Intermarché apoia 27 mil toneladas de produção nacional por ano
O Intermarché está há três anos a premiar a produção nacional. Os vencedores de 2016 foram conhecidos numa cerimónia realizada em Lisboa, que reuniu representantes de toda a cadeia de valor e promoveu a discussão sobre o estado atual da agricultura portuguesa
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O Intermarché está há três anos a premiar a produção nacional. Os vencedores de 2016 foram conhecidos numa cerimónia realizada em Lisboa, que reuniu representantes de toda a cadeia de valor e promoveu a discussão sobre o estado atual da agricultura portuguesa.
O Intermarché premiou pelo terceiro ano consecutivo a produção nacional. Os vencedores foram conhecidos no dia 28 de setembro numa cerimónia realizada no Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade de Lisboa, que contou com a participação do Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, e do secretário de estado da Agricultura e Alimentação, Luís Vieira.
Este ano foram entregues seis dos nove prémios anunciados e duas menções honrosas. O júri do concurso não encontrou vencedores para as categorias de Legumes e Preparados de Legumes e Biológico, e para a subcategoria de Azeite em Produtos Processados. Aos premiados (ver caixa) é garantido o escoamento dos produtos durante um ano nos hipermercados da retalhista, havendo ainda a possibilidade de ganharem espaços nos lineares dos pontos de venda do Intermarché nos restantes países onde opera (França, Bélgica e Polónia). Os dois produtores que receberem as menções honrosas beneficiarão, por sua vez, de até três meses de acompanhamento e formação técnica. Com esta terceira edição, a cadeia de distribuição alimentar “ultrapassou a centena de candidaturas aos prémios”, explicou no final do evento Vasco Simões, um dos administradores da cadeia do grupo francês Os Mosqueteiros.
27 mil toneladas de produção agropecuária por ano
Miguel Alves, também administrador da insígnia de retalho alimentar, teve honras de abertura do evento, lembrando como nasceu a iniciativa de incentivo à produção portuguesa. O Programa Origens surgiu em 1999 com a denominação Programa AGRO, sendo “pioneiro no apoio à produção nacional através de acordos diretos com os produtores”. Garante até hoje acompanhamento na produção e escoamento dos produtos a mais de 170 fornecedores locais, envolvendo “27 mil toneladas de produção agropecuária por ano e mais de 300 referências portuguesas certificadas nos termos do programa”. No total, o projeto já atribuiu mais de um milhão de euros de incentivos à produção nacional. “O País precisa de um setor agrícola moderno. A procura por produtos tradicionais que satisfazem a curiosidade e a novidade representa uma franja crescente no setor da agropecuária”, sublinha o responsável.
Governo quer alargar lei da rotulagem a laticínios
O Ministro Luís Capoulas Santos, por sua vez, revelou as prioridades do Governo para a agricultura. O Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2014-2020, que conta com “milhares de projetos despachados”, abre no próximo mês de novembro as candidaturas aos investimentos para explorações agrícolas e transformação e comercialização de produtos agrícolas. As prioridades do Ministério “passam pelos apoios florestais”, devido aos incêndios que devoraram as florestas do País este verão, assim como pelas “questões de rotulagem dos produtos”. Depois de aprovada em abril deste ano a lei que obriga à rotulagem da origem de toda a carne, o Governo “está a lutar em Bruxelas para estender ao setor dos laticínios”. Transformar a bandeira Portugal Sou Eu na “marca chapéu” para a internacionalização dos produtos portugueses é também uma das prioridades do Ministério, assim como “modernizar 180 mil hectares da rede nacional de regadios até 2020”.
Abertura de novos mercados para setor agrícola
Os esforços do Executivo para desenvolver o setor agrícola nacional passam ainda pela abertura de novos mercados. De acordo com o Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, “estão em curso processos para abertura de 23 mercados aos produtos nacionais”.
