcionar uma vasta gama de produtos que se alinham com as necessidades e preferências dos nossos clientes. Este crescimento contínuo reforça o nosso compromisso em expandir e melhorar a oferta de produtos, garantindo que continuamos a satisfazer as expectativas dos consumidores e a consolidar a nossa posição no mercado.

Os planos passam por aumentar esta oferta? Quais os segmentos? Alternativas saudáveis, por exemplo?
Sim, os nossos planos incluem expandir a nossa oferta, especialmente em segmentos que refletem as tendências atuais de consumo, como as alternativas saudáveis. Estamos comprometidos em oferecer uma variedade ainda maior de produtos que atendam às crescentes preocupações dos consumidores com a saúde e o bem-estar.
Uma parte importante desta estratégia é o desenvolvimento e expansão das nossas gamas “Por Si Viva Bem” e “Por Si Bio”. A linha “Por Si Viva Bem” é focada em proporcionar opções alimentares que promovem um estilo de vida saudável, incluindo produtos com menos açúcar, menos gordura e ingredientes mais naturais. Esta gama é ideal para consumidores que procuram melhorar a sua alimentação sem abdicar do sabor e da conveniência.
Por outro lado, a linha “Por Si Bio” é composta por produtos biológicos que atendem aos padrões de produção sustentável e ecológica. Esta gama é direcionada para consumidores que valorizam produtos naturais e ambientalmente responsáveis.
Ao aumentar a nossa oferta nestes segmentos, estamos a responder aos interesses dos nossos clientes, oferecendo-lhes escolhas que se alinham com os seus valores e estilos de vida. Este foco em alternativas saudáveis reflete o nosso compromisso em promover o bem-estar dos nossos clientes e em adaptar-nos às tendências de mercado em constante mudança.

Uma marca que tem sido premiada com prémios como, por exemplo, o Sabor do Ano. Como olham para este reconhecimento?
Para nós, Intermarché, receber prémios como o “Sabor do Ano” é uma validação importante do nosso compromisso com a qualidade e a satisfação dos nossos consumidores. Este tipo de reconhecimento reforça a nossa dedicação em manter elevados padrões de excelência em todas as etapas, desde a seleção de produtos até à experiência final do cliente. Vemos estas distinções como uma motivação adicional para continuar a melhorar e inovar, garantindo que os nossos produtos não só atendem, mas superam as expectativas dos nossos clientes.
Estes prémios também refletem o esforço e a paixão da nossa equipa, que trabalha incansavelmente para assegurar que cada produto cumpre os mais altos padrões de qualidade e sabor. Continuaremos a investir em qualidade, inovação e sustentabilidade, pois acreditamos que estes são os pilares essenciais para manter e expandir o nosso sucesso no mercado.

E a marca de vinhos Seleção de Enófilos que conheceu um novo conceito em 2023. Qual o balanço? Foi uma aposta vencedora?
De facto, a nossa marca Seleção de Enófilos apresenta-se rejuvenescida desde o início de 2023, mas mais do que isso a marca tem-se reforçado em gama com uma oferta de regiões demarcadas e monocastas de elevada qualidade.
Tem sido uma aposta ganha, sem dúvida, numa altura em verificamos uma estabilidade das vendas na categoria dos vinhos no mercado, as nossas lojas apresentam o crescimento acima dos 10% em YTD na nossa marca Seleção de Enófilos, o que é bastante significativo e demonstrativo da qualidade dos nossos vinhos.

A aposta na marca própria retira espaço nas prateleiras para marcas de fabricante? Qual a estratégia?
A nossa estratégia no Intermarché é encontrar um equilíbrio entre os produtos de marca própria e as marcas de fabricante, garantindo que oferecemos uma seleção diversificada que se ajusta às necessidades dos nossos clientes. A aposta em produtos de marca própria não visa retirar espaço às marcas de fabricante, mas sim complementar a oferta, proporcionando opções de qualidade a preços competitivos.
A nossa marca própria é desenvolvida com o objetivo de oferecer alternativas que garantam valor e qualidade, atendendo às expectativas dos consumidores que procuram produtos acessíveis sem comprometer os padrões. No entanto, reconhecemos que muitos clientes têm preferências específicas por certas marcas de fabricante, pelo que continuamos a dar-lhes um espaço importante nas nossas prateleiras.
Ao manter este equilíbrio, conseguimos responder de forma eficaz às diferentes expectativas e necessidades dos consumidores, assegurando que todos encontram o que procuram nas nossas lojas. Esta abordagem permite-nos oferecer uma experiência de compra completa, que combina variedade, qualidade e valor.

Que ações de responsabilidade social o grupo desenvolveu em 2023? Quais são os planos para 2024 nesta área?
Em 2023, desenvolvemos várias ações de responsabilidade social no Grupo os Mosqueteiros, focadas principalmente em apoiar a comunidade local, promover a sustentabilidade e criar impacto positivo nas regiões onde operamos. Em 2023, contámos com mais de 3 milhões de euros em donativos nos mais de 362 pontos de venda das nossas três insígnias e nas estruturas centrais, no seguimento do nosso compromisso contínuo para com as comunidades.
As nossas iniciativas contribuíram também para a criação de emprego, apoio à produção nacional e colaboração com instituições locais para dinamizar o tecido económico e social. Trabalhámos para garantir práticas sustentáveis em todas as nossas operações, assegurando um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação ambiental.
Para 2024, pretendemos intensificar os nossos esforços na área da responsabilidade social, continuando a apoiar causas locais e expandindo as nossas iniciativas de sustentabilidade. O nosso compromisso é contribuir ainda mais para o desenvolvimento económico das regiões onde estamos presentes, sempre com um enfoque no bem-estar social e na preservação ambiental.

Hoje investir nos colaboradores é cada vez mais valorizado. Como trabalham este eixo? Existem programas de formação ou outras iniciativas de desenvolvimento de recursos humanos por exemplo?
Valorizamos o investimento nos nossos colaboradores e acreditamos que isso é essencial para o sucesso a longo prazo. Trabalhamos este eixo através de várias iniciativas focadas em proporcionar uma qualidade de vida no trabalho otimizada, com benefícios centrados em três pilares: bem-estar do colaborador, família e saúde.
Oferecemos uma variedade de programas de formação em várias áreas, permitindo que os nossos colaboradores desenvolvam novas competências e cresçam profissionalmente. Acreditamos que a formação contínua é fundamental para preparar os nossos colaboradores para os desafios futuros e garantir um crescimento sustentável do grupo. Em 2023, o Grupo os Mosqueteiros reforçou o seu compromisso com o desenvolvimento dos recursos humanos através de um protocolo de formação com o CECOA, destinado a fortalecer as competências dos colaboradores e melhorar a sua competitividade.
Além disso, introduzimos benefícios como dias de férias suplementares, reconhecendo a importância do descanso e da recuperação para a produtividade e satisfação no trabalho. Também oferecemos a possibilidade de teletrabalho, permitindo que os colaboradores conciliem melhor a vida pessoal e profissional, e proporcionamos acesso a seguros de saúde, assegurando o bem-estar físico e mental dos nossos colaboradores. Com estas e outras iniciativas, o Grupo os Mosqueteiros reforça o seu compromisso com a qualidade de vida no trabalho, garantindo que os colaboradores se sintam valorizados e motivados.

Mais de 100 lojas do Grupo os Mosqueteiros receberam o selo PME Líder. Qual o real significado desta distinção?
Este reconhecimento destaca o mérito e desempenho excecionais das nossas lojas. O selo PME Líder reconhece a excelência operacional e a robustez financeira, bem como as estratégias de crescimento sólidas que implementamos, que nos permitem enfrentar e responder eficazmente às exigências do mercado. Este reconhecimento reforça a confiança do mercado nas nossas empresas, aumentando a nossa reputação e credibilidade junto de clientes e parceiros, abrindo portas a novas oportunidades de negócio e melhores condições de negociação.
Além disso, o selo sublinha o nosso compromisso com a sustentabilidade, inovação e qualidade na gestão, espelhando o impacto positivo que temos na economia local através da criação de emprego e apoio à produção nacional e instituições locais. Trabalhamos diariamente para garantir que as nossas lojas dinamizem o tecido económico e social nas comunidades onde operamos.
Esta distinção serve de incentivo para continuarmos a elevar os padrões de excelência que nos caracterizam, sempre com o objetivo de superar as expectativas dos nossos clientes e contribuir para o desenvolvimento económico das comunidades onde estamos presentes.

Qual é a sua visão para o futuro do Grupo os Mosqueteiros em Portugal? Onde vê o Grupo, por exemplo, daqui a cinco anos?
A nossa visão para o futuro do Grupo os Mosqueteiros em Portugal é continuar a fortalecer a nossa presença no país, mantendo sempre o ADN que nos caracteriza. Planeamos investir significativamente tanto a nível nacional como regional, com a abertura de cerca de 80 novas lojas nos próximos anos, o que contribuirá para o desenvolvimento económico local.
Ao expandir a nossa rede de lojas, não só criaremos novos postos de trabalho para colaboradores, mas também ofereceremos oportunidades para empresários que queiram aderir ao nosso grupo e abrir o seu próprio negócio. Este crescimento permitirá criar valor não apenas para a empresa, mas também para o país e para as pessoas, incluindo colaboradores, clientes e empresários.
O nosso objetivo é continuar a apoiar as comunidades locais, promovendo parcerias que incentivem o consumo de produtos regionais e ajudem a dinamizar as economias locais. Daqui a cinco anos, vejo o Grupo os Mosqueteiros como um líder ainda mais consolidado no mercado português, reconhecido pelo seu compromisso com a qualidade, inovação e responsabilidade social, sempre focado em criar valor para todos os que interagem connosco.

 

Sobre o autorAna Rita Almeida

Ana Rita Almeida

Alimentar

“Portugal está no top seis dos países produtores de pera da Europa”

“A DOP Pera Rocha do Oeste tem sido determinante para o setor”, sublinha ao Hipersuper, Filipe Ribeiro, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha (ANP), associação que representa cerca de 90% da produção de pera em Portugal.

