ESPECIAL Packaging: “Uma embalagem deve economizar mais do que o seu custo”
O consumidor moderno exige muito mais de uma embalagem do que a simples preservação dos alimentos em perfeita condição de segurança. Os formatos e as funcionalidades adicionais, assim como o perfil ambiental do ‘packaging’, pesam “muito” na decisão de compra de um produto
Ana Catarina Monteiro
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O consumidor moderno exige muito mais de uma embalagem do que a simples preservação dos alimentos em perfeita condição de segurança. Os formatos e as funcionalidades adicionais, assim como o perfil ambiental do ‘packaging’, pesam “muito” na decisão de compra de um produto.
“Cada vez mais os produtos e as marcas tendem a evoluir no sentido de fazerem com que as suas embalagens sejam um elemento diferenciador na mente dos consumidores e no linear do supermercado, onde é travada a batalha entre as marcas”, dá conta Miguel Aballe em entrevista ao HIPERSUPER. O diretor-geral da Associação de Latas de Bebidas fala em “especialização de consumidores por segmentação” para designar uma das principais tendências atuais para o setor das embalagens. “Por exemplo, há cada vez mais famílias de uma ou duas pessoas que primam por formatos de embalagens mais pequenas ou individuais em multipacks”.
“Conveniência” torna-se assim a “palavra-chave para descodificar” as funções que as embalagens devem adaptar para responder aos padrões de consumo modernos. Marina Sanchez, diretora de comunicação da Tetra Pak Ibéria, afirma que hoje “o consumidor já não faz um esforço para se adaptar às embalagens se estas não responderem ao que procura e necessita. Espera que estas sejam um elemento facilitador do seu estlo de vida e identificador das suas escolhas e opções pessoais. As marcas são muito importantes na decisão de compra, mas o “mix de embalagens” oferecido deve ser muito bem ajustado ao perfil dos clientes sob pena de estes procurarem soluções alternativas”.
Formatos são fator decisivo de compra
O consumidor quer “formatos ergonómicos, ajustados a mãos pequenas ou mãos com menor mobilidade, embalagens ajustadas a famílias alargadas ou a lares unipessoais, a consumos em casa ou na rua. Oferecer aos produtores flexibilidade na produção com possibilidade de mudança rápida entre volumes, soluções de abertura ou formato é hoje uma mais-valia importante para os fabricantes de embalagens que se queiram afirmar. Esse tem sido também o caminho seguido pela Tetra Pak”.
Um forte aliado das marcas na hora de vender, além da conveniência de formatos, é também o design da embalagem. “Hoje uma embalagem com design descuidado afasta o cliente impedindo as vendas”, defende Paulo Gomes, diretor-geral da Blueline. “Notamos um aumento da preocupação das empresas com o design, generalizado e transversal. Há dez anos a preocupação com a apresentação era tida principalmente pelas marcas premium ou líderes”. A empresa especialista em design de ‘packaging’ observa também “uma progressiva personalização da embalagem, por gamas ou no limite por unidade”, para atrair aos vários segmentos de público.
Por outro lado, o diretor geral da associação que reúne os produtores de latas de bebidas, defende que os consumidores revelam um “elevado nível de conhecimento e uma maior consciência ambiental” e a indústria deve caminhar no sentido de “eliminar embalagens desnecessárias”, beneficiando da “inovação e do eco-design” em geral. “Tudo o que sejam embalagens supérfluas deve desaparecer. O consumidor está atento a este aspeto”.
Sustentabilidade em toda a cadeia de valor
“Uma embalagem deve economizar mais do que o seu custo”. O lema com que Ruben Rausing fundou a Tetra Pak em 1951 é seguido até hoje pela multinacional de processamento e embalagem de alimentos, que fornece sobretudo soluções de cartão para produtos líquidos.
