Filipa Castela, diretora de marketing da Contisystems – Merece
“Sentimos que as empresas têm maior consciência ambiental”
O Merece (Movimento Empresarial para a Reciclagem de Cartões com Componentes Eletrónicos), promovido pela empresa portuguesa Contisystems, já reciclou mais de seis milhões de cartões antigos. Filipa Castela sublinha em entrevista ao Hipersuper, que a ambição é continuar a aumentar este número para fazer mais e melhor pelo planeta.
Ana Rita Almeida
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O Movimento Empresarial para a Reciclagem de Cartões com Componentes Eletrónicos (Merece) já reciclou mais de seis milhões de cartões antigos. Filipa Castela afirma ao Hipersuper que a ambição é continuar a aumentar este número para fazer mais e melhor pelo planeta.
O Movimento Empresarial para a Reciclagem de Cartões com Componentes Eletrónicos (Merece), promovido pela empresa portuguesa Contisystems pretende aumentar a reciclagem de cartões, dando-lhes uma segunda vida. Em dois anos já foram recolhidos mais de 1 milhão de cartões, o que representa menos seis toneladas de resíduos em aterro. “É claro que queremos crescer, muito, mas o caminho faz-se caminhando”. Quem o diz é Filipa Castela, diretora de marketing da Contisystems, tecnológica portuguesa que, entre outros serviços, personaliza cartões bancários há mais de 25 anos, que em conversa com o Hipersuper, sublinha que é preciso investimento quando se fala em sustentabilidade: “acreditamos que é preciso investir, para encontrar processos mais eficientes, e produtos mais sustentáveis.
Como surgiu o Movimento Empresarial para a Reciclagem de Cartões com Componentes Eletrónicos?
O Merece nasceu em 2021 depois de uma reflexão, na Contisystems, de como seria possível contribuir para a redução do impacto ambiental das atividades em que estava envolvida. Entre outros temas, surgiu o dos cartões… dos milhões de cartões que produzimos todos anos, e cuja validade termina no espaço de 3 a 5 anos.
O comportamento dos utilizadores no final da vida útil parecia ser transversal, cortar o cartão aos bocadinhos e colocar no lixo comum. Fizemos algumas entrevistas de rua, que publicámos nas nossas redes sociais, onde se confirmou esta ideia.
Uma vez que estes cartões têm componentes eletrónicas, incentivar à sua colocação em ecoponto não iria resolver o tema.
Sabemos que existem mais de 30 milhões de cartões ativos em Portugal, mas há muitos mais cartões com componentes eletrónicos (chips, banda magnética ou antena).
Estimamos que, entre cartões de fidelização, cartões de acesso, existam mais de 50 milhões de cartões em Portugal.
Se estes cartões tiverem uma validade média de quatro anos, estamos a falar de mais de 12,5 milhões de cartões inutilizados anualmente.
Uma vez que cada cartão pesa aproximadamente seis gramas, são, no mínimo, 75 toneladas de plástico com componentes eletrónicos em aterro anualmente.
O objetivo do Merece é reduzir este impacto, reciclar estes cartões, e compensar a sua pegada de carbono com a plantação de 1 árvore por cada quilo de cartões recolhidos.
Com quase 2 anos de atividade, qual o balanço que fazem?
O balanço é muito positivo. Reunimos, como membros, importantes entidades do mercado financeiro e contamos com o apoio institucional da Visa e do Turismo de Portugal.
Nestes dois anos já recolhemos mais de 1 milhão de cartões, o que representa menos seis toneladas de resíduos em aterro. É claro que queremos crescer, muito, mas o caminho faz-se caminhando.
Uma vez que a época de plantação é apenas em época de chuvas (de outubro a março normalmente), e embora esteja já garantida a plantação de mais de seis mil árvores, plantámos, até ao momento, mais de três mil, sempre em território nacional.
Com quantos membros contam atualmente?
