Crescimento de consumo de plant-based food? Consumidores e empresas respondem à chamada
O consumo de carne nos Estados Unidos e na Europa poderá atingir o pico em 2035, data a partir da qual o consumo de proteína animal poderá iniciar o seu […]
Filipe Pacheco
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O consumo de carne nos Estados Unidos e na Europa poderá atingir o pico em 2035, data a partir da qual o consumo de proteína animal poderá iniciar o seu declínio,
segundo um estudo do Boston Consulting Group (BCG). Tudo aponta, assim, para um aumento de consumo de proteínas alternativas, cujo mesmo estudo aponta que seja sete vezes maior dentro de década e meia. Nesse período, os produtos com origem em proteínas alternativas poderão alcançar 11% do mercado global de proteína, isto numa estimativa conservadora. Diz a mesma pesquisa que, se houver um impulso de entidades reguladoras e alterações graduais na tecnologia, esse valor poderá atingir 22%.
Oatly, Beyond Meat, Impossible Foods, Meta Burger, Zero Egg ou Just são alguns exemplos de companhias fundadas, nas últimas décadas, como propósito de apresentar várias alternativas alimentares, com produtos produzidos à base de proteína vegetal, substitutos de carne, leite ou ovos. Mas o fenómeno não é novo. Em 2020, um artigo do “The New York Times” dava conta que a carne à base de origem vegetal tem as suas origens na década de 70, lembrando o livro de Frances Moore Lappé, publicado em 1971, com o nome “Diet for a Small Planet”. Moore Lappé foi uma das pioneiras no estudo do impacto da produção
intensiva de carne sobre o ambiente, defendendo uma dieta baseada em alimentos alternativos à carne.
O livro, que à época foi umbest-seller, esteve na génese de uma gradual e lenta mudança de mentalidades. E, hoje, há consumidores cada vez mais
dispostos a experimentar produtos alternativos à carne nos países mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Reino Unido ou Alemanha, onde já 11% dos consumidores dizem-se muito interessados no consumo de produtos alimentares produzidos com proteínas alterativas à carne, segundo
dados da mesma pesquisa do BCG. O mesmo indica que cerca de 13 milhões de toneladas métricas de proteínas alternativas foram consumidas
em 2020, o que representa apenas para 2% do mercado de proteína animal. Até 2035, esse valor poderá chegar a 97 milhões de toneladas métricas.
Quando será atingido o pico de consumo de carne é uma pergunta cada vez mais recorrente nos últimos anos. São os próprios cientistas que colocam
esta questão, avisando que a indústria pecuária terá de atingir o seu pico dentro de dez anos, sob pena da batalha contra as alterações climáticas ser dada como perdida. Os cientistas pedem aos países desenvolvidos que estabeleçam um pico no consumo de carne, por considerarem que a indústria pecuária é responsável pelo crescimento das emissões de gases com efeito de estufa. “Os países devem procurar atingir o pico de produção de gado nos próximos dez anos, porque precisamos de reduções rápidas e acentuadas nas emissões de gases com efeito de estufa”, dizia, em finais de 2019, Helen Harwatt, investigadora na Harvard Law School nos Estados Unidos.
Fabricantes e retalhistas internacionais estão também conscientes do tema, estando a fazer investimentos para aumentar a produção de alimentos à base de proteínas alternativas à carne. Um relatório da FAIRR Investor Network dava conta, em meados de 2020, que mais de 1,1 mil milhões de dólares em capital de risco foram canalizados para o mercado de proteínas alternativas no primeiro semestre de 2020, aumentado mais do dobro o investimento feito no total 2019, que foi de 534 milhões de dólares. E entre as multinacionais que se encontram mais comprometidas nesta matéria, criando equipas para investigar, ampliar e diversificar o seu portefólio de produtos à base de proteínas alternativas, encontram-se a Tesco, Unilever, Nestlé, M&S, ICA Gruppen, Conagra ou a Sainsbury’s. A Kroger, por exemplo, em finais de 2020, introduziu, nos lineares, mais de 50 produtos à base de proteínas alternativas à carne. E a Sainsbury’s, em 2018, serviu de rampa de lançamento para a Meatless Farm, que chega agora a Portugal e pretende acelerar o consumo deste tipo de alimentação.
