Quick-commerce em “fase de consolidação” no mercado português
Como estão posicionadas as empresas de q-commerce para ocupar o espaço deixado pela Getir, que desinvestiu em Portugal para concentrar recursos em mercados que geram mais receitas? Glovo Express e Bolt Market reportam crescimentos de 100% no mercado português
Rita Gonçalves
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A empresa turca de entregas ultrarrápidas Getir anunciou no final de julho o desinvestimento nos mercados ibérico e italiano para concentrar os seus recursos financeiros em mercados com maior rentabilidade operacional e potencial de “crescimento sustentável”, como são exemplo Turquia, Reino Unido, EUA e Alemanha.
Como se estão a posicionar as aplicações de entrega de compras de supermercado de alta conveniência para ganhar a quota de mercado que a Getir deixa desocupada no mercado nacional? Este foi o ponto de partida para uma conversa com Edik Davtian, responsável da Bolt Market em Portugal, e Álvaro Perez Muñoz, head de q-commerce da divisão portuguesa da Glovo.
“Quando um player sai de um mercado é preciso compreender que é um processo que decorre ao longo de vários meses, com um claro declínio do serviço prestado. Neste contexto, já estamos a sentir um aumento significativo ao longo de vários meses”, afirma Álvaro Perez Muñoz, adiantando que a estratégia se mantém inalterada desde que há três anos abriu este negócio em Portugal: disponibilizar produtos de alta conveniência e fazer chegar os pedidos no menor tempo possível onde quer que os clientes estejam. “O mais interessante é que estes produtos evoluem de acordo com o contexto”, salienta. “Há dois anos, os testes Covid eram um dos nossos best sellers, agora são bebidas. A nossa estratégia passa muito pela consistência: produtos disponíveis, preparação de pedidos em tempo recorde e preços em linha com o mercado”.
Edik Davtian, responsável da Bolt Market em Portugal, realça que a estratégia da empresa fundada na Estónia não sofreu alterações com a saída da Getir do mercado português. “Consiste em padrões de alto nível de serviço, um catálogo alargado e parcerias exclusivas de forma a chegar ao maior número de pessoas. “A nossa tecnologia, organização operacional e base de utilizadores, possibilitada em larga escala pelo facto de estarmos integrados na app da Bolt Food e no ecossistema da Bolt, permite-nos ser bastante eficientes em termos de investimento e garantir melhores resultados”, sublinha o gestor, garantindo que a aposta na entrega em minutos é para manter. “É uma das principais características do serviço que vem economizar tempo e rentabilizá-lo a favor do consumidor, e que outros retalhistas consideram difícil de replicar”. A empresa estoniana está a apostar ainda na personalização da oferta. “Queremos oferecer uma experiência personalizada na aplicação e garantir uma mercearia à imagem de cada um”.
O modelo de entregas ultrarrápidas de mercearia ao domicilio beneficiou com a pandemia. Com o fim das restrições à circulação, o mercado de q-commerce ajustou? “Muito pelo contrário”, diz Álvaro Perez Muñoz, garantido que não houve decréscimo para níveis pré-pandemia. “Aquilo que a pandemia nos trouxe foi uma mudança permanente de alguns hábitos de consumo, como é o caso das compras de alta conveniência”. “No período pré-pandemia, quando nos faltava um ingrediente saíamos de casa, íamos à loja mais próxima, voltávamos e, neste processo, perdíamos mais de 40 minutos. Agora, existe uma solução para todos estes momentos, que nos permite encomendar em segundos, receber em menos de 30 minutos e maximizar o tempo, mesmo que seja para não fazer nada. É o que este serviço de alta conveniência dá e que é reconhecido: tempo”.
O mercado está na fase de consolidação, salienta Edik Davtian. “A pandemia foi o grande impulsionador deste tipo de negócio e, desde então, temos estado numa fase de consolidação do mercado”, afirma, acrescentando que “o negócio de entrega de comida trouxe uma opção cómoda à vida dos portugueses e prova disso é que esta categoria tem registado um crescimento significativo no que toca ao comércio online”. O responsável da Bolt Market acredita que os novos hábitos de consumo vieram para ficar. “Serão sempre relevantes para a experiência digital uma vez que esta se tornou parte integral da experiência de retalho e uma extensão da experiência offline”.
Bolt Market: 500 marcas e 3500 produtos
“2022 foi um ano de grande crescimento para a Bolt Market e, este ano, os números obtidos até agora revelam que a tendência se mantém, tendo conseguido manter uma percentagem de crescimento de 100%”, realça Edik Davtian, salientando que o negócio de q-commerce conta já com 500 marcas e 3500 produtos. Com estes resultados, “podemos continuar a trabalhar para um futuro mais forte, com um negócio acessível a mais portugueses, e mais e melhor oferta”, sublinha.