Portugal é um dos principais produtores de pera da Europa. Quanto representa a produção nacional em percentagem do global europeu? E o que faz de Portugal um grande produtor?
Portugal está no top seis dos países produtores de pera da Europa, a par da Bélgica, Holanda, França, Espanha e Itália, oscilando a posição entre o quarto e o quinto lugar conforme os anos. Em 2023 produzimos 8% do total das peras europeias, que acaba por ser um valor relevante, tendo em conta a quebra da colheita e o facto de em área sermos comparativamente mais pequenos que os outros países produtores e a produção praticamente se restringirem à Região Oeste.
Portugal é um grande produtor porque a variedade Rocha constitui uma das mais importantes em termos de produção a seguir à Conference e Williams. Além disso temos a capacidade de fornecer uma parte importante do mercado nacional e também uma grande capacidade de exportação, sendo um importante fornecedor quer do mercado europeu, estando presente em importantes cadeias de supermercados, mas também de mercados fora da Europa. No que toca à Pera Rocha, a preferência dos consumidores internacionais extravasa o denominado ‘mercado da saudade’ e é um dos produtos agrícolas referência de Portugal.
No mercado nacional a DOP Pera Rocha do Oeste tem sido determinante para o setor, porque a marca coletiva Rocha do Oeste tem uma importante aceitação no mercado e tem unido os produtores em torno de estratégias comuns em termos daquilo que o consumidor encontra no supermercado, quer ao nível da imagem, mas também ao nível da qualidade. No mercado externo tem sido importante em mercados específicos como é o caso do alemão, que é muito exigente. Noutros mercados o facto de ser Rocha e das suas características únicas em termos de sabor, qualidade, resistência ao transporte e longa-vida de prateleira tem sido por si só uma mais-valia.

Que desafios estão a trazer, e irão trazer, as alterações climáticas à produção de Pera Rocha? E de que forma os produtores estão a preparar-se?
As alterações climáticas têm trazido desafios sobretudo a três níveis: instabilidade na quantidade da produção, devido a condições climáticas anormais nas várias fases do ciclo produtivo – por exemplo falta de horas de frio no inverno, calor anormal na fase da floração ou seca devido à falta de precipitação; impacto das doenças, em consequência de condições climáticas propicias à sua proliferação; a ocorrência de fenómenos extremos.
A estes acrescem as restrições ao nível da utilização de substâncias ativas determinantes para o setor, que reduzem as ferramentas disponíveis no combate a pragas e doenças e que podem trazer consequências muito negativas ao nível da capacidade da União Europeia de produzir os seus próprios alimentos, obrigando a importar produtos de geografias com regras e controlo menos apertado.
No que toca à instabilidade da produção decorrente de condições climáticas anormais a atuação é limitada, porque são circunstâncias impossíveis de controlar ou de prever. Relativamente às doenças, para além da investigação em torno de novos instrumentos de luta, há ainda o projeto de ‘Melhoramento da Pera Rocha’, que o INIAV vai desenvolver em parceria com a ANP. Procuramos também, em conjunto com outros parceiros, criar condições para que os nossos técnicos possam comunicar entre si sobre as melhores práticas culturais.
No caso dos fenómenos extremos, do qual o escaldão do ano passado foi a situação mais recente e complexa, a solução poderá passar pela colocação de redes de proteção -complexa num momento em que a rentabilidade do setor está abalada pela redução da produção – e pela inclusão do escaldão nos riscos cobertos pelos seguros de colheita bonificados do IFAP para a fruticultura, situação que não se verifica atualmente e cuja alteração já solicitamos ao Ministério da Agricultura.

Nesse sentido, o que vai ser desenvolvido ao abrigo do Memorando de Entendimento que a ANP assinou com o INIAV?
O Memorando de Entendimento que a ANP assinou com o INIAV assume o compromisso conjunto de executar o Programa de Melhoramento Genético da Pera Rocha. Trata-se de uma iniciativa determinante para o setor e cuja concretização, com bons resultados, esperamos, será o grande desafio da década para o setor.
O Programa tem o objetivo de encontrar uma ou mais soluções de pereira, Rocha, de preferência) com maior resistência ao fogo bacteriano e estenfiliose, e que em simultâneo tenham produção adequada em termos de qualidade e quantidade.

Que outros desafios se apresentam ao setor? E que oportunidades?
O maior desafio neste momento é conseguir produzir Pera Rocha de qualidade e em quantidade. Mas existem outros, nomeadamente assegurar a rentabilidade dos produtores e da atividade, o rejuvenescimento do setor, a gestão da água, a comunicação e a promoção no mercado interno e externo, só para citar alguns.
Se conseguirmos ultrapassar os desafios elencados teremos um mundo de oportunidades: reforçar a presença em alguns mercados europeus, chegar a novos mercados…

Para a colheita de 2024, a ANP antecipou que a produção nacional de Pera Rocha deverá recuperar face a 2023 (á semelhança de Itália e França), mas que continuará longe do seu potencial médio de produção. Confirma que ficará 35% abaixo de um ano normal? E quanto deverá aumentar, em relação a 2023?
Aquilo que podemos apresentar neste momento é uma previsão, com base na situação atual e no seu desenvolvimento expectável. Isto é, se a produção continuar a evoluir normalmente pensamos atingir as 123 mil toneladas, considerando o universo dos associados da ANP, que representam cerca de 90% da produção de pera em Portugal.
Estamos a mais de um mês da colheita e até lá muito pode acontecer. Exemplo disso foi a colheita de 2023, em que a produção real ficou aquém do que era expectável resultado principalmente do escaldão ocorrido em agosto e da evolução negativa de questões fitossanitárias.

Que balanço faz do Interpera 2024 (Congresso Internacional da Pera)?
O balanço é mesmo muito positivo. Para além do número de participantes – tivemos a maior afluência de sempre, desde que começou o Interpera, o que atesta um setor atento e informado em Portugal – foram apresentadas as primeiras perspetivas relativamente à campanha de 2024 que são um foco importante de debate deste evento e foram abordados assuntos determinantes para o setor e os seus envolvidos. Saliento ainda o quão este evento contribuiu para o networking e o estreitar de relações com os nossos parceiros das várias áreas e o sentimento de que a Pera Rocha do Oeste é um produto nacional fundamental, que importa defender e valorizar.
Não posso deixar de mencionar a presença do ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, que deixou uma mensagem de apelo à entreajuda entre todos os profissionais para enfrentar os desafios do setor e realçou a necessidade de valorizar e defender o produto Pera Rocha que é, em si, parte de Portugal e uma mais-valia ligada ao nosso território. O Interpera foi também uma oportunidade para mostrarmos o contexto da nossa Pera Rocha para o mercado externo, em termos de produção, conservação e investigação.

Quais são as tendências atuais para o consumo de pera que o congresso trouxe a palco?
Esse foi precisamente um dos temas abordados no Interpera. Dados da consultora alemã AMI dão conta da tendência de redução do consumo de pera, por oposição ao crescimento das ‘frutas da moda’. O caminho para inverter, ou pelo menos, atenuar, esta tendência pode passar pela promoção e comunicação nacional e internacional, que é uma necessidade que a ANP tem bem identificada em relação à Pera Rocha.

Há expectativa de aumento de volume e valor na exportação em 2024? Qual foi o volume e receitas geradas em 2023?
O volume de exportação está dependente da quantidade que conseguirmos produzir. Em anos de baixa produção, como foram os casos de 2022 e 2023, o setor mantém o compromisso de fornecimento do mercado nacional, mesmo que em termos de rentabilidade isso se traduza em resultados menos positivos, pelo que a exportação nos últimos três anos rondou os 60%. Ainda não temos fechados os números da campanha de 2023/2024, mas o volume de receita rondará os 85 milhões de euros.

Para quantos países é exportada a Pera Rocha e quais são os principais mercados? Há novos mercados em potencial, de entrada e/ou de crescimento?
Nos últimos anos a Pera Rocha foi exportada para 20 países com três destinos a assumirem uma posição de destaque (90%) no ranking: 50% Europa, nomeadamente Reino Unido, Espanha, França e Alemanha, 20% para o Brasil e 20% para Marrocos.
Enquanto a produção se mantiver abaixo do potencial produtivo não faz sentido procurar novos mercados, uma vez que a capacidade de fornecer os mercados tradicionais é limitada.

Entrevista publicada na edição 425.

 

 

Sobre o autorAna Grácio Pinto

Ana Grácio Pinto

Christelle Domingos, diretora executiva da InovCluster

Christelle Domingos, diretora executiva da InovCluster

Entrevista

“Projeto Export.i9 foi renovado e atualizado para enfrentar os desafios da internacionalização das PMEs”

O export.i9 foi renovado. Fomos conversar com Christelle Domingos, diretora executiva  da InovCluster, que sublinha a importância deste projeto.

O projeto export.i9, promovido pela InovCluster – Associação do Cluster Agroindustrial do Centro, surge renovado com uma imagem moderna e um enfoque nos desafios do futuro, reforçando o seu compromisso na internacionalização e digitalização das pequenas e médias empresas (PME).

