Primeiro azeite com algas da costa portuguesa
A Nono Sentido lançou os primeiros azeites do Mundo enriquecidos com antioxidantes de origem marinha. Ricardo, CEO da Nono Sentido, conta como nasceu este projecto
Rita Gonçalves
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O projecto de investigação para o desenvolvimento do novo produto custou cerca de 50 mil euros, revela em entrevista ao HIPERSUPER Ricardo, CEO da Nono Sentido, acrescentando que a amortização do investimento deverá ter lugar em 2015.
No final de 2010 criou a Nono Sentido para comercialiar azeites aromatizados produzidos em Vila Flor, Trás-os-Montes. Que balanço faz dos últimos três anos?
Sou um desempregado que resulta da chamada crise do ‘sub-prime’. Foi em 2008. Ao longo do meu percurso profissional sempre desempenhei funções de ‘corporate worker’ em empresas de grande dimensão.
Quando fiquei sem emprego, apercebi-me que havia chegado o momento de lançar um conjunto de projectos tendo por base os princípios que defendia nas grandes empresas.
E um dos projectos que criei – a Nono Sentido – é muito subordinado à minha convicção de que é possível agarrar num produto de qualidade português e adicionar-lhe valor. Retrabalhá-lo e colocá-lo no mercado internacional.
Portugal é um País de qualidade, quer do ponto de vista dos produtos quer das suas próprias caracteríticas.
Na verdade, criar o produto revelou-se mais fácil do que alcançar a minha verdadeira vontade, a de promover o País e atrair estrangeiros a Portugal para vender o melhor do nosso País: clima, cultura, gastronomia, as pessoas, entre outros.
Escolhi o azeite por ser um produto nobre e biblíco. Procurei alguns amigos em instituições de ensino e criámos um produto diferente: os primeiros azeites do Mundo enriquecidos com antioxidantes de origem marinha.
Não existe um produto semelhante no mercado nacional?
Não. Criámos uma disrupção. Este produto é inovador em duas abordagens: primeiro, porque vai usar um tipo de elemento estranho ao azeite, um produto que vem do mar, as algas. E depois, mesmo na concepção e apresentação do produto, no marketing mix, fizémos uma disrupção em relação ao mercado. Criámos um produto muito dirigido, vendido sobre o fim a que se destina e não sobre as suas qualidades técnicas. Isto é, criámos um azeite para peixe e um para saladas. Isto é uma disrupção face ao que existe no mercado do azeite. Conseguimos chamar sobre nós a atenção de muitos especialistas, nomeadamente ligados à gastronomia, que há muito mostravam vontade de ter nos seus restaurantes azeites dirigidos a fins específicos.
Há aqui dois tipos de inovação: uma de produto, de enriquecimento com antioxidantes, através de uma tecnologia que aprimoramos – a aromatização por infusão – que desenvolvemos em parceria com o Instituto Politécnico de Leiria e a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar. Foi um trabalho de um ano e meio.
Como se desenrolou no tempo?
A fase inicial consiste num trabalho com chefes de cozinha onde se exprimentam diferentes combinações de algas e ervas aromáticas. Depois, a fase dos painéis de provadores que, embora amadores, nos vão dirigido para os níveis aceitação do produto. De seguida, a parte de engenharia alimentar para estabilizar o produto para ser vendido com taxas de validade.
O processo de infusão das algas é semelhante ao do chá mas aqui a infusão é feita em quantidades gigantestas. Os mecanismos de vibração e agitação impendem a oxidação do azeite e são controlados através da injecção de azoto. A água e o oxigénio são dois inimigos do azeite no processo de tratamento que dá origem ao virgem-extra.
A alga no interior da garrafa é puramente decorativa. Todos os azeites aromatizados são feitos ‘in cuba’ e não ‘in vitro’. A aromatização na garrafa significa problemas no mercado gourmet por causa das alterações de sabor. É preciso embalar um produto estável ao longo do tempo.
Quando nasceu o primeiro azeite com algas?
No final de 2011 e entrámos no mercado comercial na Primavera de 2012. Estivemos mais de uma ano e meio em laboratório. Houve muitos caminhos interrompidos, muita aprendizagem. O processo de infusão foi muito estudado.
Qual o investimento?
Não está pago ainda. O projecto de investigação custou cerca de 50 mil euros.
Quando estima o break-even?
O investimento é o valor pago às universidades, uma parte apoiada pelo IAPMEI. O custo de I&D (Investigação&Desenvolvimento) só será amortizado em 2015, independentemente de termos vindo a dobrar facturações todos os anos. Durante mais de um ano, não vendemos nada, apenas discutiamos com os cozinheiros.
Só vendem azeites aromatizados?
Quando nasceu a empresa tinha apenas dois produtos. Depois, entendemos que era importante ter um azeite virgem-extra de qualidade. Há uns velhos do Restelo no mercado que defendem que quem aromatiza azeite é porque vende um produto de má qualidade e quer esconder os seus defeitos. Então, numa segunda fase, em parceria com o Instituto Superior de Agronomia, fomos aprender a lotear e fazer azeite virgem-extra de qualidade. Este produto, aliás, vai receber um diploma de uma organização francesa que premeia produtos de qualidade. É um diploma gourmet.