O responsável desempenhou o papel de representante do Governo na sessão de debate, promovida em parceria com o jornal Expresso, que antecedeu a entrega de prémios. Perante uma plateia de produtores nacionais e outros empresários ligados à agricultura nacional, o debate contou também com a presença de Ana Isabel Morais, diretora-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), Amarillis de Varennes, Presidente do Instituto Superior de Agronomia, Amândio Santos, Presidente da Portugal Foods, João Machado, Presidente da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) e Daniel Campelo, responsável pelo projeto Aromáticas Vivas, um dos vencedores da segunda edição dos prémios do Intermarché, no último ano.
Para o Secretário de Estado, “a agricultura portuguesa está muito mais moderna e direcionada para o mercado. Há dez anos, o setor do azeite produzia 30 mil toneladas. Hoje produz 100 mil. A dinâmica de investimento levou a mais produção. As hortofrutícolas têm uma taxa de cobertura de 97% [percentagem das importações ‘paga’ pelas exportações] e cresceu três vezes nos últimos dez anos”.
Frutos vermelhos são os que mais exportam em valor
“Exportamos mais mas mais barato. Por isso, estamos a perder valor”, observa, por outro lado, Amândio Santos. O presidente da Portugal Foods destaca a necessidade de uma marca de suporte à produção nacional. “Quando abordamos outros mercados, temos que apresentar o contexto – em que condições são criados os produtos e as mais-valias que apresentamos. Os frutos vermelhos, por exemplo, são uma aposta recente que, em pouco tempo, se tornaram os frutos que mais exportam em valor. Se apontarmos para os mercados nórdicos, para um consumidor mais exigente, que valoriza a qualidade e a sustentabilidade, somos obrigados a acrescentar valor e a valorizar os produtos”.
“Há empresas do norte da Europa a investirem em Portugal pelas ótimas condições e custos mais baixos”, revela, por sua vez, o representante do projeto Aromáticas Vivas. “Temos uma empresa associada que investiu quatro milhões de euros na agricultura em Portugal e o produto vai ser vendido no Reino Unido”.
Exportações crescem 300 milhões por ano
“Desde há cinco anos, as exportações agroalimentares cresceram mais de mil milhões de euros, a um ritmo de 300 milhões por ano”, indica João Machado que, no entanto, recusa a ideia de que Portugal apresenta condições de solo ideais para a agricultura. “Não temos terrenos de qualidade, temos é certas porções de solo magníficas”. O Presidente da CAP destaca ainda alguns dos problemas do setor, como o licenciamento das empresas, por parte das entidades públicas, que “leva anos a acontecer” ou a “lacuna em investigação, conhecimento e tecnologia” na agricultura portuguesa e ainda a falta de mão-de-obra para as colheitas. “Estamos agora a voltar a juntar-nos às universidades. Esta ligação com as universidades não existia há 30 anos. Somos o que somos hoje no setor do azeite devido ao investimento espanhol em tecnologia e investigação. Outro problema é não haver mão-de-obra no verão para as colheitas. Precisamos também de medidas para flexibilizar o recrutamento de jovens a partir dos 16 anos e de uma política fiscal que não prejudique nem os jovens nem os pais”.
Agricultura procura cada vez mais universidades
De acordo com a professora e presidente do Instituto que recebeu o evento, “as empresas de maior dimensão ligadas à agricultura procuram cada vez mais as universidades para resolver problemas mais complexos, como o aparecimento de uma planta invasora”. Amarillis de Varennes destaca a contribuição dos setores do “turismo e da restauração, que têm elevado a imagem do País e impactado a valorização dos produtos lá fora”.
Defendendo os interesses das empresas de distribuição, a diretora-geral da APED sublinha, por sua vez, que “os hábitos de consumo mudam mais rápido que a capacidade de resposta da cadeia de valor” e que “o setor da distribuição puxa pela inovação”. Para Ana Trigo Morais, “neste momento, os desafios junto do consumidor são a sustentabilidade e a transparência”.