Lançamentos e procura aceleram em Portugal
Por cá, as multinacionais e as empresas locais estão a dar passos rápidos neste sentido, não encarando já estes produtos como de nicho, mas conscientes que, aos poucos, farão parte do mainstream. A Unilever, que é das companhias globais que mais investimento tem canalizado para este mercado, está comprometida com a iniciativa “Future Foods”. A Nestlé está a alargar o seu portefólio de produtos à base de matéria-prima vegetal emvárias categorias. O grupo Montalva Izidoro regozija-se por ser a primeira empresa portuguesa a apostar neste mercado na categoria de salsichas. E a Nobre está investida em estar no comboio da frente de uma tendência que é cada vez mais uma realidade nos países ocidentais, estando também a fazer o seu caminho em Portugal.
A Unilever, que pretende incentivar uma mudança nos hábitos alimentares, está a acompanhar esta rota do futuro, sendo disso prova a abrangente quantidade de produtos alternativos que tem a apresentar ao mercado. Hellmann’s vegan, o gelado sem laticínios Coconutterly Caramel da Ben & Jerry’s, o Cornetto e o Magnum veganos estão entre os produtos comercializados no mercado português.
A companhia, em 2020, lançou a The Vegetarian Butcher, marca criada por um talhante amante de carne que quis replicar o sabor e a textura dos alimentos de origem animal em produtos com base em matéria-prima vegetal. “Acreditamos que este é o caminho certo para um sistema alimentar do futuro, um sistema agregador de diversos players que apresentam sucessivas propostas inovadoras, sempre com vista a melhorar a saúde e bem-estar da população e do planeta”, afirma Daniel Rodrigues, director marketing foods da Unilever FIMA e responsável em Portugal pela iniciativa “Future Foods”, em declarações ao Hipersuper.
Uma pesquisa realizada pelo Barclays indica que o mercado de alimentos à base de vegetais deverá alcançar um valor de 35,4 mil milhões de dólares
até 2027 a uma taxa anual composta de 15,8%. E a pretensão da Unilever é ser líder mundial neste mercado. “Cada vez mais se verifica uma procura por uma alimentação saudável, sustentável, variada e acessível a todos. Como uma das maiores empresas de bens alimentares do mundo, é nossa responsabilidade apresentar soluções para responder a estas expectativas”, declara Daniel Rodrigues.
A Nestlé, na qualidade de uma das maiores companhias globais de produtos alimentares, promete ser também um dos principais competidores. Sendo a Garden Gourmet a primeira marca da companhia a avançar com propostas de produtos à base de vegetais em refeições, a Nestlé cedo percebeu que o potencial de mercado exigia alargar o leque de produtos a algumas das suas marcas mais icónicas. Foi o que aconteceu com a bebida vegetal achocolatada Nesquik GoVegetal!, com os alimentos vegetais para bebés Naturnes Bio, com o preparado para sobremesas vegan, à base de arroz e aveia, e com a gama de bebidas vegetais com café solúvel Nescafé Gold Lattte. “É uma realidade das sociedades de hoje que os consumidores estão cada vez mais conscientes para o impacto que as suas escolhas podem ter no planeta”, salienta Gonçalo Granado, diretor de comunicação da Nestlé Portugal.
A companhia está apostada em acelerar o seu investimento nos produtos à base de matérias-primas vegetais, estando uma série de lançamentos planeados para 2021, na gama de Garden Gourmet e em categorias que “estão em crescimento pela procura da sustentabilidade e bem-estar dos consumidores”, diz o responsável. A marca Garden Gourmet, por exemplo, lançada em 2019, tem sido um sucesso, ao atingir a liderança do mercado de refeições refrigeradas ‘plant based’, com uma quota de mercado de 28,3% no final de 2020. “Superou as nossas expectativas”, conta Gonçalo Granado.
Este investimento da Nestlé não surge por acaso. Os dados que a empresa tem disponíveis apontam para um potencial de 65% da população europeia vir a ser flexitariana nos próximos anos. “Falamos de pessoas que reduzem o consumo de carne e a substituem por alimentos à base de proteína vegetal, mas que não querem
comprometer o sabor ou a textura e, portanto, o prazer que retiram da alimentação”, explica o diretor de comunicação da Nestlé.
A Izidoro é uma das empresas nacionais que mais investimento tem canalizado para este tipo de alimentos. Decidiu lançar, em primeiro
lugar, salsichas de soja no mercado. “Nos últimos dois anos o crescimento do segmento no total do negócio foi explosivo, tanto que em 2021 teremos uma grande aposta no robustecimento da oferta de produtos 100% origem vegetal com o lançamento da nova gama Veggie Lovers Izidoro, e com o alargamento para a categoria de produtos frescos, onde se inclui o novo Vegan Steak e Vegan Burgers”, adianta Maria Inês Palma, gestora da marca Izidoro Veggie Lovers. “Em Portugal esta tendência tardou mais a arrancar em comparação com outros mercados europeus, mas a evolução do nosso negócio nesta área em particular ilustra bem a crescente procura”, acrescenta.