Em que consiste o projeto Export.i9 e quais os principais objetivos desta iniciativa?
O projeto Export.i9 é uma iniciativa da InovCluster, Associação do Cluster Agroindustrial do Centro, focada na promoção da internacionalização das Pequenas e Médias Empresas (PMEs) do setor agroalimentar. Esta iniciativa visa proporcionar às empresas portuguesas os recursos, conhecimentos e suporte necessários para expandir seus negócios para mercados internacionais, melhorando a sua competitividade e inovação.
Podemos afirmar que os principais objetivos do projeto Export.i9 incluem o apoio à Internacionalização ao ajudar as PMEs a entrar em novos mercados internacionais através de estratégias de exportação bem definidas; A Capacitação e Formação ao proporcionar às empresas participantes conhecimentos e ferramentas necessários para a exportação, incluindo formação sobre mercados-alvo, regulamentações internacionais, e práticas de comércio exterior; a dinamização de Missões Empresariais e Feiras Internacionais ao organizar a participação em feiras internacionais, missões empresariais e encontros B2B (business-to-business) para promover produtos e estabelecer contatos com potenciais parceiros e clientes no exterior; a Promoção e Marketing Internacional por desenvolver campanhas de marketing e promoção nos mercados internacionais para aumentar a visibilidade e a competitividade dos produtos portugueses e por fim, Incentivar a inovação no desenvolvimento de novos produtos e processos, adaptando-os às preferências e exigências dos mercados internacionais.
A InovCluster atua como facilitadora nesse processo, oferecendo suporte técnico, logístico e estratégico para que as empresas possam superar as barreiras e aproveitar as oportunidades no mercado global. O projeto é cofinanciado por fundos comunitários, o que permite uma redução significativa dos custos para as empresas participantes.

De que forma o Export.i9 foi renovado para responder aos desafios atuais e de futuro?
O projeto Export.i9 da InovCluster foi renovado e atualizado para enfrentar os desafios atuais e futuros da internacionalização das PMEs do setor agroalimentar, considerando as mudanças no ambiente global, tecnológico e económico.
A renovação deveu-se sobretudo à forte aposta numa campanha de comunicação, com incidência numa imagem mais moderna e numa linguagem clara e objetiva que permita associar os reais benefícios deste projeto.
Não obstante, o Export.i9 renova-se também ao integrar as tecnologias digitais de forma transversal em todas as suas ações, quer seja através de um maior foco no desenvolvimento de capacidades das empresas para a venda online, na implementação de estratégias avançadas de marketing digital e na dinamização de ações business to business através de Plataformas de Networking Digital. Na verdade, estes são apenas alguns dos exemplos que garantem que as empresas estejam preparadas para os desafios atuais e futuros, equipando-as com as ferramentas, conhecimentos e recursos necessários para prosperar num ambiente empresarial global e em constante mudança.

Quais são as principais mudanças na identidade gráfica e visual do Export.i9 e como estas impactam a estratégia de comunicação?
A criação de uma identidade gráfica e visual ao projeto conjunto de internacionalização da InovCluster, materializado através do Export.i9, surgiu da necessidade de modernizarmos a imagem deste nosso setor de atividade, para além de alinhar-se às tendências atuais de design, refletindo melhor os valores e os objetivos deste projeto. Sabemos que um logotipo moderno e distinto e a definição de materiais de comunicação coerentes, facilita o reconhecimento imediato do projeto em diversos contextos, desde os documentos oficiais até aos materiais promocionais.
Ao adotar um design mais limpo, slogans sonantes, elementos gráficos modernos e um layout responsivo, o Export.i9 torna-se mais atraente e eficaz na transmissão de suas mensagens. Essas melhorias impactam positivamente a estratégia de comunicação do projeto, aumentando o seu reconhecimento e reforçando a imagem de inovação e profissionalismo do projeto e da própria InovCluster como um todo.
Tal como as empresas precisam de se reinventar e estar em permanente atualização para se manterem competitivas no mercado global, também nós o assumimos que para a nossa dinâmica organizacional, é importante para nós que as PME e os nossos associados continuem a ver em nós, o parceiro ideal e de proximidade, para a dinamização dos seus projetos.

Pode detalhar os tipos de apoios disponíveis para as PME no âmbito do Export.i9?
O projeto é cofinanciado por fundos comunitários, o que proporciona um suporte financeiro importante para as PMEs, reduzindo assim os riscos e custos associados à internacionalização.
Este apoio poderá ir até 50% de financiamento (com um custo elegível máximo) para as suas participações em feiras internacionais, missões empresariais e missões inversas.

Quais são os mercados-alvo prioritários para o Export.i9 e porquê?
Da experiência e conhecimento recolhidos nos projetos conjuntos de internacionalização realizados desde 2013 e da análise da evolução dos mercados do setor, selecionamos para o Export.i9 um conjunto de mercados-alvo que estimamos terem maior impacto para uma internacionalização bem-sucedida das PME. Foram privilegiadas participações em certames de referência nos quais, em específico, a InovCluster já tem larga experiência e contatos profissionais e onde a presença do setor agroalimentar ou da indústria de refrigeração para o setor alimentar tem maior visibilidade, de referir também que as escolhas destes mercados se prendem essencialmente pela proximidade geográfica e cultural, o que facilita a entrada e a adaptação dos produtos portugueses. É por isso que ao nível de Feiras Internacionais, o foco serão os mercados mais sofisticados da Alemanha, Espanha, Suécia e Espanha, Missões Empresariais o foco será os mercados da América do Norte, China e Emirados Árabes Unidos. No que concerne às reuniões B2B que irão contar com grupos alargados de participantes estrangeiros, em específico com compradores/importadores de plataformas de venda-online, permitirá o contacto direto com os mercados alvo, nomeadamente França, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Noruega, Camarões, Omã, Jordânia, El Salvador e Tailândia, que impulsiona uma abordagem complementar à abordagem digital que as empresas possam já ter iniciado anteriormente. A dinâmica de pré-agendamento de reuniões, aliado à possibilidade de degustação de produtos das empresas, num mesmo local, permitirá a rentabilização de tempo e de recursos financeiros aliados às deslocações efetuadas para um só local, abordando diferentes mercados externos.
Referir que as motivações para a escolha destes mercados, de forma geral, basearam-se por serem mercados com alto potencial de consumo com grandes populações e uma classe média crescente que busca produtos de qualidade.

Que tipos de ações complementares ao apoio presencial estão previstas no Export.i9, e como estas podem beneficiar as PME?
Para complementar o apoio presencial, o projeto Export.i9 da InovCluster oferece diversas ações que visam maximizar os benefícios para as PMEs do setor agroalimentar. Estas ações complementares são essenciais para fornecer um suporte contínuo e abrangente, garantindo que as empresas estejam preparadas para enfrentar os desafios da internacionalização de forma eficaz. Assim, para além da participação em feiras internacionais, o projeto Export.i9 envolve uma variedade de outras iniciativas destinadas a apoiar a internacionalização das PMEs do setor agroalimentar, como é o caso das Missões Empresariais Virtuais a mercados estratégicos, onde as empresas têm a oportunidade de reunir com potenciais parceiros, clientes e distribuidores, conhecer as condições locais e realizar reuniões de negócios; Encontros B2B (Business-to-Business) onde as PMEs podem ter reuniões diretas com compradores internacionais, importadores e distribuidores. Essas reuniões são cuidadosamente organizadas para maximizar as oportunidades de negócios; Ciclo de Workshops de Capacitação para a Digitalização em Internacionalização com o objetivo de preparar as PME para uma internacionalização de sucesso suportada em ferramentas e processos digitais.
Todas estas iniciativas abrangem uma ampla gama de serviços e suporte, com o objetivo de proporcionar às PMEs as ferramentas e os conhecimentos necessários para competir com sucesso no mercado global. A InovCluster atua como um facilitador e um parceiro estratégico, oferecendo um apoio integrado que abrange desde a formação e capacitação até ao desenvolvimento de negócios internacionais.

Como é que a InovCluster facilita a participação das PME em feiras internacionais e qual a importância desta participação?
A InovCluster desempenha um papel crucial na facilitação da participação das PMEs em feiras internacionais, oferecendo um conjunto abrangente de apoios e serviços que tornam este processo mais acessível e eficaz. É por isso que, a participação conjunta em certames internacionais de renome permite às PME poderem aceder a um serviço “chave da mão” que envolve toda a organização logística do evento, que vai desde a conceção gráfica da imagem corporativa, como a montagem de stand, entre outros aspetos. Para além de que, o facto de a participação estar integrada neste projeto, como já tive oportunidade de referir, permite às PME poderem usufruir de um apoio que pode ir até aos 50% dos custos de participação, sendo que nestes casos, auxiliando a InovCluster em todo este processo. Também não posso deixar de referir o apoio que prestamos no antes e após, mas sobretudo também no decorrer da feira para ajudar as empresas com questões logísticas, tradução ou outros aspetos operacionais que se revelem necessários.
No que concerne à importância destas participações, assumimos que para muitas PME estes podem revelar-se investimentos significativos, mas não posso deixar de defender que para quem almeja conquistar novos mercados, trata-se de uma etapa fundamental, e quase que ouso dizer, necessária, para atingir tais objetivos. A participação em feiras permite às PMEs apresentarem os seus produtos e serviços a um público global, aumentando a visibilidade e reconhecimento da marca para além de reforçar a credibilidade e reputação da empresa, posicionando-a como um player sério no mercado global. Para além de que, o fortalecimento de relações comerciais, a geração de leads e novas oportunidades de negócio, são alguns dos outros aspetos que identificamos da participação. Apenas para concluir, não posso deixar de referir a necessidade de um bom follow up no pós-feira, trabalhando bem todos contactos efetuados, e aqui nunca podemos considerar como tempo perdido. É aqui que, a meu ver, reside muitas vazes a chave do sucesso destas participações.