A pedido de algumas superfícies comerciais com as quais trabalhámos criámos no ano passado mais duas referências para o mercado gourmet: um azeite com cogumelos e outro com trufas brancas.
Comercializam outros produtos?
Sim, lançámos ainda uma gama de compotas, no Verão de 2012. Para ganhar espaço em linear. Ter mais formas de mostrar a marca. Grande parte do nascimento destes podutos decorre também de alguma abertura das superfícies comerciais com as quais trabalhamos, nomeadamente gourmets.
No ano seguinte, fizémos patés de azeitona com algas e uma compota de azeitona doce. As algas são gelificantes naturais e estabilizadores e fazem a ligação de elementos na própria textura da massa, o que resulta num paté muito mais aveludado e ligado, menos granulado e ácido.
Continua a existir uma lacuna em produtos ligados às azeitonas nas superficies gourmets, por isso lançámos azeitonas de Trás-os-Montes, recheadas com amendôa e pimento verde.
Qual é o produto estrela?
O Reserva Virgem-Extra e o Especial Saldas.
Onde compra a matéria-prima?
O azeite é produzido pela Cooperativa de Vila Flor. As as algas são apanhadas na costa portuguesa, a Sul de Caminha muitas vezes, mas são processadas na Galiza. Em Portugal, não há grandes empresas de processamente de algas, são todas experimentais, alguma com carácter científico. Mas não há história de indústria de processamento de algas em Portugal. Porque a costa portuguesa é mais arenosa do que a costa espanhola. A empresa galela com a qual trabalho é reconhecida para a produção de alimentos biológicos desde 1988. E não há ninguém em Portugal que faça isso. Os espanhóis são o maior produtor de algas na Europa.
O azeite aromatizado com algas trás benefícios para a saúde?
Nós acreditamos que sim, mas não estão provados e como temos uma base científica queremos ter alguma. O consumo de azeite traz benefícios para a saúde. Isso é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, pela presença de vitamina E e polifenóis, um antioxidante.
Acontece que os mesmos elementos existem nas algas, em quantidades substânciais. As algas são ricas em minerais, polifenóis, vitamina E. Através do enriquecimento com os antioxidantes marinhos, sabemos que há transferência desses ingredientes para o azeite até porque os estudos que fizémos na universidade mostra algum retardamento do envelhecimento do azeite quando enriquecido com as algas.
Retarda a oxidação?
Sim, isso foi constatado, ao longo do trabalho universitário. Existe transferências de aromas e anti-oxidantes das algas para o azeite e o próprio azeite o envelhecimento é retardado.
Aliás, há imensos trabalhos universitários que espelham a tentativa de utilização de elementos extraídos de macro-algas para aumentar o ‘shelf time’ de alguns alimentos, o tempo de vida de certos produtos na prateleira.
O azeite é também aromatizado na cooperativa?
O produto sai da cooperativa embalado, é lá processado mas a extracção dos aromas não. A cooperativa produz o azeite e faz a junção do concentrado de aromas extraído por nós de forma natural. São equivalentes aos óleos essenciais extraídos quimicamente. Mas, não usamos químicos, o produto é natural.
Quais são os canais de distribuição?
Não há um mercado tão grande em Portugal como nós gostariamos para os nossos produtos, pese embora, quando começámos a conceptualizar os nossos produtos, por detrás da necessidade de susbsistência, havia numa vontade de democratizar o conceito do gourmet. A internacionalização é, por isso, desde sempre um dos nossos objectivos. Até 2016, queremos o mercado internacional a valer 80% do volume de negócios.
Por onde começaram, em Portugal?
Pelo Club del Gourmet do El Corte Inglés, a área Gourmet da Auchan e os Supermercados Apolónia, no Algarve. Depois, avançamos para as pequenas lojas gourmet, mercearias finas, lojas da especialidade. Estas pequenas empresas têm clientelas muito fiéis, às vezes há cerca de 40 anos, e quando conseguimos entrar garantimos sempre alguma rotação de produto.
Para onde exportam, actualmente?
Macau, Suécia, Rússia, Angola e França, que vai começar agora. Estou há dois anos envolvido com o mercado japonês, mas é um mercado duro: tem padrões de qualidade elevadíssimos, a concorrência é brutal e a imagem de Portugal enquanto marca é muito fraca. Não há produtos portugueses nos ‘departmanent stores’ de luxo. Os azeites vendidos são na sua maioria italianos. Chegam a classificar os azeites consoante o sítio onde são produzidos em Itália. O axeite mais leve é do sul e o forte do norte. Exportar é uma coisa muita mais complicada do que nós pensamos. Às vezes, é mais fácil trabalhar o mercado português.
Quando começou?
Em 2013.
Quanto representam as exportações face ao volume de negócio?
5%.
Qual o volume de negócio?
70 mil euros.
Qual é o objectivo para o final de 2014?
O objectivo é dobrar a facturação e que as exportações atinjam cerca de 20% do volume de negócios. Não é impossível, basta que alguns dos mercados que temos estado a trabalhar dêem frutos: o Brasil, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Japão.