A Mãe de todas as Perdas
por Alexandre Mota, A actual crise faz-me pensar sobre a essência dos mercados, sobre a sua lógica de funcionamento e sobre os fundamentos da sua existência. Tentativa 1) Os mercados […]
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por Alexandre Mota,
A actual crise faz-me pensar sobre a essência dos mercados, sobre a sua lógica de funcionamento e sobre os fundamentos da sua existência.
Tentativa 1)
Os mercados existem para transferir dinheiro de umas mãos para outras, para encontrar a oferta e a procura e para gerir, sob a forma do preço, a dinâmica dessas variáveis. Portanto, os mercados existem para serem dinâmicos. Dinâmica implica movimento….”the markets have to move”. Interessante? Talvez. Mas claramente insuficiente para explicar o comportamento dos mercados. Especialmente os “actuais mercados”.
Tentativa 2)
Os mercados são feitos de pessoas e as pessoas tomam decisões com base em expectativas. O sucesso de cada um depende essencialmente da capacidade de potenciar os bons negócios (ou as boas ideias) e de descartar a tempo os maus negócios. Em suma, saber gerir bem o risco.
Esta tentativa de explicação parece-me um avanço. Quem não fizer a mínima ideia dos riscos do negócio e de como geri-los, quem nem tiver um plano, quem não souber que tudo pode mudar, inevitavelmente vai falhar. E isso é a única coisa de que tenho a certeza absoluta.
Vale a pena aproveitar o prefácio no livro “The New Market Wizards” e recordar uma decisão célebre. Não uma decisão de investimento, mas, de qualquer forma, uma decisão de risco: invasão do Kuwait pelas tropas iraquianas. Gestor/decisor: Saddam Hussein.
Inicialmente Hussein tinha razões sólidas e fundamentais para a transacção. Ao invadir o Kuwait provocaria o aumento dos preços do petróleo em benefício do Iraque, através da eliminação de um dos países que excedia constantemente a sua quota da OPEP e através da criação de um turbilhão no mundo dos mercados petrolíferos. Adicionalmente, ele tinha boas hipóteses de anexar permanentemente parte ou até mesmo a totalidade dos campos petrolíferos do Kuwait, ganhando acesso directo ao Golfo Pérsico. Por último, a invasão dava a Hussein uma oportunidade fantástica de alimentar as suas ambições megalómanas. Em troca de todo este potencial positivo, o risco inicial deste “trade” parecia limitado. A resposta inicial americana era frouxa. Para Hussein, uma política assim ambivalente praticamente estendia a carpete vermelha aos tanques iraquianos. Por isso, inicialmente, na perspectiva de Hussein, a invasão do Kuwait era um “bom trade” – grande potencial de ganho e risco limitado.
No entanto, como acontece frequentemente, o “mercado” mudou. O Presidente Bush (Pai) comprometeu os Estados Unidos na defesa da Arábia Saudita ao enviar tropas e passou por cima das resoluções das Nações Unidas que tinham como objectivo convencer Hussein a deixar o Kuwait. Nesta altura, Hussein poderia provavelmente ter negociado um acordo no qual se retirava do Kuwait em troca de ganhos territoriais e direitos portuários – um ganho rápido. No entanto, embora o “trade” tivesse começado a deteriorar-se, Hussein resolveu manter a posição. Em seguida, Bush enviou um sinal mais forte ao duplicar as forças Norte-Americanas para quatrocentos mil – uma acção que indicava não só que os Estados Unidos estavam preparados para defender a Arábia Saudita, mas que estavam também a preparar-se para entrar no Kuwait pela força. Claramente, o mercado tinha mudado. Hussein ignorou este sinal do mercado e permaneceu em posição. Então, o Presidente Bush decretou o prazo de 15 de Janeiro para a retirada do Iraque do Kuwait de acordo com uma resolução das Nações Unidas – o mercado movimentou-se ainda mais contra a posição inicial. A esta altura, o potencial de ganhos já tinha provavelmente desaparecido, mas Hussein ainda poderia ter-se aproximado do “breakeven” ao oferecer a retirada do Kuwait. Mais uma vez, decidiu manter a posição. Ultrapassado o prazo de 15 de Janeiro, os Estados Unidos e os seus aliados na Guerra do Golfo embarcaram num bombardeamento massivo do Iraque; o “trade” estava claramente em território negativo. Mais ainda, o mercado estava a descer fortemente todos os dias, à medida que cada dia resultava numa maior destruição do Iraque. Mas como é que Hussein podia desistir agora, quando tanto já havia sido perdido? Tal como um gestor atarantado apanhado numa posição de contínua deterioração, agarrou-se à esperança de longo prazo: Se ao menos conseguisse aguentar o tempo suficiente, talvez o receio de baixas provocasse a retirada dos Estados Unidos. A tendência continuou a ir contra o “trade” enquanto os Estados Unidos lançavam mais um prazo de ultimato – desta vez ligado ao início da guerra terrestre contra o Iraque. Nesta altura, Hussein estava disposto a aceitar prontamente as condições da proposta de paz Soviética, um acordo que provavelmente seria perfeitamente suficiente anteriormente, mas que era agora inadequado. O comportamento de Hussein era muito semelhante ao de um gestor a manter uma posição longa num mercado em queda contínua que diz “Saio quando estiver a zero” e depois, à medida que a situação se vai tornando mais desesperante, “Saio quando atingir o máximo relativo”.
Por fim, com a guerra terrestre em curso, e o seu exército largamente dizimado, Hussein acaba por finalmente capitular. Era como um gestor que manteve uma posição perdedora até a sua carteira estar virtualmente destruída, e depois, em completo desespero, finalmente diz ao seu broker “Tira-me do mercado. Não interessa a que preço, sai já do mercado!”
Moral: Se não consegue aceitar uma pequena perda, mais tarde ou mais cedo, irá sofrer a “mãe de todas as perdas”.
Caro Leitor: A porta da entrada do mercado é bonita e larga. Mas, se decidir entrar, certifique-se qual o caminho para a saída. Se não perceber isso, é porque não está preparado para entrar.
Consultor e Gestor de carteiras da Golden Assets