As ferramentas digitais, como lojas online e marketplaces, podem ser fulcrais no processo de internacionalização das PME?
É importante salientar antes de mais que InovCluster tem desempenhado um papel fundamental no apoio prestado às PMEs para se posicionarem nos canais online para a venda internacional, não só através do Export.i9 mas também através dos vários projetos que tem em curso e que visam o reforço da digitalização por parte dos seus Associados.
É por isso importante referir que as ferramentas digitais, como lojas online e marketplaces, são fundamentais no processo de internacionalização das PMEs já que proporcionam várias vantagens que podem impulsionar a presença global das empresas, aumentar a eficiência operacional e melhorar a competitividade no mercado internacional.
Neste sentido o Export.i9 disponibiliza apoios financeiros para a criação de lojas online e presenças em plataformas Marketplace, prestando também todo o suporte necessário para a identificação das melhores práticas para a criação e gestão de lojas online, plataformas de e-commerce e marketplaces internacionais.
Sabemos que uma loja online permite que as PMEs alcancem consumidores em qualquer parte do mundo, 24 horas por dia, 7 dias por semana e facilita a entrada em múltiplos mercados de forma simultânea, diversificando a carteira de clientes e reduzindo a dependência num único mercado. Relativamente à presença em Marketplaces permite que as PME estejam presentes em plataformas com grande tráfego de visitantes, proporcionando uma maior visibilidade para os seus produtos aumentando assim a probabilidade de vendas sem a necessidade de construir um público do zero.
Com este apoio a InovCluster pretende assegurar que as PME estejam adaptadas para atrair clientes internacionais com reduzidos custos operacionais e gestão simplificada. Essas ferramentas digitais não apenas facilitam a expansão internacional, mas também ajudam as PME a competir de forma mais eficiente e sustentável no mercado global.
Por fim apenas referir que estão idealizados vários workshops, que irão funcionar em formato webinar, para ajudar as empresas a desenvolverem estratégias eficazes de marketing online. Isso abrange SEO (otimização para motores de busca), SEM (marketing em motores de busca), marketing de conteúdo, redes sociais e campanhas de email marketing.

Quais são os principais desafios que as PME enfrentam na internacionalização e como o Export.i9 pode ajudar a superá-los?
A internacionalização das PME apresenta uma série de desafios que podem dificultar a expansão para mercados estrangeiros, tendo sido nessa base que que o projeto Export.i9 da InovCluster foi concebido: para ajudar as PME a superar esses obstáculos através de uma série de apoios e serviços especializados. Sabemos que muitas PMEs do setor agroalimentar têm capacidade de produção e qualidade nos seus produtos, mas enfrentam dificuldades quando se trata de penetrar mercados internacionais devido à falta de conhecimento, experiência e recursos financeiros. Sabemos também que a competição no mercado interno é intensa, e a diversificação dos mercados é essencial para a sustentabilidade e o crescimento das empresas. É por isso que. com uma abordagem holística a InovCluster desempenha um papel crucial no apoio à internacionalização das PMEs, quer seja através das ações de workshops que serão disponibilizadas às PMEs, fornecendo com isso conhecimentos sobre os processos de exportação, regulamentações internacionais, estratégias de entrada em novos mercados, e práticas de comércio exterior, mas também pelo facto de organizar e coordenar a participação conjunta de PMEs em missões empresariais, feiras internacionais e eventos de networking. Todas estas atividades são fundamentais para promover os produtos das empresas, estabelecer contactos com potenciais clientes e parceiros, e conhecer as tendências e necessidades dos mercados-alvo. Para além de que, o facto destas ações estarem assentes em participações conjuntas, reduz consideravelmente os custos que participações a este nível que, de forma insolada, teriam para as PME.
Por fim, e não podemos deixar de o referir, ter o apoio da InovCluster para qualquer processo de internacionalização, é sinónimo de garantia de facilitação para a criação de parcerias estratégicas entre as PMEs e outras entidades, tanto a nível nacional como internacional. Estas parcerias podem incluir colaborações com distribuidores, agentes comerciais, importadores, e outras organizações que possam ajudar na expansão das atividades das PMEs nos mercados internacionais.

Sobre o autorAna Rita Almeida

Ana Rita Almeida

Bruno Borges, CEO da da iServices

Entrevista

“Negócio dos recondicionados está em crescimento”

Bruno Borges, CEO da iServices, partilha em entrevista a evolução da empresa e os ambiciosos planos de expansão que incluem a abertura de novas lojas e a criação de novos empregos até ao final de 2024.

A iServices abriu recentemente a sua quinta loja na Bélgica, consolidando a sua estratégia de internacionalização. Este marco é acompanhado pelo o Atelier iS, um projeto pioneiro que permite a personalização de equipamentos. Em entrevista ao Hipersuper, Bruno Borges, CEO da empresa portuguesa de serviços centrados na reparação de equipamentos de telecomunicações e informática multimarca, partilha a evolução da empresa e os ambiciosos planos de expansão que incluem a abertura de novas lojas e a criação de novos empregos até ao final de 2024. Marca do universo Sonae, a iServices conta atualmente com mais de 300 colaboradores e está presente com mais de 60 lojas em Portugal Continental, Açores, Madeira, Espanha, Ilhas Canárias, França e Bélgica.

A iServices nasceu em 2011. Hoje o seu negócio vai muito mais além que o da reparação. Como olha para este percurso?
A iServices é sobretudo um negócio de confiança e compromisso com os nossos clientes. Foram os clientes que nos ajudaram a definir o percurso, por essa razão hoje temos 3 áreas de negócio: marca de acessórios iS com 2500 referências distintas que são o reflexo dos desejos e necessidades expressos pelos nossos clientes, os recondicionados com 3 anos de garantia iServices e as reparações em 20 a 30 minutos, graças ao vasto stock de peças que temos disponível em cada loja.
Embora continuemos a atrair novos clientes todos os dias, valorizamos especialmente a lealdade dos nossos clientes que continuam a voltar às nossas lojas sempre que precisam.

Têm crescido de forma sustentada. Quanto representam as vendas das lojas físicas e do online?
As vendas online representam aproximadamente 20% do total, enquanto as lojas físicas correspondem a cerca de 80%. No entanto, é importante destacar que o nosso principal foco está nas reparações, que é o cerne do nosso negócio. Portanto, em termos de receita gerada pelas reparações, as lojas físicas representam 100% das vendas.

Que tendências identifica no segmento de smartphones? Por exemplo, o negócio dos recondicionados está a crescer?
O negócio dos recondicionados está em crescimento por duas razões. Primeiramente, devido ao facto dos fabricantes não apresentarem a evolução que poderiam apresentar para justificar a aquisição de um novo modelo e, para além disso, os equipamentos que vendemos têm uma qualidade excecional, que nos permite dar 3 anos de garantia e proporcionar ao cliente uma sensação de confiança. Como resultado, observamos uma tendência crescente do negócio dos recondicionados.
Atualmente as marcas precisam oferecer incentivos para os consumidores trocarem os seus equipamentos antigos por modelos mais recentes, caso contrário, as pessoas continuarão a optar pelos smartphones recondicionados, considerando-os como a opção mais vantajosa em termos de custo-benefício.

Qual a estratégia de abertura de pontos de venda em Portugal?
A estratégia de abertura de pontos de venda em Portugal está sobretudo relacionada com a questão demográfica e com a demanda existente em cada região. Avaliamos o número de habitantes em cada localização, além de monitorizarmos diariamente a procura no nosso website, de modo a apurar onde estão localizados potenciais clientes. Com base nesses dados, identificamos as áreas onde ainda não estamos presentes e onde há uma maior procura pelos nossos serviços.
Ainda este ano, contamos abrir mais 15 lojas em Portugal. O nosso foco principal de investimento encontra-se nos concelhos ou distritos onde ainda não estamos presentes e podemos vir a fazer a diferença, como é o caso da região do Algarve, onde atualmente apenas contamos com 3 lojas. Estamos comprometidos em expandir a nossa presença para atender melhor às necessidades dos clientes e alcançar um público mais amplo em todo o país.

O Atelier iS surgiu como? A personalização é uma tendência que vai crescer?
As primeiras experiências de personalização surgiram há, aproximadamente, 8 ou 9 anos. Naquela época, a tecnologia era semelhante à que temos hoje, embora com máquinas menos eficientes, resultando em processos mais demorados. Atualmente, o Atelier iS leva apenas 7 minutos para produzir uma capa personalizada para o cliente.
Consideramos que esta tecnologia é uma mais-valia para o nosso negócio, proporcionando aos clientes a oportunidade de personalizar as suas capas de forma rápida e conveniente.

Qual a estratégia para este projeto pioneiro? Vai ser uma aposta internacional e nacional?
Inicialmente, o projeto foi uma aposta internacional, motivada principalmente pela curiosidade e pelo facto de dispormos de uma loja em Bruxelas, no Woluwe Shopping, muito espaçosa e com condições para implementar o Atelier iS.
Após isso estamos a replicar o Atlier iS em diversas lojas de Portugal como é o caso da loja do NorteShopping, do Colombo e do Forum Almada.
Esta estratégia reflete o nosso compromisso em oferecer uma experiência única aos nossos clientes, tanto a nível nacional como internacional.

Quais foram os principais fatores que motivaram a decisão de internacionalizar a marca iServices e como essa estratégia se alinha com os objetivos da empresa?
A decisão de internacionalizar a iServices foi motivada por uma série de fatores ao longo do tempo. Em primeiro lugar, recebemos feedback positivo de clientes, amigos e conhecidos que nos incentivaram a expandir para diversos países.
Além disso, algumas empresas abordaram-nos com propostas para franquear o nosso negócio, embora não tenhamos adotado esse formato. Para além disso, durante as nossas viagens, observámos a ausência de conceitos semelhantes ao nosso, o que nos levou a considerar a oportunidade de preencher essa lacuna. Foi, portanto, uma ideia que foi amadurecendo ao longo dos anos e que acabou por ser recentemente implementada. No entanto, a nossa estratégia de internacionalização não se limita aos países onde já estamos presentes, Espanha, França e Bélgica queremos ir mais além e sempre garantindo que mantemos o mesmo padrão de serviço e excelência que temos em Portugal.

Como o processo de seleção de novos mercados para a internacionalização foi conduzido? Existem critérios específicos ou indicadores de mercado que influenciaram a escolha dos mercados alvo?
São vários os critérios e os indicadores de mercado que influenciaram a nossa escolha. Por um lado, consideramos a viabilidade do mercado e procuramos geografias pouco saturadas onde o conceito da iServices se possa destacar. Por outro lado, estamos sempre atentos aos mercados europeus, especialmente porque vendemos através de diversas plataformas para toda a Europa. Contudo, é importante referir que a expansão da iServices na Europa, como a conhecemos atualmente, está sujeita a mudanças no futuro. Estamos abertos a explorar diferentes vias de expansão e podemos considerar a entrada em vários países de acordo com as oportunidades e as necessidades do mercado.

