Especial. Portugueses gastam 11,4 milhões de euros em vinagre
Novas variedades de vinagre ganham espaço nas prateleiras para encorajar os consumidores a desviar o orçamento para propostas de maior valor acrescentado
Rita Gonçalves
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Frutados, biológicos, balsâmicos e envelhecidos. Novas variedades de vinagre ganham espaço nas prateleiras para encorajar os consumidores a desviar o orçamento para propostas com maior valor acrescentado*
Os portugueses gastaram 11,4 milhões de euros a comprar vinagre nos últimos 12 meses. No período acumulado até outubro, as vendas deste tempero cresceram 5%, face ao período homólogo, para 9,7 milhões de litros, segundo dados da consultora Nielsen. O espaço de exposição nas prateleiras dos supermercados cresce à medida da inovação das marcas. Frutados, envelhecidos, biológicos, exóticos, doces, de arroz ou com Indicação Geográfica Protegida (IGP), por exemplo, a imaginação dos fabricantes está subordinada à criação de novas referências para levar o consumidor a substituir as tradicionais versões por variedades “premium” e de valor acrescentado.
Como explica João Pilão, diretor de Marketing e Internacionalização da Paladin, marca da Mendes Gonçalves, o “mercado de vinagre tem vindo a diversificar-se e denota um aumento do espaço de prateleiras no retalho para acolher a variedade de propostas existentes”. Tal como acontece no mercado europeu, “mais maduro nesta oferta de variedades que acompanham gastronomias mais criativas”. No próximo ano, “prevemos que este movimento continue a dar mais alguns passos e que gradualmente se consiga transferir algum consumo de vinagre indiferenciado para vinagres mais nobres e de valor acrescentado”.
Começam a surgir no mercado as primeiras propostas de origem biológica. A marca Cristal, comercializada pela Contemp – Companhia dos Temperos, lançou este ano o vinagre de sidra biológico Cristal Gourmet e está a preparar novidades nesta categoria para apresentar até ao final do ano. “Os vinagres biológicos são uma oportunidade e estão a ter muita procura, por exemplo, por consumidores que seguem dietas vegetariana e vegan e procuram opções saudáveis e naturais para se sentirem bem com a vida”, dá conta em entrevista ao HIPERSUPER Paulo Santana, diretor comercial da Contemp, empresa que comercializa marcas como Cristal, Leziria e Salador.
A Mendes Gonçalves tem apostado na diferenciação para fazer crescer as vendas da marca Paladin dentro de fora de portas. Desde vinagres únicos no mundo – como o de tomate – até ao primeiro vinagre rosa do mercado português (uma parceria com a empresa agroalimentar Vale da Rosa) – passando por versões “premium” envelhecidas ou balsâmicos nas variedades clássico, manjericão e maça, a inovação é a estratégia da empresa da Golegã para surpreender com regularidade os consumidores. A Paladin, “a primeira marca, desde há muitos anos, a apostar em ‘mass media’” para comunicar os seus produtos, está hoje à venda em mais de 30 países, adaptando os seus produtos ao gosto e hábitos locais.
A Ponte Vertical, por sua vez, que importa a marca italiana Ponti, especialista em vinagre balsâmico da cidade italiana de Modena, com Indicação Geográfica Protegida, e o vinagre de arroz da marca japonesa Kikkoman, aposta em referências exóticas que permitem enriquecer os pratos com novos condimentos e sabores. “O vinagre de Modena é um produto único no mundo”, sublinha Daniel Brissos, Managing partner da Ponte Vertical. “Naturalmente que as marcas que sempre se dedicaram ao desenvolvimento de determinadas receitas e têm matéria-prima proveniente de castas específicas em zonas com IGP, conseguem oferecer produtos de qualidade superior”. O balsâmico de Modena, em particular, “cumpre critérios rigorosos estabelecidos em regulamento que estipulam as castas a serem utilizadas, assim como o período mínimo de envelhecimento do vinagre em barricas de madeira de diferentes origens”.
Vinho branco e sidra: os preferidos dos portugueses
Apesar da diversidade à disposição nos lineares, o vinagre de vinho branco continua a ser o preferido dos portugueses, uma tradição de longa data explicada pela ligação do nosso País à viticultura. 67% do vinagre que consumimos tem como principal matéria-prima o vinho branco. O segundo tipo de vinagre mais utilizado nas cozinhas portuguesas é o de sidra, uma versão associada pelos consumidores a valores como “natural” e “saúde e bem-estar”.
Como correram, então, as campanhas de produção das matérias-primas dos vinagres mais consumidos em Portugal? São de esperar aumentos de preços e mudanças no consumo de vinagre? No caso do vinho, a produção deverá ter aumentado, em média, cerca de 10% na campanha de 2017/2018 face à anterior, para um volume total de 6,6 milhões de hectolitros, segundo previsões do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV). Ainda assim, Rita Pacheco, gestora de Produto e Imagem da Contemp, considera, que o “negócio vai assistir a uma evolução do posicionamento do preço no vinho e na maça, fruto da escassez da matéria-prima que se instalou no mercado”. Os três países líderes em produção de vinho – Espanha, França e Itália – registaram “a pior campanha dos últimos anos”. A quebra de produção está avaliada em “15%, tal como a maça que apresentou uma quebra na ordem dos 23%”, revela a responsável da Contemp.
O vinagre está presente em 75% das casas portuguesas. No último ano, os portugueses deslocaram-se quatro vezes, em média, aos supermercados para adquirir este produto e despenderam 0,87 euros por cada visita.
Os portugueses compram 9,7 milhões de litros de vinagre por ano, mas “uma parte” não é consumido nas refeições, lembra João Pilão, para explicar que os dados sobre o consumo per capita tendem a ser falaciosos. O vinagre também é utilizado para fins não alimentares, “como limpezas, por exemplo”, explica o responsável da empresa Mendes Gonçalves, dona da Paladin.
As marcas encaram o futuro do setor com otimismo. “Sendo Portugal um País que privilegia a dieta mediterrânica, onde os vinagres têm uma tradição milenar, é de esperar que se mantenham os níveis de qualidade e surjam novos sabores e texturas de acordo com as novas tendências de consumo”, remata Paulo Rosa, Managing partner da Ponte Vertical.
*Texto publicado originalmente na edição impressa de dezembro. Leia gratuitamente a versão digital aqui