Desde os materiais utilizados à capacidade de reutilização, o perfil ambiental dos produtos de packaging faz com que toda a cadeia de valor se torne mais sustentável e reduza custos, como explica Marina Sanchez. “Ao nível do consumidor, há que oferecer a possibilidade de optar por embalagens com uma pegada ambiental reduzida que utilizem materiais renováveis na sua composição e que sejam recicláveis”. Do ponto de vista dos “embaladores de produtos alimentares”, estamos perante um “mercado cada vez mais exigente e competitivo que procura soluções de embalagem custo-eficientes que representem uma verdadeira mais-valia do ponto de vista da boa gestão de recursos”.
Neste sentido, “o packaging do produto deve, cada vez mais, ser um fator de facilitação da distribuição, um elemento de comunicação/informação ao consumidor e de promoção das marcas e uma solução geradora de otimização do processo produtivo, contribuindo para a redução de consumos de matérias-primas, água e energia e de redução de resíduos”.
No linear, a embalagem hoje representa também um “cartão de visita das marcas” em termos ambientais. “A componente ambiental da embalagem é valorizada quer pelos consumidores, quer pelos produtores que compreendem, de forma crescente, a importância do perfil ambiental das embalagens que colocam no mercado e o papel que esta representa na redução da pegada ambiental do seu processo produtivo e na sustentabilidade da sua atividade”, sustenta a responsável da Tetra Pak.
Guloso adota embalagens de cartão
Em 2015, a multinacional lançou no mercado nacional o sistema de embalagem Tetra Recart Aseptic através da Guloso. A marca de temperos transferiu a sua gama de tomate fresco em pedaços, simples e enriquecido, do embalamento em metal para este novo sistema de embalagem em cartão. “Esta nova solução está vocacionada para embalar produtos de tomate em pedaços e inteiro, frutas, vegetais, molhos, sopas e refeições pré-preparadas”, garantindo um prazo de validade que pode ir até aos “24 meses, sem conservantes nem necessidade de refrigeração”.
O sistema Recart Aseptic “reduz custos e aumenta a eficiência ao longo da cadeia de produção e distribuição”. Garante entre 40% e 75% menos emissões de gases com efeito de estufa, reduzindo assim a pegada de carbono e o impacto ambiental dos produtores/embaladores. “A embalagem é 100% reciclável e composta maioritariamente por cartão, um recurso renovável, proveniente de florestas geridas de forma sustentável e certificadas pelo Forest Stewardship Council”. Já no ponto de venda, “devido ao seu formato compacto retangular, a embalagem liberta entre 30% a 40% de espaço em prateleira, comparativamente com outros sistemas e melhora em 30% o tempo de reposição e a eficiência em loja”. O desperdício por quebra ou deformação cai “80%” e permite ainda “reduzir o peso da embalagem em 90% e 65%, respetivamente, comparativamente com outros sistemas de embalagem em vidro ou metal.
Paulo Gomes considera que “o vidro e o papel ou cartão mantêm-se como materiais principais, surgindo com uma maior amplitude de texturas e de níveis de reciclagem”. Apesar disso, o responsável da associação dos produtores de latas de bebidas, cuja matéria-prima é o metal, diz que este é “um material permanente e tem como principal força a capacidade de se reciclar infinitamente. A lata é 100% reciclável e tem uma qualidade inigualável, caraterísticas que não se podem aplicar a todas as outras embalagens”.
Latas de metal 100% recicláveis
Em 2015, o setor de latas de bebidas sofreu uma “profunda renovação de instalações”, que envolveu “melhorias nos métodos de produção, poupança energética, um maior aproveitamento das matérias-primas e uma maior flexibilidade para servir o cliente”.
A aposta mais forte do segmento de latas é, “indiscutivelmente”, a sustentabilidade e melhoria dos métodos de reciclagem, uma vez que “a utilização da embalagem metálica em condições competitivas está intrinsecamente ligada à fixação das taxas de reciclagem, como as que vigoram atualmente, as mais altas que se praticam ao nível das embalagens”.