Olhando para o futuro, há planos para expandir a presença internacional para outros países ou regiões? Quais são as expectativas e metas para os próximos anos no contexto da internacionalização?
O nosso objetivo primordial passa por consolidar o funcionamento das lojas que temos no estrangeiro e trabalhar a credibilidade e a visibilidade da marca. Para além disso, estamos constantemente a avaliar novas oportunidades de expansão noutros países e regiões. Temos identificado diversas geografias não só na Europa, mas também a nível mundial.
Garantidamente que não vamos ficar limitados aos 4 países onde já estamos presentes atualmente, sendo o nosso objetivo desenvolver uma estratégia de expansão internacional que nos permita alcançar novos mercados e atender às necessidades globais, mantendo sempre a identidade iServices.

Esta entrevista foi publicada na edição 424.

Sobre o autorAna Rita Almeida

Ana Rita Almeida

Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca

Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca

Entrevista

“Temos que apostar mais nas marcas portuguesas”

“Se nós queremos crescer enquanto economia, se queremos que a nossa economia seja uma economia de valor, temos que apostar mais nas marcas portuguesas, criar marcas em Portugal, fazer de Portugal a base para o lançamento de marcas para mercados internacionais”, defende Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca em entrevista.

Fundada em 1994, a Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, está a celebrar 30 anos. Mantém a missão de criar para as marcas um ambiente de concorrência leal, que encoraje a inovação e garanta um máximo valor aos consumidores. E defende um país que, para além de produzir bem, crie marcas que centrem essa produção. “Se nós queremos crescer enquanto economia, se queremos que a nossa economia seja uma economia de valor, temos que apostar mais nas marcas portuguesas, criar marcas em Portugal, fazer de Portugal a base para o lançamento de marcas para mercados internacionais”, defende Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca em entrevista.

A Centromarca foi criada com o objetivo de estudar, em conjunto, os problemas que afetam a marca e coordenar os esforços para lhes dar uma resposta eficaz. Congrega, atualmente, 50 associados que detêm mais de 800 marcas e tem um volume de vendas anual no mercado nacional da ordem dos 6000 milhões de euros.

Tradição e inovação são duas características das marcas portuguesas. Temos marcas quase centenárias, outras centenárias, outras bicentenárias. Que, apesar das dificuldades e desafios, mantêm-se. Num mundo global, competitivo a vários níveis, num país que tem passado por desafios económicos, as marcas portuguesas tradicionais são um case study, em sobrevivência e adaptação?
Sim, são. E temos, como referia, várias marcas que são históricas, marcas que têm percurso. Algumas, inclusive, que não são hoje detidas por empresas portuguesas, mas são marcas portuguesas. Há marcas que são internacionais, mas que os portugueses assumem quase como suas, porque os acompanharam na vida toda.
Nós tivemos um mercado, e temos um mercado, que enquanto dimensão nacional é relativamente pequeno. Um mercado que, até há 20 ou 30 anos, era relativamente suficiente para algumas das nossas marcas, mas começa a ser relativamente pequeno para muitos produtos e por isso hoje a necessidade, de muitas destas marcas que querem sobreviver e querem continuar, de pensar não apenas no consumidor português, não apenas no mercado português, mas no mercado muito mais globalizado.
Pedro Pimentel, diretor geral da CentromarcaPor isso, a grande questão que eu diria que Portugal vive é a nossa economia. Quando olhamos para a economia como um todo, percebemos que apesar de termos setores fortemente exportadores, nesses setores as marcas não são um ponto forte. Nós somos um país que produz imenso para marcas de grande qualidade para o mundo todo, mas temos poucas marcas portuguesas com expressão internacional e muito menos com expressão global.
Por isso, na Centromarca tentamos fazer essa pedagogia todos os dias. Se nós queremos crescer enquanto economia, se nós queremos que a nossa economia seja uma economia de valor, nós temos que apostar mais nas marcas portuguesas, criar marcas em Portugal, fazer de Portugal a base para o lançamento de marcas para mercados internacionais e sabemos que isso é um investimento muito caro, logicamente. Não é fácil. Quem já está no mercado, e as marcas que nós conhecemos da vida toda que já estão no mercado, têm sempre uma vantagem, relativamente a qualquer marca que chegue. Nós temos marcas que para nós são muito conhecidas, mas são muito conhecidas num espaço pequeno e a questão é conseguir fazer com que essas marcas adquiram tração e adquiram capacidade para entrar em mercados internacionais.
Logicamente, nós começamos sempre por mercados que conhecemos melhor ou por proporção de proximidade ou mercados onde, por exemplo, a comunidade portuguesa tem alguma presença, mas isso não chega. Tem que ser mais do que isto, temos que fazer mais do que isto. E, nesse ponto, julgo que há um ponto de viragem. Sentimos nestes últimos quatro ou cinco anos que há um movimento de reaproximação das produções relativamente ao consumo. Há a perceção hoje, cada vez mais, de que eu não posso estar completamente dependente de mercados que em termos de abastecimento estão a cinco mil quilómetros de distância e que, por vicissitudes de segurança, pandemias, etc., de repente há problemas de abastecimento. Por isso, hoje, mesmo as grandes marcas internacionais começam a perceber que a proximidade é importante do ponto de vista da produção. Produzir na Europa pode ser muito mais interessante que produzir no Médio Oriente ou no Extremo Oriente por uma questão de proximidade. E, nesse ponto, Portugal, como qualquer outro país da Europa, mas Portugal, até pela posição geográfica que tem, acaba por ter alguma vantagem relativamente a uma situação anterior.
Mas precisamos de marca. Não basta produzir bem. Nós, quando produzimos um fato de homem para uma marca internacional, o fato de homem sai daqui por 15% do preço, que depois é o preço que nós pagamos no mercado, e os 85% estão na marca. Por isso, é importante converter boa produção em marcas nacionais. E isso não tem sido um trabalho fácil.
Acho que em Portugal também temos sempre um bocadinho esta defesa: o mercado é pequenino, tudo é difícil, mas temos de conseguir ultrapassar essas dificuldades. Portugal não é assim tão pequeno. Quando olhamos no espaço da União Europeia, há vários países bastante mais ‘poderosos’ que nós, com populações ainda mais pequenas que nós. É importante nós termos a noção que um mercado interno mais forte ajuda as empresas a terem um trampolim para saltarem. Se eu conseguir gerar aqui mais valias, se eu conseguir gerar aqui riqueza suficiente para poder investir, torna-se mais fácil fazer esse trabalho, saltar do nosso mercado para um mercado mais alto.
Há produtos, por exemplo na área do grande consumo, onde realmente temos uma força grande, no vinho, no azeite, no conserveiro, etc., porque temos alguma especialização, qualidade e alguma diferenciação relativamente a outros mercados, mas isso não chega, tem que ser um bocadinho mais do que isso. Nós falamos muito da ‘Marca Portugal’, mas muito mais importante que a Marca Portugal, é ter aquilo que eu chamo de ‘Portugal de marcas’. Isto é, quando falamos de um país como a Suíça, toda a gente se recorda de marcas que tem, quando falamos da Alemanha, de Dinamarca, nós recordamos marcas, e muitas vezes compramos um produto alemão e dizemos que é bom, não porque ele seja especialmente forte naquela área, mas porque temos a consciência de que é uma marca que vem da Alemanha.
Por isso, é um pouco esta mudança, inclusive do ponto de vista político: percebermos que podemos fazer investimentos grandes em cimento, em máquinas, em estruturas, mas tudo isso perde parte significativa da importância se depois na venda destes produtos nós não conseguimos cativar o valor que a marca significa.

E em Portugal, apesar de todas as dificuldades, há marcas novas inovadoras. O futuro das marcas portuguesas de fabricante tem que obrigatoriamente passar pela inovação?
Eu diria que o futuro de qualquer marca passa sempre pela inovação, por uma razão simples: muitas destas marcas centenárias de que estamos a falar, só são centenárias porque souberam inovar ao longo do tempo. Porque se elas se tivessem mantido a fazer exatamente a mesma coisa que faziam há 100 anos, já tinham morrido.
Há uma segunda questão: acho que a inovação é relevante se nós conseguimos vendê-la. Nós temos muita coisa inovadora do ponto de vista, quer de processo, quer de engenharia, quer de introdução de novos ingredientes. São completamente inovadores, mas depois ninguém sabe. E o problema passa por onde? Porque não há esta diferenciação, não há comunicação. Não há inovação se não houver comunicação. Eu não consigo que uma pessoa me compre um produto inovador se a pessoa não o conhecer.

As empresas tiram pouco partido da comunicação? Da ligação afetiva de portugalidade que as suas marcas têm?
Eu tenho que comunicar a inovação, muitas vezes, quando comunico, também tenho que ser inteligente. Hoje em dia a comunicação já não é como era antes. Nós andamos todos os dias com um telemóvel na mão, que é, se calhar, a porta de entrada de muito que se comunica.
Pedro Pimentel, diretor geral da CentromarcaNós temos muitos produtos que, se produzirem 10 mil unidades, é uma enormidade. E temos outros de que se não se produzir um milhão de unidades, eu nem sequer sobrevivo. Tudo depende do grau de massificação. Por isso, se tenho um produto de consumo alargado, que precisa de um mínimo de escala para trabalhar, eu tenho que ter uma comunicação muito ‘metralhadora’. Mas se eu tiver um produto de nicho, muito focado em determinado tipo de segmento de consumidores, se calhar, tenho que acertar exatamente naqueles consumidores. Hoje fala-se tanto em inteligência artificial, que também vai servir para isso, para personalizar a mensagem.
Mas diria que, para além disso, há uma terceira questão que é muito importante. Hoje, toda a gente fala: o ADN da nossa empresa é a inovação”. Tudo é inovação. E acho que, claramente, o consumidor já não se ‘excita’ só porque dizem que qualquer coisa é nova, que é inovadora. Nós temos que perceber que ela é inovadora, mas tem que ser relevante. Por isso, hoje em dia, uma das grandes dificuldades é conseguir fazer com que uma inovação, seja percebida pelo consumidor como inovadora, seja comunicada como tal, e depois seja entendida como alguma coisa que é relevante.
E só para ter um número, na nossa área de consumo, em cada dez produtos que são lançados num ano, só três é que chegam ao fim do primeiro ano. Menos de dois chegam ao fim do segundo ano. Por isso, há oito, em que se gastou dinheiro, em que se gastou energia, em que se gastou comunicação, que vão para trás. A questão prática é: é possível diminuir a taxa de insucesso? Se calhar diminui-se a taxa de insucesso se se tentar menos, se nós formos mais focados nos produtos.
As marcas têm sempre este papel, responder às minhas necessidades, mas também antecipar as minhas necessidades. Uma marca tem que pensar não no que eu quero hoje, é no que eu vou querer daqui a dois anos. E isso não é fácil. Mas este trabalho que se faz todo o dia, aí sim é onde a inovação entra realmente.