Atualmente contamos com cerca de 10 entidades aderentes à iniciativa. Entre membros e participantes encontramos organizações como Santander, Banco CTT, Unicre, Sonae Universo, Cartão Dá, Banco Montepio, Bankinter, Natixis, Edenred e Hotel Jupiter. Podem fazer parte não só instituições bancárias como também o retalho (através dos cartões de fidelização, por exemplo).
A adesão tem crescido também nestes pontos de venda?
Sim, embora os nossos membros pioneiros tenham sido instituições bancárias, temos também crescido pela adesão de outras entidades, nomeadamente ao nível do retalho e do turismo.
Já foram recicladas mais de 4 toneladas de cartões com componentes eletrónicos. Como é feita esta reciclagem?
Neste momento contamos já com mais de seis toneladas de cartões recolhidos. Os cartões recolhidos são destruídos na Contisystems, num espaço certificado pelas marcas de esquemas de pagamento nacionais e internacionais, para o processamento de cartões bancários.
Depois de transformados em estilha são enviados para o nosso parceiro de reciclagem, a Extruplás.
A reciclagem é feita através de um processo de extrusão, que vai fundir todos estes materiais e moldá-los em perfis, que posteriormente são utilizados para a construção de mobiliário urbano, como parques infantis, passadiços de praia, bancos, caixotes de lixo, etc.
Garantem que a pegada de carbono dos cartões é compensada. Como?
A compensação da pegada de carbono é feita através da plantação de árvores. Por cada quilo de resíduos é plantada uma árvore.
Esta correlação foi estabelecida a partir da informação que temos sobre a pegada carbónica de cartões que aponta, aproximadamente para 150 gramas de carbono por cartão.
Uma vez que cada cartão pesa cerca de 6 gramas, a pegada de 1 quilo de resíduos é de 25 quilos.
Adicionalmente, acreditamos ser conservadores (e os dados que temos apontam para mais) ao considerar que uma árvore, por ano, consome 5 quilos de carbono.
Somos também conservadores ao considerar apenas os cinco primeiros anos de cada árvore na contabilização da captura de carbono (os cinco anos em que é feita a manutenção da mesma para assegurar uma taxa de sobrevivência elevada).
Sentem que as empresas têm cada vez mais consciência ambiental?
Sim, sentimos que as empresas têm maior consciência ambiental. No fundo, este movimento reflete a maior consciência ambiental que existe a nível individual. Uma consciência que surge, naturalmente, dos colaboradores que constituem as empresas, mas sobretudo, da pressão que é atualmente imposta pelo consumidor final. Hoje em dia há já felizmente preocupação individual em procurar empresas que assumam a sua responsabilidade na criação de negócios sustentáveis ao nível ambiental. Ao mesmo tempo, as maiores imposições regulatórias que existem sobre o tema, acabam também por influenciar o nível de prioridade com que o tema é tratado nas organizações.
No entanto, acreditamos que o caminho a percorrer é longo, seja na nossa iniciativa em particular, que irá certamente crescer em número de membros e em cartões recolhidos, seja nas empresas no geral, no número de iniciativas e impacto de cada uma.
Quais os parceiros e como é que funciona esta colaboração?
Existem três parceiros fundamentais com quem trabalhamos nesta iniciativa: a Extruplás que assegura a reciclagem dos resíduos de cartão (Estilha), a Associação Plantar uma Árvore que assegurou, maioritariamente, no arranque, as plantações, e a Quercus que se juntou ao Merece mais recentemente também como parceiro de plantação.
Quais são os grandes desafios quando falamos em sustentabilidade?
Acreditamos que o maior desafio para as empresas será encarar a sustentabilidade como um investimento. Ainda há um pouco a mentalidade que o esforço se deve concentrar na alteração de comportamentos, e não tanto em investimentos financeiros. Acreditamos que é preciso investir, para encontrar processos mais eficientes, e produtos mais sustentáveis.
Fotografias: Frame It
Entrevista originalmente publicada na edição 416 do Hipersuper