ESPECIAL AZEITE. Prémios valem entrada em novas geografias
As distinções internacionais ajudam a posicionar o azeite português entre os melhores do mundo e abrem as portas de novas geografias. Os produtores estão de olhos postos em mercados sem tradição de consumo
Rita Gonçalves
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As distinções internacionais ajudam a posicionar o azeite português entre os melhores do mundo e abrem as portas de novas geografias. Os produtores estão de olhos postos em mercados sem tradição de consumo.
Depois de ter alcançado o valor mais elevado dos últimos 50 anos na campanha 2013/2014 (90 mil toneladas), a produção nacional de azeite pisou o vermelho na última campanha. Em 2014/2015, Portugal produziu 61 mil toneladas de azeite, menos 33,5%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. O revés na campanha levou a um aumento do preço da matéria-prima que acabou por pesar no bolso dos portugueses. “A falta de azeite em Portugal, e no mundo, levou a um aumento seu valor, o que obrigou produtores, mas sobretudo embaladores, a aumentarem os preços”, sublinha em entrevista ao HIPERSUPER José Baptista, gerente da Cooperativa Agrícola da Vidigueira. A opção por gorduras alternativas, mais baratas, foram uma opção para muitos portugueses.
Segundo dados da consultora Nielsen, no último ano, foram comercializados 37 milhões de litros de azeite no retalho nacional, menos 7%. Por outro lado, o volume de negócios da categoria cresceu 3% para 133 milhões de euros, em resultado da diminuição da oferta nos lineares. Um total de 79% dos lares em Portugal comprou a categoria no último ano, deslocou-se em média nove vezes aos super, hipermercados e estabelecimentos de comércio tradicional e gastou €4,33 em cada ato de compra.
Tendências de consumo
Entre as principais tendências de consumo em Portugal está o aumento da procura por azeite virgem extra em detrimento de azeites refinados. Segundo a Nielsen, esta variedade representa 72% das vendas de azeite no retalho nacional. O consumidor português é cada vez mais informado, “sabe fazer a distinção entre virgem extra e azeite refinado e identifica as vantagens do primeiro em relação ao segundo”, explica o responsável da Cooperativa Agrícola da Vidigueira. O virgem extra é obtido exclusivamente por processos mecânicos e o refinado é produzido a partir da refinação do azeite virgem e, por isso, revela mais acidez.
A qualidade desta variedade de azeite tem vindo a aumentar. “Com a aposta no projeto agrícola, com a plantação do maior olival do mundo, e na construção do lagar conseguimos controlar toda a cadeia de valor e marcar a diferença no segmento virgem-extra”, explica Otto Teixeira da Cruz, diretor de marketing. Uma aposta que tem ganhado adepto, sobretudo no Alentejo, onde a plantação de olival tem crescido.
A procura de sabor é mais uma motivação para a compra. “Os portugueses estão a tomar mais refeições em casa e a recuperar as receitas da dieta mediterrânica, nas quais o azeite ocupa lugar de destaque. Para cada vez mais consumidores a principal motivação de compra é o sabor aliado às experiências gastronómicas mais elaboradas, onde se enquadram opções diferenciadoras, como o azeite temperado com ervas aromáticas ou flor de sal, por exemplo”, revela ao HIPERSUPER fonte da Adega Mayor, negócio de vinho e azeite do Grupo Nabeiro cuja produção está concentrada em Elvas e Campo Maior, Alentejo. “Os consumidores procuram hoje diferentes tipos de azeite para diferentes momentos de consumo e tipos de utilização”.
A procura por ofertas, promoções, novos produtos e inovações é mais uma tendência, conta, por sua vez, o diretor de Marketing da Oliveira da Serra. “Diferenciação que se pode fazer via produto, acrescentando valor aos nossos produtos e à categoria, dos quais são exemplo a tampa ‘pop up’, o azeite em spray ou o lançamento de um azeite concebido especificamente para a dieta dos bebés”. Uma coisa é certa, garante Otto Teixeira da Cruz. “Portugal tem um consumo ‘per capita’ abaixo dos principais países consumidores de azeite, como Itália, por exemplo. Tendo em conta o potencial de consumo de azeite em Portugal, acreditamos que há ainda espaço para crescer nos próximos anos”.
Marcas líderes
As marcas de fabricante lideram as vendas de azeite no retalho nacional, com 60% de quota de mercado. Segundo a consultora Nielsen, as marcas líderes em valor nos últimos doze meses são, respetivamente, Gallo (Gallo Worldwide), Oliveira da Serra (Grupo Sovena), Serrata (Manuel Serra), Moura (Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos) e Condestável (Gallo Worldwide).
