Pedro Pimentel (Centromarca): “A tendência que, muito provavelmente, será mais fortemente sentida ao longo do ano é a do downtrading”
Três perguntas a…Pedro Pimentel
Diretor-Geral da Centromarca (Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca)
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Três perguntas a…Pedro Pimentel
Diretor-Geral da Centromarca (Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca)
Que impacto considera que poderá ter o atual contexto económico e social no consumo dos portugueses neste ano que agora começou, em especial em produtos de grande consumo?
Parece óbvio que o contexto socioeconómico e, muito especialmente, a quebra do poder de compra, ainda mais sensível nos grupos com rendimentos mais débeis, terá um impacto muito significativo no mercado dos produtos de grande consumo.
Estimamos que, no final de 2022, a perda de poder de compra se tenha situado nos quatro a cinco pontos percentuais face a 2021. Há sinais de que esse valor poderá ser agravado ao longo de 2023, com uma inflação a crescer mais rapidamente do que a componente salarial, a que se soma um agravamento da fiscalidade indireta e o aumento das taxas de juro, o que impacta o rendimento disponível de muitos agregados familiares.
Além disso, há a considerar os efeitos de uma inflação muito mais elevada do que aquela com que normalmente estamos habituados a lidar e do potencial de erosão de confiança que esta crise poderá provocar no tecido empresarial, no turismo e nas nossas exportações. Não esquecendo, como todos sabemos, que há uma relação direta entre a quebra dos níveis de confiança, o aumento da poupança e a redução da disponibilidade para o consumo.
Todos estes indicadores, a que poderemos somar o agravamento do descontentamento social, fazem prever um ano tendencialmente negativo e com potencial para dar um forte empurrão descendente a um setor que vinha tendo um comportamento positivo desde meados da década passada e que havia atravessado, bem melhor do que outros, todo o período em que fomos mais fortemente impactados pela pandemia.
Onde considera estarem, por outro lado, as oportunidades de crescimento para as empresas do setor de FMCG em 2023?
O ano de 2023 promete ser difícil e as oportunidades de crescimento serão, seguramente, menores quando o mercado tendencialmente irá regredir. Um bolo mais pequeno tende a gerar fatias mais pequenas, ou seja, vendas menores e margens mais pressionadas. Ainda assim, haverá sempre empresas, marcas e retalhistas que capturarão, melhor do que outros, as oportunidades e as vicissitudes do mercado.
Melhor comunicação, mais inovação, produtos mais adaptados às novas necessidades dos consumidores, nichos de mercado que surjam ou que não estão devidamente ocupados poderão ser, sempre (e, obviamente, mais ainda na atual conjuntura), oportunidades de desenvolvimento, crescimento e de aumento de rentabilidade para fabricantes e marcas.
Do mesmo modo, renovações e novas localizações, sortido adequado, experiência de compra, maior cuidado com grupos específicos de consumidores que carecem de maior atenção, lojas mais fluidas, sistemas de checkout e de pagamento mais eficazes, serão sempre fatores que contribuirão para uma melhor posição concorrencial dos retalhistas e para uma maior capacidade de atração e retenção dos consumidores.
Há um conjunto de fatores que, de um lado e do outro, podem valorizar – quando devidamente comunicados – a relação emocional com o consumidor e que passam por um cuidado acrescido em matéria de sustentabilidade e de responsabilidade social e corporativa, mas também criando condições para uma maior frugalidade e uma maior portugalidade dos atos de compra.
Finalmente, num ano que se antecipa tão difícil e desafiante, é natural que as previsões sejam bastante negativas. Mas, como é normal, quando as expectativas são muito baixas, há sempre surpresas positivas que podem acontecer e que podem passar, por exemplo, por uma quebra do poder de compra menos significativa do que o previsto, por um bom ano agrícola, pelo arrefecimento dos custos energéticos, pela estabilização e diminuição dos custos associados aos fluxos logísticos, por uma menos grave contestação social ou pela resistência dos números associados ao turismo e ao consumo fora de casa. Surpresas que podem, de forma distinta dos prognósticos, permitir novas oportunidades de crescimento para 2023.
Quais considera serem as principais tendências no mercado de grande consumo?
A tendência que, muito provavelmente, será mais fortemente sentida ao longo do ano que agora começa é a do chamado downtrading, através da qual os consumidores tentarão manter o seu padrão-base de consumo, recorrendo a opções relativamente equivalentes, mas de preço (e, por vezes, de qualidade) inferiores.
Nas famílias não tão profundamente impactadas, essa ‘troca’ far-se-á dentro das mesmas famílias de produtos e com impactos de qualidade menos profundos. Nas famílias que já viviam com maiores dificuldades, essas ‘trocas’ são mais difíceis, pois já utilizavam normalmente os produtos mais baratos do mercado. Assim, neste período, serão, certamente, obrigados a fazer opções por produtos complementares de qualidade e preço inferiores.
Outra das tendências que poderão marcar 2023 passa pelo regresso ao consumo no lar, em detrimento dos atos de consumo fora-de-casa. Depois de quase dois anos em que as limitações introduzidas pela pandemia nos obrigaram a refugiar em casa, 2022 havia marcado o regresso, em ampla escala, a padrões de consumo (e de locais onde o mesmo era realizado) mais próximos do período anterior a 2020. Ainda assim, o amplo aumento do recurso ao trabalho à distância e a consolidação da utilização das chamadas meal deliveries tinham motivado algum encurtamento do canal Horeca, compensado em larga medida pelo aumento drástico do turismo de massas.
Este regresso a casa beneficiará de algum modo o retalho alimentar, seja pelas vendas diretas (e acrescidas) para consumo no lar, seja pelo aumento da utilização das propostas de take away das respetivas lojas e, em contrapartida, tenderá a penalizar o canal Horeca. Tenderá, também, a provocar um novo aumento do grau de dependência dos fornecedores relativamente às maiores insígnias da moderna distribuição.
Uma outra tendência pode passar pela redução das cestas em cada ato de compra e um proporcional aumento do número de visitas às lojas. Essa poderá ser uma forma das famílias controlarem as suas despesas, reduzirem desperdício e melhor gerirem os orçamentos familiares. Esta tendência, solidificando-se, dará mais preponderância às lojas de proximidade do retalho alimentar, fazendo perder protagonismo aos espaços de maior dimensão e mais periféricos. Parece também claro que a opção pelo controlo mais estrito de gastos conduz muitos consumidores a recorrer aos super e hipermercados, abandonando – ainda mais – o recurso ao comércio tradicional de bairro, que muitos associam (por vezes de forma errada) a preços superiores.
Finalmente, ainda que de forma menos provável, o recurso às compras online poderá ser um refúgio para os consumidores que possuam alguma disponibilidade económica. Uma compra mais programática e menos atreita a despesas de impulso, a que se junta a comodidade e a conveniência, pode funcionar como atrativo para um crescente leque de consumidores que recorre a uma compra digital.