Atualmente, a Bolt Market conta com seis dark stores (Alvalade, Avenidas Novas, Alcântara, Benfica, Olival Basto e Moscavide) na cidade de Lisboa. Caso os utilizadores pretendam, podem fazer o levantamento das encomendas nestas lojas/armazéns. O serviço está disponível nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e nas cidades de Coimbra e Braga.
“O nosso objetivo é expandir o serviço a dez novas cidades, algumas integradas nas regiões onde já estamos, outras que vão estrear e explorar novas geografias”, salienta Edik Davtian. Setúbal foi a mais recente cidade do plano de expansão que prevê a consolidação da presença da marca nos principais centros urbanos do país. “Não temos ainda datas estabelecidas para inaugurar novas lojas, mas há, sem dúvida, essa expetativa e ambição, pelo que espero anunciar novidades em breve”.
O responsável pela Bolt Market no mercado português frisa que a missão da empresa mantém-se fiel ao primeiro dia: ser a solução para os portugueses que, na correria do dia-a-dia, precisam de um serviço de mercearias rápido, eficaz e de qualidade. “Acreditamos que as pessoas se devem concentrar mais nas coisas de que gostam, em ter tempo para a família, arte, música e nos seus negócios, e deixar que sejamos nós a cuidar das suas compras”, sublinha, acrescentando que a inteção passa por oferecer tudo o que os consumidores necessitam na aplicação. “Começámos com metade da seleção que temos hoje e continuamos a trabalhar para ter todos os produtos que os nossos clientes desejam”.
A empresa está a trabalhar para expandir o portefólio através de parcerias, com marcas top of mind dos portugueses, como é o caso da Coca Cola, Sagres, Iglo, Knorr, Trident, Mimosa e Limiano, entre outras. “Recentemente, estabelecemos uma parceria com a Auchan Retail Portugal que nos permite reforçar a missão de ir ao encontro das necessidades dos consumidores e oferecer uma vasta gama de produtos essenciais ao dia-a-dia”
Além dos consumidores finais, a empresa dá conta que também alguns negócios compram através da aplicação, como os restaurantes que, quando ficam sem stocks inesperadamente, encontram na aplicação uma solução rápida para resolver essa lacuna. “Quer em Bolt Market quer em Bolt Food, o desafio passa por estar atento a quem nos rodeia e perceber como podemos ir mais além e acrescentar valor a esta indústria – e todos os dias trabalhamos para superar etapas e chegar à meta que definimos para o nosso negócio”, termina.
A aplicação da Glovo foi descarregada mais de dois milhões de vezes em Portugal. Até à data, o serviço Express cresceu 100%, em termos homólogos. “Ao fim de três anos, continuamos a registar um crescimento na ordem dos três dígitos, quando comparado com o período homólogo”, diz ao Hipersuper Álvaro Perez Muñoz, acrescentando que a previsão é fechar o ano em terreno positivo, uma vez que o “último trimestre do ano é sempre bastante forte”.
A operação da Glovo é apoiada em oito dark stores, seis localizadas na área metropolitana de Lisboa (Oeiras, Almada, Amadora) e duas na zona do Porto e numa equipa de 70 pessoas, incluindo os trabalhadores destes espaços e do escritório.
“Estamos à procura de um nono espaço para servir a população de Lisboa que não está atualmente abrangida pelos existentes, mas o nosso grande objetivo é consolidar e crescer as operações nos espaços que já temos”, indica o gestor, adiantando que “para que este negócio funcione e seja rentável, é apenas viável nos grandes centros urbanos”. Pelo que, para já, a empresa não irá sair das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Estes armazéns estão disponíveis a uma população constituída por 3.8 milhões pessoas, exclusivamente através da app. Em média, os pedidos chegam onde os clientes estão em menos de 25 minutos, garante o responsável.
“O Glovo Express é um negócio ainda muito embrionário, com um potencial de crescimento enorme. Queremos melhorar o awareness deste serviço nestes dois grandes centros urbanos – Lisboa e Porto – e levar o serviço ainda a mais consumidores para continuar a crescer. Esperamos um crescimento na ordem dos dois dígitos”, sublinha.
Para alcançar este objetivo, a empresa está a trabalhar em três vetores principais: serviço, portefólio e conversão dos clientes a quem entrega comida ao domicilio. “O mais importante e estratégico é manter a qualidade do serviço, continuar a trazer produtos relevantes para os diversos momentos e trabalhar para existir uma conversão ainda maior dos clientes de área de food para esta área de mercearias de alta conveniência”.
Atualmente, a taxa é gratuita para quem faz o primeiro pedido de mercearia. “Temos feito um investimento considerável em tornar este serviço ainda mais acessível, quer a nível de preços quer a nível de taxas de entrega. Adicionalmente, estamos a investir bastante no serviço Glovo Prime, de forma a trazer promoções exclusivas para os subscritores, além da taxa de entrega gratuita”, conclui.
*Artigo originalmente publicado na edição 417 do Hipersuper