O futuro das marcas, por exemplo no setor alimentar, será trabalhar os produtos de conveniência?
Sim, é a (questão da) relevância. Se eu tiver um produto que é completamente inovador, mas que depois, para o utilizar, tenho que dar 32 passos, tenho que juntar quatro ingredientes diferentes, eu perco-me. Qual é o segmento em Portugal que está a ter maior crescimento no mercado? É a comida pronta. Porquê? Porque as pessoas, no fundo, sabem que se forem, por exemplo, ao Pingo Doce, provavelmente não vão comprar a mesma comida que se forem a um restaurante, mas também vão gastar um dinheiro diferente. Tivemos os dois anos da pandemia, ou o primeiro, da pandemia, em que aparentemente as pessoas adoravam cozinhar e perderam horas infinitas a fazê-lo, mas foram coisas anormais em períodos anormais. Não é o que nós somos. O que nós somos é realmente uma população que tem um tipo de vida em que tenta gastar algum tempo em lazer e depois não queremos gastar todas as horas a cozinhar.
E do lado das empresas, é cada vez mais uma lógica de encontrar soluções. Muitas vezes não é transformar, não é fazer produtos novos, é dar-lhes uma roupagem do ponto de vista da utilização para o consumidor que lhes permita ser uma utilização mais facilitada.

Num artigo que publicou em fevereiro, indicou que desde o final de janeiro e durante cerca de dois meses a Centromarca iria apresentar a associados, e não só, as principais impressões que as dinâmicas do mercado deixaram no universo FMCG ao longo de 2023. Quais são e de que forma vão influenciar em 2024?
Primeiro, nós não trabalhamos só com marcas nacionais, trabalhamos com todo o tipo de marcas. Nos últimos anos, essencialmente nos últimos dois anos, assistimos a um fenómeno que não é português, diria que é muito comum em uma série de grandes países, que é um fenómeno de transferência de consumo, daquilo que nós chamamos de marcas de fabricante para as marcas de distribuidor. E estamos aqui a falar de, diria, três coisas em simultâneo.
Primeiro, estamos a falar de um mercado que, se ganhou o valor, perdeu o volume. Isto é, uma parte dos consumidores em Portugal, muito por força da inflação e dos aumentos de preços, tiveram que fazer opções. Por isso, há aqui uma primeira questão, as escolhas. E essas escolhas, num período como nós tivemos, de inflação muito alta, envolveram o produto, ou seja, que tipo de produtos eu compro; envolveram marcas, que tipo de marcas eu compro; envolveram volumes, quanto é que eu compro. Eu posso comprar uma garrafa de azeite, um frasco de shampoo da marca de que gosto ou de uma marca própria que é mais barata?
Pedro Pimentel, diretor geral da CentromarcaPor isso, houve três efeitos práticos. O que nós chamamos de transferência de marcas, o que nós chamamos de downgrading ou downtrading, que é, no fundo, comprar a mesma quantidade, mas de produtos mais baratos e volumes. E os volumes, em determinados momentos, tiveram quebras muito significativas. Nós chegamos a ter um período, no primeiro semestre do ano passado, em que a quebra de volume, medida, chegou a 8%. É muito. Quando nós estamos a falar de produtos básicos, não estamos a falar de trocar um frigorífico. Estamos a falar de comida, estamos a falar de bebida, estamos a falar de higiene. Esse número, depois, foi tornando-se menos pesado ao longo do ano. Nós já fechámos 2023 com números mais curtos, na ordem dos 3% de quebra, mas chegámos a pontos onde a quebra foi muito alta. E isso tem uma relação com comunicação. Não tem relação direta com a comunicação das marcas, mas tem uma relação direta com aquilo que é a comunicação que nós todos assistimos. Nós tivemos meses, no início do ano, em que inflação era tema ao pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar, de abertura de telejornal, de capa de jornal, de tudo o mais.
Quer dizer, passámos da fase em que os supermercados eram os amigos das famílias portuguesas, para os supermercados serem o sítio onde as pessoas não se sentiam confortáveis. Passámos uma fase em que todas as marcas eram acusadas de estar a tentar roubar, a tentar tirar às pessoas aquilo que as pessoas tão sofridamente ganhavam. E quando este ruído de fundo existe, todos nós acabamos por ser impelidos a fazer um esforço de contenção, um esforço de volume, um esforço do tipo de produtos que consumimos e um esforço das marcas que consumimos.
Por isso, e vou fazer agora aqui um pouco de futurologia, 2024 tem características que podem, não em relação a 2017 ou 2018, mas em relação a 2023, trazer alguns sinais um bocadinho mais positivos.
O primeiro sinal mais positivo é a inflação, hoje é muito mais curta do que era, acho que nós vamos fechar, diria, com alguma probabilidade, vamos fechar 2024 com uma inflação entre os 2 e os 2,5, não tem nada a ver com os 10% a que chegámos no ano passado. Segunda questão, em 2024, muitas pessoas vão ter aumentos salariais que são superiores à inflação, ou seja, como tiveram aumentos salariais bastante inferiores à inflação no ano anterior, e como isto é refletido em termos do ano anterior, faz um bocadinho de sentido perceber isso. Terceiro efeito, vamos ver o que é que a política deixa fazer, mas há claramente uma intenção de haver, pelo menos nos escalões mais baixos, com os menores rendimentos, algum benefício fiscal via IRS. E quarto, e um enorme ponto de interrogação, em Portugal mais de um quarto das famílias portuguesas têm crédito de habitação, o crédito de habitação tem taxas de juros, taxas de juros têm evolução, nós sabemos que as taxas de juros vão baixar, ninguém sabe é quando. Se a decisão de baixa for tomada até no final do semestre, provavelmente no último trimestre de 2024, ainda as pessoas vão ser de alguma forma beneficiadas. Parece que não, mas podemos estar a falar de incrementar o rendimento disponível das pessoas entre 100 e 200 euros por mês. Por isso, estes quatro fatores, sendo que três são basicamente certos e um é incerto, não se sabe quando, fazem com que o mercado, de alguma forma, vá ser um pouco mais favorável do que o ano passado, com as pessoas a terem um poder de compra ligeiramente maior e isso pode ser favorável para o mercado.
Do ponto de vista prático, as marcas têm um problema que eu diria que é o mais importante. As empresas, se querem continuar a ter um papel ativo no mercado, têm que ter um mínimo de vendas, têm que ter um mínimo de produção, por isso vão ter que recuperar uma parte deste mercado. Se o mercado cresce, porque os consumidores consomem mais, nós podemos crescer porque vamos buscar um bocadinho a este adicional. Se o mercado crescer 10% e eu for buscar a minha parte nesses 10%, eu cresço porque o mercado cresce.
Mas nós sabemos que não é certo que o mercado vá crescer. Há produtos em que nós readaptamos o nosso consumo. E para estes mercados, onde o crescimento efetivo não aconteça, vai ser um bocadinho atribulado, quer dizer, alguém vai ter que chegar ali e para eu crescer, alguém vai ter que perder.
Há um fenómeno que eu acho que é muito relevante. Hoje, quando vamos a um espaço comercial, olhamos para a prateleira, o número de referências diferentes, de marcas de diferentes no mercado é cada vez mais curto. Temos uma marca líder, às vezes duas marcas, mas depois quando entramos na escala mais abaixo, é difícil vender porque os produtos não chegam à prateleira, e não havendo na prateleira, eu não compro.
E esse é um problema sério. Temos, de um lado um mercado a crescer por lojas de cadeias, em que o seu sortido são basicamente marcas próprias, e do outro lado temos muitas cadeias que, apesar de terem um sortido muito mais amplo, o que estão a abrir são lojas de pequena dimensão, são lojas ditas de proximidade. São lojas que têm menos metros quadrados. Se têm menos metros quadrados, têm sempre um sortido mais curto. É um desafio difícil num mercado que, do ponto de vista de trend, está muito direcionado para a marca própria. Estes anos acabaram por gerar, do ponto de vista dos consumidores, uma aproximação a modelos de negócios, estamos a falar daquilo que chamamos de sortido curto, discount.
Se for ver os rankings percebe que quem cresce, efetivamente, é essencialmente a Mercadona. E são lojas em que a presença das marcas é muito curtinha. Muito, muito curtinha. E, depois, percebemos que os outros, muitas vezes, em reação a este crescimento das marcas destes retalhistas, também têm políticas suas de crescimento da marca própria.
Isto, do ponto de vista do mercado, tem um efeito, mas, do ponto de vista das marcas de fabricantes, logicamente, tem um efeito muito negativo. As marcas fabricantes vendem mais ou vendem menos, pelas suas estratégias, pela sua capacidade de inovação, pela sua comunicação. Mas, todas elas dependem de um fator para além destes todos: o nosso cliente, que não é o consumidor. Porque o meu cliente é quem me compra o produto. E quem me compra o produto não é o consumidor, é o retalhista. Se o meu cliente quiser que eu venda, eu vendo. Se o meu cliente não estiver tão interessado que eu venda, eu vou ter muito mais dificuldades.
O futuro da marca de fabricante e a sua dinâmica, passa muito pelas estratégias que os próprios retalhistas adotem, do ponto de vista das suas prateleiras. Mas depois, do ponto de vista do consumidor, acho que também há uma realidade que eu gostaria de dizer. Acho que as pessoas chegam a um ponto em que também se cansam de uma oferta demasiado curta, de não se ter escolha. E a nossa expectativa, é que 2024 e seguintes, se a condição económica o ajudar, são anos em que, depois deste afunilar em torno da marca própria, a distribuição terá, na nossa opinião, algum interesse em dinamizar esta diversificação, e isso é sempre um aspeto positivo.
Do ponto de vista das marcas portuguesas, cada período de dificuldades económicas, tradicionalmente é um período que gera aquilo que eu chamaria de consumo patriótico. Claro que dizemos muitas vezes isto, mas depois quando chegamos à prateleira, se a escolha for muito mais barata ou for a coisa que eu quero e não for portuguesa, já não é tão relevante. Mas, na verdade, o patriotismo do consumo existe, genericamente. E acho que se trabalhou também um bocadinho isso ao longo dos anos. Essas campanhas de ‘Portugal Sou Eu’, do ‘Compre o Que É Nosso’, ajudaram um bocadinho nesta fase. A origem ajuda a fazer a história. Eu posso estar a comprar esta garrafa de água e explicar às pessoas onde é o Luso. Aqui em Portugal, eu consigo explicar às pessoas com alguma facilidade porque é que a Água do Luso não é igual à Água Monchique. Por isso, há uma capacidade de contar essa história que o tal patriotismo ajuda. Ou seja, ser uma marca portuguesa, é uma mais-valia nestes períodos.

