A crise chegou ao retalho?
A opinião de Filipe Charters de Azevedo, Manager da PricewaterhouseCoopers sobre a crise no retalho.

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A crise parece ter passado ao lado do retalho nos primeiros meses do ano. De acordo com o INE, em Maio, o comércio de Produtos alimentares apresentou uma variação homóloga de 3,8%. Os dados ainda são mais animadores se compararmos também a variação dos Produtos não alimentares excluindo combustíveis, onde o mesmo instituto aponta para uma variação de 1,3%. E para compor ainda mais estes números, convém referir que estes dados apresentam uma continuação da tendência que já vinha de traz.
As vendas a retalho são um indicador fundamental da confiança do consumidor e da procura interna. Ter assim valores superiores ao do crescimento da economia mais inflação, conforta o ego de empresários e consumidores. E indica-nos que numa época de austeridade é possível fazer mais. É possível ter confiança no futuro.
Evidentemente que estes números são antes da subida do IVA e do anúncio de mais austeridade, mas revelam bem que o consumo privado é, para já, o principal motor da economia portuguesa. Indicam ainda que o retalho tem uma força própria de resistência à crise. Se dúvidas houvesse, é de salientar que o emprego está aumentar (ligeiramente) neste sector, e o total das remunerações cresceram 1,1%.
A questão está em como ter este consumo dentro da nossa capacidade de pagamento… Ou usando uma frase de um conhecido humorista do séc. XVIII: “Temos de viver dentro dos limites dos rendimentos, nem que para isso se tenha de pedir dinheiro emprestado”.
Mas apesar deste dinamismo, vale a pena olhar para os próximos meses. Como irão reagir as famílias e as empresas ao aumento de 1 p.p. de todas as taxas do IVA? E à introdução de uma tributação extraordinária sobre o rendimento de pessoas singulares? E ao aumento da taxa de IRC em 2,5 p.p. para rendimentos colectáveis superiores a 2 milhões de euros? Qual o impacto do congelamento das admissões de pessoal, da diminuição da despesa das administrações regional e local? E da redução da despesa do sector empresarial do Estado?
Como serão os próximos seis meses?
De um modo geral, se os rendimentos dos consumidores descem devido ao aumento dos impostos, eles gastarão e pouparão menos. A parte que não é gasta irá reduzir os rendimentos de outros, que por sua vez gastarão e pouparão menos. O processo repete-se e o efeito multiplicador irá prejudicar a condição de todos.
Porém, o impacto será menor se a contenção das despesas for “mais ao preço” e “menos” a produção adicional. Patrioticamente, o esmagamento de margens é mais positivo para a economia do que uma redução de produção.
Sectorialmente, esta tem sido a opção seguida. O esmagamento dos preços foi o segredo do sector do comércio a retalho. Pequenos e grandes espaços preferiram estar de porta aberta e continuar a vender.
O mais curioso, contudo, terá sido a forma como é que esta fraqueza se tornou força, e assumiu contornos estratégicos, sobretudo nas grandes marcas. O esmagamento dos preços tornou-se evidente e foi apresentado como uma mais-valia promocional dos principais grupos de distribuição: os preços são os mais baixos em cada uma das insígnias.
Assim, é de esperar nos próximos anos uma manutenção da estratégia seguida até aqui: preços baixos e dinamização da procura. Cartões e sistemas de fidelização, novo posicionamento, ou uma comunicação mais agressiva será a forma de, aos olhos do consumidor, continuar a crescer.
Até porque de acordo com o INE, nos Inquéritos de Conjuntura, a procura é sistematicamente o maior obstáculo à actividade do comércio ao retalho, sendo referido por mais de metade das organizações do sector. O preço é apenas mencionado por cerca 5% das organizações, apesar da concorrência que se faz sentir. As dificuldades de tesouraria ou os níveis de preços tão evidentes nos telejornais e no discurso político não passam de meras consequências desta imobilidade e representam pouco mais de 10 do top of mind dos empresários do sector.
O retalho está a fazer a sua parte, teremos de ver se os restantes agentes económicos fazem o mesmo.
Filipe Charters de Azevedo, Manager da PricewaterhouseCoopers