No entanto, o processo de reciclagem das embalagens apenas se garante “potenciando e melhorando o sistema atual de recolha seletiva do Ponto Verde”, sublinha Miguel Aballe. “Ainda que as latas de bebida possam ser recuperadas através de vários procedimentos, a recolha seletiva favorece uma melhor qualidade e, sobretudo, ao ser um sistema de recolha comum para todo o tipo de embalagens e materiais de todos os formatos, permite melhorar a consciencialização do cidadão para a recolha de todo o tipo de embalagens usadas, que é a única maneira de cumprir adequadamente os requisitos da economia circular”.
No último ano, a associação dos produtores levou a cabo ainda o projeto “Every Can Counts” (Cada Lata Conta) com o objetivo de potenciar a recuperação de embalagens fora do lar. Por sua vez, a Tetra Pak está empenhada em “duplicar” a taxa de reciclagem das suas embalagens de cartão para 40% até 2020 a nível mundial. “Estamos a trabalhar para essa meta apoiando e promovendo ações de sensibilização para a separação porque só com o contributo e o envolvimento dos consumidores este objetivo será possível”, aponta a diretora de comunicação.
Cerveja em lata é a menos consumida
O diretor geral da associação considera que Portugal consome as embalagens “mais avançadas quanto às suas propriedades, peso, tecnologia de impressão e sistema de fecho. Exatamente as mesmas que a maioria dos principais mercados. Apenas no caso da cerveja esta tendência não é seguida”.
A associação observa que o consumo de cerveja em lata em Portugal não atinge os mesmos níveis que em outros mercados, privilegiando a pressão e o vidro. “Vejam-se os casos do Reino Unido, França, Estados Unidos da América ou Japão, entre outros, onde, na maior parte das ocasiões, a cerveja em lata é a embalagem predileta para o consumo desta bebida”.
Apesar de insatisfeito com a situação, Miguel Aballe está convencido de que “em breve” o mercado português de cerveja irá “espelhar o mapa do consumo” da maioria dos mercados, dividindo-se em três terços: “um terço corresponde à pressão, outro ao vidro e outro à lata”.
No que diz respeito às latas, os consumidores nacionais optam “preferencialmente por formatos de 330ml, bem acima de qualquer outro tamanho. E, dentro deste segmento, as latas cilíndricas ‘sleek’ estão a crescer, devido à forte aposta de algumas marcas neste formato”.
A associação “tem notado um crescimento das vendas, no cenário atual de pós crise”, e considera que as empresas do País estão preparadas para enfrentarem os desafios do futuro. “O setor está a experimentar um processo de otimização em toda a Europa, no qual Portugal é parte integrante, com perspetivas de dar um melhor serviço aos embaladores e, por conseguinte, ao consumidor final”.
Leite e néctares em embalagem cartão
As embalagens de cartão da Tetra Pak têm sido a “principal opção de embalamento dos principais produtores de leite ultrapasteurizado e sumos 100% e néctares” em Portugal. Os consumidores portugueses podem encontrar as soluções da multinacional sobretudo naquelas categorias de produto, embora a marca opere no País também através do embalamento de leite pasteurizado, natas, molhos, vinho, produtos de tomate, bebidas de soja, bebidas refrigerantes não carbonatadas ou sumos de vegetais.
Mas, para Marina Sanchez, “há ainda muitas outras categorias alimentares onde as embalagens de cartão podem trazer vantagens significativas, tanto para os produtores/embaladores como para o consumidor final como, por exemplo, a água, o azeite e os vegetais tradicionalmente comercializados em embalagens de vidro ou metal”.
A nível global, a Tetra Pak segue a ambição de colocar no mercado embalagens 100% renováveis. Para isso, está “atualmente a trabalhar para que o plástico utilizado nas embalagens tenha origem vegetal”. A multinacional perspetiva alargar a carteira de clientes ao longo deste ano, “mostrando os benefícios das embalagens de cartão para novas áreas e categorias de produto”.
*Na edição impressa, o artigo surgiu com o nome do diretor-geral da Blueline, Paulo Gomes, errado. O HIPERSUPER pede desculpa a todos os visados.