Salinas algarvias produzem sal líquido preservando método tradicional
Numa vila do Distrito de Faro, a empresa Terras de Sal conseguiu reduzir o teor de sódio do sal tradicional, transformando-o em sal líquido. Chega assim ao mercado uma solução para os consumidores com problemas de hipertensão, com vantagens também para desportistas
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Para conhecer as vantagens do mais recente formato de sal disponível no mercado, o HIPERSUPER entrevistou o Presidente da Terras de Sal, Luis Horta Correira, que explora três salinas com, aproximadamente, 10 hectares no total, em Castro Marim, no Algarve.
(imagens no final do texto)
Como, quando e em que circunstâncias nasceu o produto?
O sal líquido, enquanto produto, nasceu em Castro Marim em 2012. Nesse ano apresentámo-lo na feira Biofach, em Nuremberga, como primeiro teste à receptividade ao conceito, sabor e embalagem. Ora acontece que, como salineiros, o nosso dia-a-dia é trabalhar com as águas e a sua composição salina. Sabendo nós que a água-mãe [matéria-prima] tinha a característica de possuir pouco sódio, soubemos que tínhamos aí uma resposta à necessidade dos consumidores. Passámos então à fase de desenvolvimento do produto, desde a embalagem ao marketing, e dos processos de recolha, triagem, filtração e controlo de qualidade da água-mãe. Esta fase levou-nos cerca de um ano. Em final de 2013 foi lançado no mercado português e internacional.
O que varia na composição deste para outros tipos de sal?
Na realidade o sal líquido é uma aplicação de uma água das salinas tradicionais conhecida em Castro Marim por água-mãe. Esta água é a solução salina que permanece nos cristalizadores das salinas tradicionais após a recolha do sal tradicional. Utilizámos o nome comercial sal líquido por entendermos ser de melhor percepção para o consumidor. Em termos químicos é um produto extraordinário, pela sua rica composição em minerais. É recolhida tendo o Cloreto de Sódio já precipitado, pelo que a solução salina apresenta um teor de sódio cerca de cinco vezes mais baixo que o sal comum. Apresenta também um teor de magnésio cerca de 20 vezes mais elevado que o sal comum, como também teores muito importantes de potássio e iodo.
Em matéria de saúde, é menos prejudicial do que o sal tradicional? Porquê?
Na realidade a ideia de desenvolvermos o conceito do sal líquido surgiu-nos do contacto directo com os consumidores. Uma percentagem significativa dizia que não podia comer sal por conselho médico. A prudência médica em relação ao abuso do sal está principalmente dirigida aos pacientes hipertensos, pela elevada presença de sódio no sal comum, que aumenta a tensão arterial. Também os produtos flor de sal e o sal tradicional têm teores de sódio bastante inferiores ao sal comum, embora não no valor extremo do sal líquido.
Quais as principais características do produto?
É um produto 100% natural, sem processamento físico ou químico, que permite a quem está impedido de utilizar sal comum voltar a temperar a sua alimentação com o sabor salino de que normalmente sentem a falta.
Por outro lado, e ainda não falámos nisso, as quantidades extraordinárias de magnésio e potássio presentes no sal líquido transformam-no num substituto natural às bebidas energéticas e aos compostos de minerais utilizados pelos desportistas para reporem a energia, temperando as comidas saudáveis e ricas em hidratos de carbono, como saladas e massas ingeridas pelos desportistas, e aportando-lhes a energia necessária.
Também sabemos das suas propriedades anti-cépticas. A água-mãe, diluída em água doce, é conhecida tradicionalmente em Castro Marim como um potente desinfetante de feridas. Não estamos no entanto a explorar esta vertente, que careceria de autorizações específicas.
Dirigimos assim o sal líquido a três mercados, o da saúde, o dos desportistas e ao gourmet. Neste último caso, já nosso conhecido, as reações são também interessantes. Particularmente, os grandes chefs falam-nos das possibilidades abertas pelo produto para a cozinha molecular, pelo facto de ser um líquido, criando novas possibilidade de inovação. Pensamos que tudo isto o transforma num produto único.
Este é um produto único no mercado nacional?