Em relação aos mercados internacionais, quais são os grandes riscos ou desafios das marcas portuguesas este ano? Por um lado, na importação de matérias-primas, e, por outro, na sua capacidade exportadora…
Diria que temos aqui duas questões que são juntas. Uma é uma questão de supply chain, da cadeia de abastecimento. Nós produzimos algumas coisas em Portugal que não são só feitas com matérias-primas portuguesas, e estamos num mercado mais confuso, seja do ponto de vista de transportes, seja do ponto de vista, no caso do alimentar, de maus anos agrícolas em algumas zonas, matérias-primas que tiveram agravamentos muito fortes, como café, cacau, açúcar.
Esse é um lado. Outro lado é um fenómeno que passou a ser hoje um problema sério em muitas empresas: a capacidade de estocar. Há dois anos atrás isso não era uma questão. A dada altura, começo a ter um problema: se eu não tiver aqui a matéria-prima eu não consigo trabalhar. Basta um barco atrasar uns dias ou não vir, ou o custo de ter disparado, ou os seguros. Tudo isso tem um impacto brutal. E de repente, no final de 2022, as empresas descobriram que nos seus balanços tinham uma conta calada de espaços de armazenagem que não tinham para os produtos, de custos de estocagem porque nós temos de comprar antecipadamente. E muitas vezes, a ter que fazer este custo de estocagem em períodos que podemos estar a comprar caro, quando o produto daqui a meio dúzia de meses estará com cotações muito mais baixas. Tudo isto é complicado. Isto é um lado. O outro, diferente, é que o problema que atravessamos no ano passado e há dois anos com as dificuldades económicas e quebra de poder de comprar, não o passamos só nós. Todos os países da Europa e do mundo diria que passaram. Alguns menos, outros mais do que nós passamos aqui.
Isto tudo leva a um terceiro ponto que no nosso caso não tem a ver com a parte de exportação, mas tem a ver com uma parte de exportação, que é o turismo. Uma parte importante do nosso mercado é o mercado de turismo, seja o que os turistas compram, seja o que consomem. Nós, por exemplo, estamos com 2024 a crescer em relação ao 2023, mas com uma taxa de crescimento bastante mais baixa que aquela em que estamos habituados a crescer.
Por isso, acho que são três fenómenos que tendencialmente desajudam. Como é que se dá a volta a isto? Por um lado, tentando controlar as estocagens, controlar a capacidade, estabilizar custos na medida do possível. Não é fácil, mas tenta-se. E perceber que, muitas vezes, nós temos que também tentar outros mercados. Se trabalho com dez mercados e dois dos nossos mercados fortes estão mais fracos hoje, tenho que recuperar um pouco disso que perdi aqui, noutros mercados. Temos que ser ambiciosos.

Esse caminho faz-se por não nos centrarmos tanto na Europa e ‘partirmos’ para outros continentes?
Também. E, acima de tudo, perceber o grau de saturação de determinados mercados e os mercados onde nós podemos ter posições interessantes. Por exemplo, nós estamos a meia-dúzia de quilómetros do norte da África. O norte da África, quer por razões quer de capacidade económica, quer de população, tem mercados que não sendo brutais, são importantes. São mercados onde muitos dos países de origem dos produtos europeus têm dificuldades. Por exemplo, França tem dificuldades em mercados como a Argélia. Itália tem dificuldades em mercados como a Líbia, como o Egito. Espanha tem dificuldades em mercados como Marrocos. E nós, felizmente, temos uma posição relativamente simpática.
O que é que isto significa? Significa uma dificuldade que muitas vezes as empresas têm, que é uma questão cultural, é uma questão de língua, é uma questão de hábitos de consumo, é uma questão de perceber como um negócio se faz; é um negócio mais dirigido, é um negócio que não é tão livre como há na Europa. Aqui há sempre algum tipo de intermediação, muitas vezes é um papel que o Estado tem do ponto de vista daquilo que são as orientações dos produtos no mercado. E nesse aspeto, aquilo que nós chamamos de diplomacia económica, o que é no fundo também mobilizar o Estado, a primeira ponte entre estados para depois fazer chegar os produtos, durante anos fizemos uma diplomacia económica muito assente em empresas tipo Efacec, cimenteiras, a indústria pesada, construção civil, etc. E esquecemos ao longo deste tempo que havia um mercado, por exemplo, alimentar que se podia conquistar também.
Claro que há empresas que o fazem, há empresas que exportam. Agora, quando eu estou para me afogar há umas boias. E neste caso, quando o mercado começa a ter algumas dificuldades naquilo que é o nosso mercado mais tradicional, nós temos que ser um bocadinho ambiciosos, também haver aqui algum risco, que eventualmente não gostaríamos de adotar. Mas é um risco que se nós não corrermos também não teremos resultados. E a dificuldade é que exportar é uma coisa, internacionalizar é outra. Quer dizer, às vezes é também termos a noção da dimensão, e as empresas portuguesas por definição são empresas de pequena, média dimensão, não são muito grandes, não podem disparar para todos os lados, não têm meios para fazê-lo. Muitas vezes atuar em consórcio pode ser uma questão interessante.

A Centromarca tem vindo a sensibilizar as forças políticas para os seus principais dossiers. Quais são, atualmente, esses dossiers?
Primeiro, a questão básica, essencial, e na qual estamos a trabalhar em força é este: há que fazer a harmonização do IVA em todos os produtos alimentares. Não faz sentido que eu faça as minhas escolhas, mais à esquerda, mais à direita, porque sou conduzido fiscalmente para um produto.
E mais, para mim, o IVA tem um defeito, em relação à questão de que estávamos a falar antes, que é o maior de todos. O nosso IVA, as taxas reduzidas de IVA, são aplicadas a produtos que estão especificados no código. Nenhum produto inovador está especificado no código. Por isso, qualquer produto inovador paga logo, à cabeça, 23%. Há uma sobretaxa à inovação. Isso não faz sentido.
Depois, não faz sentido que produtos parecidos, muitas vezes completamente semelhantes, tenham taxas completamente diferentes. Terceiro, não faz sentido que cada um de nós, quando vai lançar um produto no mercado, tenha que fazer um exercício de boa-fé, e dizer lendo aqui parece para aqui, mas se eu ler aqui parece para ali. É um exercício de base de adivinhação que tem implicações fiscais fortes. O Estado devia avançar nesse sentido. Estamos perfeitamente abertos a negociar com o Estado. O Estado é quem tem de decidir, mas estamos abertos a negociar com o Estado. Eventualmente, a taxa mínima, para onde gostávamos de pôr tudo, pode não ser a taxa atual. Podemos, imaginando, aumentar um ponto a taxa mínima para ir buscar aquilo que o Estado vai perder de receita nas outras coisas. Não é uma questão de receita fiscal, é uma questão de harmonização fiscal. Nós queremos que as pessoas tenham gastos normais no seu consumo, se possível que façam alguma poupança, mas não é a questão de embaratecer os produtos. É uma questão de harmonia, de que não haja diferenciação e não haja discriminação.
Isto é um assunto do Ministério das Finanças, mas é um assunto em que nós precisamos de dois pontos certos, o Ministro da Agricultura e o Ministro da Economia. Esta é a primeira questão.
Segunda questão. Está de ser discutido em termos europeus um diploma
sobre prazos de pagamento. É um regulamento, vai ser aplicado em toda a União Europeia, não temos a certeza se ele ainda vai ser aprovado na atual legislatura europeia, já que vamos ter agora eleições europeias, mas se não for, que o seja depois. A questão prática é, independentemente dos prazos acordados pela lei, é fazer perceber que a circulação de dinheiro é fundamental à economia. E quando nós estamos a falar num período em que os juros, como falámos há pouco, são taxas elevadas, o custo de dinheiro é mais alto, a circulação de dinheiro favorece a economia. Permite, por exemplo as compras das minhas matérias-primas serem mais facilitadas, permite com que eu não necessite de crédito bancário da mesma forma, por aí vai. Há uma discussão séria e complicada sobre quais os prazos a adotar, acima de tudo que esses prazos sejam adotados não só pelo Estado relativamente aos seus pagamentos a particulares, como depois entre particulares, e que haja uma fiscalização efetiva de que estes prazos se fazem.
Terceira questão. Nós tivemos as greves dos agricultores nos últimos meses, as instituições europeias até como reação a essas greves têm que apresentar algumas medidas, essas medidas estão muito corporizadas num diploma que tem a ver com o que nós chamamos UTP, as Práticas Comerciais Desleais. É preciso que estas medidas que estamos aqui a desenhar – e aqui os governos têm um papel muito importante – sejam medidas práticas, que tenham impacto, mas que sejam medidas pouco burocráticas. Porque se vamos criar para dar resposta aos problemas, e depois na prática acaba por só a ter confusão a mais e nenhuma resolução… por isso, acima de tudo que as medidas que sejam adotadas, e algumas propostas estão em cima da mesa, sejam mais práticas, aplicáveis, aplicáveis a todos os Estados Membros, como seja uma coisa feita à medida de cada país nas suas dimensões.
A quarta questão. Nós temos um fenómeno em Portugal de há muitos anos de contrafação, falsificações, etc, que é preciso combater, sem dúvida. Mas temos um outro fenómeno chamado copycats, ou as copias parasitárias, que no grande consumo têm um peso relevante, espalhado em todo o tecido e que prejudica quem seriamente trabalha. É um fenómeno que está muito mal legislado, nós precisávamos construir conceitos que depois a lei aplicasse. Que muitas vezes não pode ser só em Portugal, tem que ser de alguma forma europeia, mas aqui estamos preparados para a legislação portuguesa o fazer.
Quinto ponto. Nós entendemos – e estamos a falar de um processo que vamos ter agora com o Portugal 2030, estamos a falar de negociações internacionais – que a marca, e o incorpóreo, o design, a patente, as marcas enquanto marcas, tem que ser uma parte importante daquilo que é o esforço de apoio que o Estado, através dos programas, faça. Eu vou construir uma fábrica nova, paredes, cimento, telhados, máquinas, tudo isso é relativamente fácil de enquadrar, e esquecemos que depois é preciso vender. E muito do vender passa por construção de marca, design, campanhas de programas nacionais. Por isso, fazer com que os programas de apoio adotem uma cultura marca. Perceberem que se nós queremos ter uma produção mais forte, se queremos ter um maior valor, isso precisa desta parte incorpórea, e que os programas de apoio também deem relevância a isto, quer do ponto de vista de tipologia de despesas que possam ser suportadas, quer do ponto de vista do percentual que isto pode representar no total.
Por isso, existir, o que nós chamamos de uma cultura de marca, que não é só uma estratégia das empresas. Que o Estado também faça esse papel de: nós temos programas de apoio que estamos a designar, e temos que pensar nisto. Porque se queremos converter uma produção de garrafas numa produção de valor acrescentado, temos que ser uma marca forte.