Também o Secretário de Estado denota que as cadeias de distribuição “tiveram um papel muito importante na evolução dos produtos, ao trazerem novos formatos, concentrarem oferta e obrigarem a cumprir e manter requisitos específicos de qualidade dos produtos”.
Luís Vieira conclui que o futuro do setor agrícola nacional passa pelo “conhecimento e pela aposta em tecnologia, inovação e internacionalização. É importante a criação de marcas chapéu, como a Portugal Foods ou a Portugal Wines, assim como apostar na visibilidade dos produtos através da diferenciação. Nos vinhos, por exemplo, temos que vender o território, as nossas castas e o nosso clima”.
Os vencedores do Prémio Intermarché para a Produção Nacional
O júri dos prémios Intermarché para a Produção Nacional, composto por membros da APED, CAP, Faculdade de Medicina Veterinária, ISA, Intermarché, Quercus e Grupo Impresa, avaliou os produtores portugueses com base em critérios de produção sustentável, inovadora e tradicional. Os vencedores da terceira edição do concurso são:
Vivid Foods
A produtora açoriana criada em 2014 venceu na categoria de Carnes e Preparados de Carne, por mostrar preocupação com a saúde dos consumidores, bem-estar animal e com o planeta, assim como com os produtores dos Açores. A candidatura foi feita em parceria com a Cooperativa Agrícola Unicol, sediada na ilha Terceira e com 800 associados, que garante o escoamento dos produtos em Portugal continental. A empresa está atualmente a desenvolver refeições prontas a cozinhar, entre outros projetos.
Receituarium
As almôndegas de cavala da Receituarium valeram-lhe o prémio na categoria de Pesca e Preparados de Pesca. A produtora de Peniche utilizou um produto considerado subaproveitado – a cavala – para criar uma refeição saudável, rápida de confeccionar e que promove o consumo de peixe entre as crianças. Atualmente, a produtora vende também uma referência direcionada a adultos.
Pom Portugal
A romã da Pom Portugal convenceu o júri na categoria de Frutas e Preparados de Frutas, derrotando assim o ananás açoriano da Estufaçor. A empresa resulta da iniciativa de três jovens agricultores que se juntaram para promover práticas de agricultura sustentáveis e fazer escoar as romãs produzidas no Baixo Alentejo.
Hubertus Lenders – Bonjardim
Produzido na Quinta da Portela, em Nesperal, na Sertã, o vinho biológico Bonjardim venceu na categoria de Produtos Processados, subcategoria de vinhos. A empresa adotou a agricultura biológica em 1989, sendo certificada desde 1992. Além disso, dá preferência à contratação de trabalhadores locais.
Granja dos Moinhos
O queijo de cabra “Puro Chévre” da Granja de Moinhos foi considerado o melhor naquela subcategoria de Produtos Processados. A empresa de Adolfo Henriques, sediada em Maçussa, na Azambuja, é especialista na produção artesanal de queijo de pasta mole “chévre”, recorrendo a práticas sustentáveis, que vão desde a livre pastagem dos animais à não utilização de alimentos processados na confeção.
Quinta dos Fumeiros
A minhota Quinta dos Fumeiros concorreu com dois dos seus produtos na subcategoria de Charcutaria, inserida na categoria de Produtos Processados. A empresa familiar, com uma história ligada à criação de suínos e que hoje oferece enchidos de peru e de porco, desenvolveu o Presunto de Peru, considerado o produto mais inovador nesta categoria. Além disso, o segundo produto que levou ao concurso – o Cachaço de Porco – venceu uma menção honrosa.
Coresa – Conserveiros Reunidos
A Conserveiros Reunidos não venceu a categoria de Pesca e Preparados de Pesca, à qual concorreu, mas o júri atribuiu-lhe uma menção honrosa pela nova gama de sabores (pimenta da terra e ervas finas, azeite virgem extra e óregãos e cinco pimentas) criada nos Açores para a marca Bom Petisco.