Enquanto as marcas de fabricante aumentaram a quota de mercado no último ano, pelo contrário as marcas da distribuição perderam terreno (-1%). “Os consumidores querem ver a cara do produtor, querem conhecer a origem” do ouro líquido. “As marcas dão maior qualidade e garantia ao produto”, garante o gerente da Cooperativa alentejana.
O diretor de marketing da Oliveira da Serra explica, por outro lado, que o crescimento das marcas de fabricante deve-se à aposta das marcas na diferenciação. A marca da Sovena têm-se diferenciado “não só pela inovação mas também pela qualidade, como demonstram os prémios internacionais atribuídos à marca”. Recebeu mais de 200 prémios, entre as distinções nacionais e internacionais, que reconhecem a qualidade do azeite mas também do Lagar que, pelo segundo ano consecutivo, foi considerado o melhor do mundo, no ranking do World’s Best Olive Oil Mills.
Prémios ajudam a exportar
As distinções têm ajudado a posicionar o azeite português entre os melhores do mundo. As exportações crescem à boleia do reconhecimento internacional e algumas marcas apostam em novas paragens, países onde tradicionalmente o consumo de azeite é reduzido. É o caso de Oliveira da Serra. “Começámos a exportar para países com forte presença de comunidades portuguesas mas a expansão geográfica tem assumido uma relevância cada vez maior. Assim, mais recentemente iniciámos a exportação para países distantes, como a Rússia, a Índia e a China. Nestes países sem grande tradição no consumo de azeite, a participação em concursos de referência, como o Oil China e Olive Japan, os bons resultados alcançados são fundamentais para abrir as portas” em novas geografias. Estamos atualmente a apostar numa escolha criteriosa de mercados para onde exportar o nosso azeite. Temos a ambição de, a curto prazo, através de um trabalho qualitativo, tornar a Oliveira da Serra na marca mais vendida do mundo”, sublinha Otto Teixeira da Cruz.
O negócio do azeite é uma recente aventura para a Adega Mayor mas já representa 10% do volume de negócio da empresa da família Nabeiro, dona da Delta Cafés. A empresa de Campo Maior tirou partido da área onde está instalada, região DOP (Denominação de Origem Protegida) onde a tradição da cultura do olival é ancestral. O azeite nasceu como um produto complementar ao vinho e é exportado hoje para todas as geografias onde o vinho está presente, mas sobretudo para Angola e França.
A Adega Cooperativa da Vidigueira, apesar de não ter importadores oficiais, exporta pontualmente para os Estados Unidos da América, Ásia e alguns países do centro da Europa. “Os mercados mais dinâmicos são os desenvolvidos, cuja população começa a estar sensibilizada para compra de azeite em detrimento de óleos alimentares e têm poder de compra”.
Inovar para fazer diferente
Apesar de ser um setor onde inovar não é tarefa fácil, as empresas têm vindo a lançar novas embalagens, mais práticas e lídicas, versões premium ou azeite das primeiras colheitas para acrescentar valor e diferenciação aos produtos. “Faz parte do ADN da Oliveira da Serra inovar e temos conseguido fazê-lo através do lançamento de novos azeites com caraterísticas diferenciadoras no sabor e utilização culinária, como é o caso do azeite para fritar. Mas também inovámos na embalagem, com a criação da tampa ‘pop up’ e do azeite em spray. Lançámos ainda uma inovação para o público mais gourmet. O azeite Único, tal como o nome indica, é único em sabor e permite a personalização do rótulo”. A empresa escusa revelar os lançamentos para esta época natalícia mas diz estar atualmente a trabalhar a primeira colheita da nova campanha de azeitona que deve chegar ao mercado brevemente.
A Adega Mayor destina a produção a um target premium e aposta, por isso, numa gama de azeites virgem extra que evidenciam os atributos do Alentejo enquanto região produtora. “Esta é uma categoria em crescimento e será alvo de uma reformulação a curto prazo que acrescente ainda mais valor ao produto. Essas reformulações incidem sobretudo na imagem da marca e no packaging”. Para conquistar os consumidores neste Natal, período nobre para a venda de azeite, a Adega vai criar cabazes multiproduto onde vinho e azeite são protagonistas.
A Cooperativa alentejana aposta na certificação para diferenciar os seus produtos. “As certificações garantem que o azeite virgem extra segue os mais elevados parâmetros de qualidade, é livre de pesticidas e controlado mediante produção integrada”. O azeite da nova campanha, uma edição especial de colheita precoce, é a grande aposta para este Natal.