Sobre o autorAna Grácio Pinto

Ana Grácio Pinto

Entrevista

A ANIPLA é agora CropLife e traz novas soluções para a agricultura e produção de alimentos

A ANIPLA mudou e apresenta-se agora como CropLife Portugal, Associação da Indústria da Ciência para a Proteção das Plantas. Mas a alteração não se cinge à denominação. Como CropLife, “deixa de estar fechada apenas no circuito de representação de produtos fitofarmacêuticos e efetiva a sua evolução e crescimento, alargando o seu âmbito de trabalho a outras áreas de atuação da indústria, como as soluções de base biológica, biotecnológica e ferramentas de agricultura digital e de precisão”, revela ao Hipersuper, João Cardoso, diretor executivo CropLife Portugal.

A ANIPLA é agora CropLife e traz novas soluções para a agricultura e produção de alimentosA ANIPLA mudou e apresenta-se agora como CropLife Portugal, Associação da Indústria da Ciência para a Proteção das Plantas. Mas a alteração não se cinge à denominação. Como CropLife, “deixa de estar fechada apenas no circuito de representação de produtos fitofarmacêuticos e efetiva a sua evolução e crescimento, alargando o seu âmbito de trabalho a outras áreas de atuação da indústria, como as soluções de base biológica, biotecnológica e ferramentas de agricultura digital e de precisão”, revela ao Hipersuper, João Cardoso, diretor executivo CropLife Portugal.

A alteração de ANIPLA para CropLife Portugal vem acrescentar novas áreas de atuação. Quais são e o que passa a oferecer a mais aos associados?
A mudança na designação da ANIPLA passou, não só, por uma total mudança na sua identidade e imagem, mas também por alterações muito significativas no seu âmbito de trabalho. Neste momento de transição, decidida a ser uma voz cada vez mais ativa do setor sobre soluções de proteção das culturas no contexto da evolução tecnológica e científica da agricultura, a associação dá um passo em frente e deixa de estar fechada apenas no circuito de representação de produtos fitofarmacêuticos e efetiva a sua evolução e crescimento, alargando o seu âmbito de trabalho a outras áreas de atuação da indústria, como as soluções de base biológica, biotecnológica e ferramentas de agricultura digital e de precisão.
Quando falamos de alargamento de âmbito, falamos de disponibilizar ao público em geral e, especialmente, aos profissionais do setor mais informação, mais espaços de partilha e diálogo e mais oportunidades de contactar com as novas tecnologias aplicadas à agricultura e à produção de alimentos. E isso significa, naturalmente, um maior investimento em projetos e ações de formação e sensibilização.

Vai também permitir abrir a associação a novos associados, de outras áreas?
Sem dúvida. Com esta mudança, temos a expetativa de que a nossa rede de associados possa vir a crescer, integrando neste universo, empresas e entidades que desenvolvem soluções inovadoras em prol da proteção das culturas. Com esta alteração estamos mais musculados e mais preparados para abraçar novas áreas e para ampliar o conhecimento de todos.

A ANIPLA é agora CropLife e traz novas soluções para a agricultura e produção de alimentosOs projetos ‘Smart Farm’, ‘TOPPS’ e ‘Cultivar a Segurança’ terão continuação? Pode resumir os seus objetivos? E quanto ao Sistema Valorfito, que contributo tem dado na gestão de resíduos de embalagens de produtos fitofarmacêuticos, biocidas e sementes?
Os projetos ‘TOPPS’ e ‘Cultivar a Segurança’ mantêm-se como projetos pilares da associação e em cujo desenvolvimento continuaremos a trabalhar enquanto CropLife Portugal. Ambos são projetos ligados à sustentabilidade e à proteção dos recursos naturais – água, ar e solo – sendo o ‘TOPPS’ uma iniciativa mais focada na proteção da água e o ‘Cultivar a Segurança’ mais voltado para a otimização do uso responsável, seguro e sustentável dos produtos fitofarmacêuticos.
Além destes projetos, destacamos ainda a ‘Smart Farm’ da CropLife Portugal, a nossa Quinta Inteligente, que na sua versão virtual conta já com mais 10.000 visitas e que tem sido um contributo essencial para a formação anual de profissionais do setor, sensibilizando-os para a importância das boas práticas e da integração de ferramentas tecnológicas nas suas produções, que contribuem para uma produção de alimentos (cada vez) mais sustentável.
O sistema Valorfito, responsável pela gestão de resíduos de embalagens de produtos fitofarmacêuticos, sementes e biocidas, gerido pelo Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura, tem registado, ano após ano, excelentes resultados, quer na recolha quer na reciclagem de embalagens e, por isso, tem sido um contributo valioso para as práticas de sustentabilidade do setor agrícola. Mostra-nos que os nossos profissionais estão cada vez mais empenhados em fazer um bom trabalho e em contribuir para a proteção do planeta e preservação dos recursos naturais e prova disso foram os excelentes resultados de 2023, divulgados recentemente, com uma taxa de retoma a atingir os 56,5% e um total de 508 toneladas de resíduos recolhidos e valorizados.

Agora como CropLife, pensa que a organização irá beneficiar de uma maior proximidade às suas congéneres da Europa e de outras geografias? De que forma?
Acreditamos que este era o passo que faltava para nos tornarmos ainda mais próximos da realidade europeia e beneficiarmos dessa proximidade. Na agricultura, como em muitas outras áreas que têm uma influência e impacto direto na vida dos cidadãos, no ambiente, com repercussões sejam elas sociais, económicas ou ambientais, o crescimento e evolução é sempre necessário. E a verdade é que, hoje, a indústria da proteção das plantas desenvolve um trabalho muitíssimo mais amplo do que há décadas atrás – valorizando, como nunca, o suporte e apoio da ciência, investigação e desenvolvimento, promovendo uma alimentação segura e sustentável para todos; os agricultores são hoje mais preocupados, conscientes e motivados para a proteção do planeta e dos recursos naturais no decorrer da produção de alimentos; e a nível europeu as preocupações são também crescentes, comuns e as medidas propostas visam, cada vez mais, a garantia de uma gestão eficiente dos recursos.
Aproximámo-nos daquela que é a identidade e linguagem europeia, mostrando para fora aquilo que somos por dentro: um setor que abraça as soluções que viabilizam sistemas alimentares sustentáveis, um setor que valoriza a formação e capacitação dos profissionais e que acompanha o caminho europeu e as suas ambições, defendendo aquelas que podem ser as melhores práticas para a realidade nacional.

A nível interno, com esta reorganização, a associação terá mais ‘voz’ junto dos decisores governativos, fazendo chegar as preocupações, desafios e contributos dos seus associados?
Acima de tudo, esta reorganização traz consigo a decisão e ambição da associação de assumir um posicionamento ainda mais forte, liderante, transmitindo a ciência e a tecnologia atualmente incorporadas no setor agrícola. A nova CropLife Portugal quer ser a voz do setor sobre soluções de proteção das culturas no contexto da evolução científica e tecnológica; quer ser um parceiro legítimo, competente, empenhado e de confiança para discutir o futuro da agricultura com as instituições nacionais, europeias e partes interessadas; quer ser uma força motriz para contribuições proativas, construtivas e com impacto em diferentes debates sobre políticas e conteúdos; uma associação ágil, capaz de tomar posições e dar contributos tanto do ponto de vista técnico como político.

Entrevista publicada na edição 423 do Hipersuper

Sobre o autorAna Grácio Pinto

Ana Grácio Pinto

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