A versatilidade da casta Fernão Pires, por José Pinto Gaspar (CVR Tejo)
Uma das principais castas brancas portuguesas é o Fernão Pires, cujo berço e principal território são as margens do Rio Tejo
Rita Gonçalves
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Por José Pinto Gaspar, presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo)
O património vitivinícola português é, sem dúvida, dos mais ricos e diversificados a nível mundial. Com as suas quase trezentas castas indígenas, a diversidade genética pode exprimir de Região para Região a sua característica, originalidade e também individualidade.
De Norte para Sul, assistimos a um interminável desfile de nomes, cada um deles ligado a uma casta, sendo que, por vezes, de Região para Região a casta muda de designação, que linguisticamente se designa por sinonímia.
Sem dúvida que uma das principais castas brancas portuguesas é o Fernão Pires, cujo berço e principal território são as margens do Rio Tejo. Na Região da Bairrada dá pelo nome de Maria Gomes.
No entanto, é na Região do Tejo que o Fernão Pires, de forma mais exuberante exprime todo o seu potencial aromático, originando vinhos finos, frescos, frutados e exuberantes.
Podemos dizer que o Fernão Pires do Tejo é “pau para toda a colher”.
Pretendemos com isto dizer que, a partir da casta Fernão Pires e dando total liberdade à criatividade do enólogo, se pode ali produzir quase todos os tipos de vinho que se quiser. Tudo depende das características da matéria-prima uva, ainda na vinha e depois de toda uma tecnologia e criatividade ligada à enologia em todo o processo produtivo do vinho em si.
Podem-se produzir vinhos leves de baixo teor alcoólico, vinhos brancos citrinos mais ou menos frutados, vinhos de mais elevado teor alcoólico com corpo variável, vinhos encorpados e ligeiramente taninosos e com cor acentuada, colheitas tardias, vinhos licorosos, vinhos espumantes e frisantes, enfim, um sem número de diferentes tipos de vinho tendo sempre como base a mesma casta, o Fernão Pires.
Tudo começa na vinha, sua localização, terroir, técnicas culturais associadas a quantidade de produção pretendida por hectare, passando pela densidade de plantação, condução, poda, adubação, rega e outras técnicas culturais.
Uma maior produção por hectare, em solos férteis e bem drenados, geralmente está associada a uma menor concentração em açúcares e outros componentes da uva, que, se associada a uma vindima antecipada, pode originar mostos menos concentrados e doces, induzindo depois vinhos leves, menos alcoólicos.
Optando-se por produções unitárias mais equilibradas, em solos menos ricos e férteis, vindimando-se na altura certa, originamos mostos mais concentrados em compostos aromáticos e açúcar. Esta base, vinificada de acordo com as modernas tecnologias de vinificação, com controlo de temperatura e o recurso ao aço inoxidável, obtemos vinhos equilibrados em álcool, fruta, corpo e acidez, tão ao gosto dos últimos anos.
Essas mesmas uvas, se vindimadas mais tardiamente, com maior teor em açúcares e concentração e posteriormente vinificadas de forma mais tradicional, recorrendo-se à fermentação em madeira e a baixas temperaturas, obtemos vinhos encorpados, menos florais mas não menos expressivos em termos aromáticos.
Nalguns Outonos, menos pluviosos e frios, se o Fernão Pires permanecer nas videiras até meados de Novembro, desenvolvendo o fungo da podridão nobre, assistimos a um fenómeno de extrema concentração de todos os componentes no interior do bago, açúcares incluídos e artesanalmente poderemos produzir os tão ricos colheitas tardias.
E, assim, por diante poderíamos continuar a descrever outras variantes tecnológicas possíveis para este rico património vitícola que é a casta Fernão Pires.