ADN da Distribuição: Os processos e a tecnologia, por José António Rousseau
Um dos grandes desafios da Distribuição é conseguir incorporar ao longo dos próximos anos os modelos cada vez mais futuristas que a (r)evolução tecnológica vai não só permitindo mas até impondo
Rita Gonçalves
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Por José António Rousseau, consultor e docente no IPAM/IAD
ADN da Distribuição
20º e último gene: Processos/Tecnologias
A DISTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA. 1ª Parte
Longe vai o tempo do lápis atrás da orelha e das contas feitas em folhas de papel almaço, atrás do balcão e diante do cliente, com a prova dos nove ao lado.
Hoje, a Distribuição é cada vez mais científica não dando espaço para nostalgias do passado, amadorismos incipientes ou processos atávicos. Um dos grandes desafios da Distribuição dos dias de hoje será o de conseguir incorporar ao longo dos próximos anos os modelos cada vez mais futuristas que a (r)evolução tecnológica vai não só permitindo mas até impondo.
Não se trata, naturalmente, de ficção científica embora muitas vezes tal pareça. Não nos deixemos iludir por pensamentos fáceis. A visão que defendo é muito realista e sustentada em factos concretos e bem verificáveis. Aliás, não deverá ser só o sector da Distribuição a preocupar-se com esta nova abordagem pois ela é extensível a todo o sector da produção, dos serviços, e, no fundo, ao próprio marketing e à gestão.
Novas variáveis
Refiro-me, em concreto, ao imperativo de introduzir com carácter de urgência novas variáveis no desenho de todo e qualquer modelo de negócio, nomeadamente, as variáveis da sustentabilidade, da tecnologia, da criatividade e da inovação, colocando-as ao nível das restantes variáveis clássicas contidas nos quatro Ps de Kotler.
E nelas, como uma nova mentalidade incorporada, acrescentar o ‘design thinking’ que poderemos, de forma lapidar, definir como um movimento contínuo entre processos divergentes e convergentes e entre o analítico e o concreto (Brown 2009).
Hoje, sabemos que a dualidade produto/serviço há muito se esgotou e que todo o produto é um serviço e qualquer serviço é um produto. Hoje, sabemos que qualquer inovação começa com a observação, e que observar, é o processo de ver o que as pessoas não fazem e de escutar o que não dizem. Não pense, olhe!, gritava Wittgenstein.
Hoje, sabemos que o pensamento divergente é o único caminho para a criatividade e que só o que for disruptivo e intrinsecamente original, pode criar valor acrescentado susceptível de ser percepcionado pelos consumidores, logo, ser inovador. Por exemplo, como repensar os famosos carrinhos de supermercado? Como realizar reuniões com telepresença? Como conseguir identificar padrões na desordem da complexa informação que recebemos? Como sintetizar novas ideias a partir de fragmentos da realidade? Como poderão os consumidores projectar tudo o que precisam atingindo o verdadeiro estatuto de prosumers que Alvin Tofler antecipou.
(Quem se lembra ainda daquele cientista louco, Spencer Silver, que nos anos sessenta, na 3M onde trabalhava, inventou aquela coisa das “microesferas copolímeras elastoméricas inerentemente pegajosas” que na época ninguém sabia que utilização lhes dar e hoje todos conhecemos por post-it?)
Mapas do Futuro
Temos todos que, a partir do que conhecemos, das novas tecnologias, dos nossos negócios e das diferentes culturas, começar a desenhar os nossos mapas do futuro, com o objectivo destes nos ajudarem a visualizar as oportunidades e os desafios que amanhã irão entrar por dentro das nossas vidas sem pedir licença.
Para mim, o mapa do futuro da Distribuição terá obrigatoriamente como pontos cardeais:
(1) a informação proveniente dos consumidores através de cartões e trabalhada com as ferramentas valorimétricas e estatísticas do ‘Costumer Centricity’ e partilhada entre produtores e distribuidores em processos de ECR e de ‘Inside Sharing’;
(2) As novas tecnologias (não nos esqueçamos que a Internet tem menos de 5 mil dias de idade) das quais o telemóvel será cada vez mais uma espécie de canivete suíço através do qual desenvolveremos todas as funções ainda hoje repartidas por vários suportes. Não é por acaso que Wal-Mart, Carrefour e Tesco têm inteligentemente investido em novas tecnologias (self-checkouts, tecnologias facilitadoras dos clientes, processos de optimização de preço e sortido, RFID e automação logística) aumentando assim as suas vendas, melhorando as margens comerciais, reduzindo os preços e os stocks e gerando maior satisfação para os seus consumidores;
(3) a miscigenação dos conceitos e formatos que já conhecemos e dos que ainda desconhecemos gerando ofertas diferentes e provocatórias que nos irão atrair, surpreender e fascinar (sim, porque a Distribuição fará cada vez mais parte integrante das economias do fascínio e da atracção, como já hoje são os espectáculos e os desportos);
(4) a globalização/internacionalização que será impiedosa para aqueles que ainda julgam que o facto de serem os melhores da sua rua lhes garantirá ‘ad eternum’ a necessária perenidade dos seus negócios;
(5) a desmaterialização da loja física em virtual transformando-se o ponto de venda em ponto de contacto e de engenharia de experiências como a Apple e a Whole Foods nos estão a ensinar… (continua na próxima semana)
Leia AQUI o 19ª Gene da Série ADN da Distribuição