Depois de relançar a gama 100% Origem Vegetal, a Izidoro tem sentido uma excelente recetividade do mercado. A salsicha vegan tornou-se um dos best-sellers da gama de mercearia. “E é um case study muito interessante pois reflete a cada vez maior aceitação de produtos plant-based até no mercado mais mainstream”, afirma Maria Inês Palma. O perfil do consumidor aponta precisamente nesse sentido. “Trata-se de um espectro bastante alargado, desde o perfil puramente vegan ao maior amante de carne que procura incorporar mais variedade e novos sabores na sua alimentação”, descreve.
O grupo Sigma iniciou, em Portugal, o investimento em produtos à base de proteína vegetal com a Nobre Vegalia, fazendo a gama parte da estratégia de crescimento e de diversificação da marca. “Parte da estratégia da Nobre passa por antecipar as necessidades do mercado e dos consumidores. Trabalhar em antecipação permite-nos depois responder de forma mais eficiente. A oferta de produtos com proteínas alternativas permite à Nobre recrutar novos consumidores e disponibilizar soluções ajustadas a diferentes tipos de perfis. Há espaço para alcançar quem procura reduzir a proteína animal da sua alimentação, assim como todos os que são fiéis à marca e que procuram variar as suas refeições, com base na flexibilidade alimentar”, afirma Cátia Costa, senior marketing manager da Nobre.
Os próprios portugueses, adianta a responsável, estão a querer mudar os hábitos alimentares. “A procura por uma alimentação mais equilibrada e as preocupações ambientais são dois dos fatores que têm mais peso nesta decisão e a disponibilização de produtos com base de proteína vegetal permitem dar resposta a estas necessidades”, acrescenta a responsável. A Nobre, com o crescimento nas vendas dos produtos na gama Vegalia, pretende, em breve, fazer novos lançamentos, numa lógica de complementaridade no âmbito da globalidade do seu portefólio. “Não existe colisão, mas sim complementaridade, porque são segmentos que respondem a mercados diferentes”, afirma Cátia Costa. Ainda que um tanto atrasado em relação a outros mercados, as perspetivas de crescimento em Portugal são elevadas. O número de vegetarianos no País quadruplicou em dez anos, diz a responsável, citando dados da Associação Vegetariana Portuguesa. “Além disto, o flexitarianismo representa a maior fatia de consumidores de produtos alternativos e a dieta com maior potencial de crescimento. Assim, e uma vez que os produtos vegetarianos nos permitem responder a estes dois perfis de consumo, perspetiva-se uma evolução positiva do consumo deste tipo de produtos”, diz Cátia Costa.
E pode dizer-se que já nem se trata de uma moda. Trata-se de uma preocupação dos atuais consumidores não só com a alimentação e com o ambiente. “Os consumidores, e não estamos só a falar dos veganos ou dos vegetarianos, estão conscientes de que é necessário mudar para uma dieta mais variada e equilibrada, rica em alimentos de origem vegetal e com menor presença de alimentos de origem animal. Percebem que esta mudança na alimentação traz benefícios, tanto para a sua saúde, como para o meio ambiente. Esta mudança veio para ficar, até porque o atual sistema alimentar mundial é ineficiente”, assinala Daniel Rodrigues.
Sobre o valor total de mercado dos produtos à base de proteína vegetal, não existe ainda em Portugal uma medida rigorosa. “Temos sim, várias medições de categorias isoladas e vemos que cresce todos os anos, e essa evidência de crescimento e de escala já se vê noutros países da Europa”, indica Gonçalo Granado. A entrada no mercado da Meatless Farm é, aliás, vista como positiva. “Neste momento, na categoria de plant based em Portugal, que ainda é pequena, a entrada de novos players contribui para a angariação de novos consumidores e para a democratização e adoção de novos comportamentos, o que irá levar ao crescimento da categoria”, refere o diretor de comunicação da Nestlé.
As vendas de produtos à base vegetal têm também superado as expetativas do grupo Montalva/Izidoro. “A Salsicha Vegan Izidoro figura já no top de vendas da nossa gama de mercearia”, diz Maria Inês Palma, que vê com bons olhos a entrada de novas empresas no mercado português: “Não encaramos a entrada de novos players no mercado como uma ameaça, mas sim como um reflexo da dinamização deste segmento, o que numa perspetiva de democratização deste tipo de soluções será sem dúvida positivo”.
Artigo originalmente publicado na edição 389 do Hipersuper