Actualmente, já existe um produto concorrente no mercado nacional, de origem estrangeira, mas que se comercializa em farmácias e parafarmácias. Surgiu já durante a fase final de desenvolvimento do nosso sal líquido. Em termos mundiais, como é normal, surgem entretanto também outros concorrentes, mas não muitos. Chamamos a atenção que alguns destes são simplesmente água com sal, algo muito diferente da água-mãe e sem quaisquer características distintivas do sal comum.
O que facilita a versão líquida para os consumidores?
Bom, o formato líquido, surgiu naturalmente, por ser o estado natural da água-mãe, o que permitiu criar o vaporizador na embalagem, que facilita ao consumidor a dosagem individual e correcta. Permite uma excelente dispersão do sabor na comida, ou na grelha ou tacho, distinguindo-se dos outros tipos de sal em grão.
O sal líquido destina-se a ser utilizado tanto em alimentos já confeccionados (como saladas, batatas-fritas, entre outros), como para cozinhar. Tendo um sabor forte, será necessário ao consumidor uma certa habituação na forma de usar. Por exemplo, cogumelos no forno com sal líquido têm um sabor diferente e por aí adiante. É um produto para experimentar e inovar!
Que tipo de condições tiveram de reunir para produzir este novo formato?
A produção de sal líquido obrigou-nos a trabalhar com recolha e embalamento de líquidos, algo completamente novo para quem está habituado a trabalhar com sal em grão. A Terras de Sal montou um processo completamente novo, desde a recolha nas salinas até ao embalamento, para conseguir este produto. Também o processo de controlo de qualidade teve que ser adequado. Todos os nossos lotes são analisados por laboratórios acreditados independentes, de forma a nos permitir controlar este novo produto no consumidor e evoluirmos os processos de recolha e triagem.
Qual o investimento feito no desenvolvimento e lançamento do novo produto?
Sendo uma cooperativa, muito do investimento traduziu-se em muitas horas de trabalho dos nossos cooperantes. Não sei quantificar, mas foram muitas. Tudo foi feito internamente, desde os estudos químicos aos grafismos das embalagens, também para não arriscarmos plágios. Processo de produção, embalagem, qualidade, feiras, feedback de consumidores, foram actividades muito exigentes. Os equipamentos necessários representaram um investimento não muito significativo, não atingiu a dezena de milhar de euros. A Terras de Sal aposta numa produção muito manual, tentando criar emprego e preservar os métodos tradicionais.
Comercializam mais do que uma variedade de sal líquido? Como se constitui a gama?
Não, estamos numa fase purista. Dispomos de embalagens de 125 e 200 mililitros, que comercializamos sobre duas marcas nossas, a Castro Marim e a RAW, e algumas marcas de nossos clientes.
Quais são os actuais canais de distribuição? Está nos vossos planos colocar o produto nas grandes superfícies comerciais?
Directamente não estamos a colocar nas grandes superfícies. Indirectamente sim. A Terras de Sal segue muito uma política de ‘customer brand’. Trabalhamos com os nossos clientes em parceria para lançarmos novos produtos e embalagens. No caso do deste produto o desenvolvimento é todo nosso. As empresas Cem Porcento e Campos & Santos já comercializam o nosso sal líquido desde início de 2014.
O produto destina-se apenas ao mercado nacional ou também para exportação? Em caso de já exportarem, em que países já vendem o produto?
Quando iniciamos o seu desenvolvimento a nossa ideia era exclusivamente o mercado internacional. Este é o nosso mercado por excelência. A Terras de Sal exporta 70% das vendas. No entanto, a recepção local ao produto foi tão boa que rapidamente decidimos também comercializar a nível nacional. Alemanha, Espanha, Holanda e Áustria. Temos outros países em carteira, prováveis a breve trecho, como Suíça, Bélgica, Reino Unido, Canadá, USA e Brasil.
Quais os principais desafios do produto para os próximos anos?
O principal desafio deste produto é a divulgação. Sendo um produto novo, mas que nos parece interessante, o difícil é fazer chegar o seu conceito ao consumidor. E num mercado global esta tarefa ainda se revela mais difícil. Particularmente, para uma empresa como a Terras de Sal, com capacidade de investimento limitada. As imitações de “água-com-sal” também nos preocupam. Estamos a preparar uma abordagem que permita a certificação do verdadeiro produto, o que levará necessariamente algum tempo.