Pastagem diferencia leite dos Açores
É a pastagem que diferencia o leite dos Açores. A Terra Nostra lançou um programa de certificação para comercializar laticínios “mais puros e saudáveis”

Rita Gonçalves
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Os bovinos nos Açores pastoreiam ao ar livre e em comunidade, alimentam-se à base de erva fresca durante todo ao ano e gozam de uma deslumbrante panorâmica com vista para o mar. “Em todo o mundo só há dois ou três locais com estas caraterísticas”, sublinha Cátia Dias, gestora marca Terra Nostra, para explicar que, por esse mundo fora, a grande maioria destes animais vive fechado em estábulos e alimenta-se à base de ração. A marca comercializada pela Bel Portugal decidiu tirar partido das condições únicas do arquipélago para a produção de leite e lançou o “Programa Vacas Felizes” no início do ano passado. “Uma vaca mais nutrida e com menos stress é mais feliz e dá leite mais puro e saudável”, explica a gestora da marca embaixadora do arquipélago.
O programa de certificação de leite proveniente da raça Holstein assenta em cinco pilares – pastagem, bem-estar animal, qualidade e segurança alimentar, produção sustentável e eficiência – e para fazer parte deste os produtores devem garantir um conjunto de requisitos e boas práticas. Além de nascer da vontade de criar valor na categoria de laticínios, o programa promove o bem-estar dos animais, impulsiona a economia da ilha, olha para o futuro das gerações vindouras e preserva os recursos naturais do arquipélago. A Terra Nostra certificou até ao final do ano passado 18 produtores “de leite de vacas felizes” (cumprem pelo menos 90% das boas práticas e 100% dos requisitos) que representam cerca de 15 milhões de litros de leite. “Os produtores têm de fazer um investimento médio de €20 mil euros para alcançar a certificação” e recebem em média mais €01, 20 por cada litro. O leite proveniente de vacas felizes ainda não é separado das restantes recolhas. “Quando o número de produtores se justificar vamos ter um tanque só para o leite certificado”.
A empresa trabalha com 500 produtores açorianos, que representam cerca de 400 explorações, em média, com 80 vacas cada.
14 mil toneladas de queijo/ano
A Bel convidou uma pequena comitiva de jornalistas para visitar uma das três fábricas em Portugal, concretamente a localizada em Ribeira Grande, São Miguel, nos Açores, em outubro do ano passado. Nesta unidade, que ocupa 13 km2, são produzidos os queijos Terra Nostra e Loreto. “220 mil litros de leite por dia chegam nesta altura do ano à unidade com capacidade para transformar 14 mil toneladas de queijo/ano, embora no último ano tenha transformado cerca de 10 mil”. É também nesta fábrica que está a única unidade de fatiamento utilizada por todas as marcas do grupo. A Bel tem ainda uma fábrica, na Covoada, também nos Açores, onde é desenvolvida a produção de leite UHT e outra em Vale da Cambra, no Continente, onde produz os queijos Limiano e Pastor. Nas três unidades industriais emprega 500 pessoas.
Com uma história de 150 anos, a multinacional de origem francesa adotou a denominação Fromagerie Bel (antes Lacto Ibérica) em janeiro de 2014, fruto da compra do grupo Bel. A Bel Portugal incorpora por fusão diferentes empresas de laticínios (Lacto Lusa, Lacto Lima, Lacto Açoreana, Agrolactea, Latícinios Loreto) e no ano passado alcançou uma faturação de 130 milhões de euros. “A empresa lidera o mercado de queijos em Portugal com uma quota de mercado em valor de 19,5% com as marcas estratégicas Limiano, Terra Nostra, A vaca que ri e Mini Babybel. No principal semento de mercado – o queijo flamengo – a Bel detém a liderança com 39,8% de quota em valor com as suas principais marcas”.
O setor dos lacticínios em Portugal está a passar por um período conturbado. O mercado nacional perdeu 7% em volume – “há contração no consumo dos lares mas não se verifica compra de alimentos substitutos, o crescimento em volume deve muito ao apoio promocional”. O fim das quotas leiteiras, o embargo russo, a retração do mercado chinês e a quebra de consumo interno, originaram “excesso de leite” no mercado. Para escoar a produção os preços caíram, a intensidade promocional aumentou e surgiram novas categorias e produtos mais baratos, como o queijo edam, por exemplo.
A marca Terra Nostra, conhecida por 95% dos lares nacionais, alcançou em 2014 um volume de negócios de 40 milhões de euros. Com mais de 60 anos, a marca que começou por vender queijo é hoje uma marca de laticínios que exporta para 12 países, entre os quais Angola, Moçambique, Cabo Verde, Venezuela, Canadá, França e Alemanha.