De acordo com o relatório The State of Grocery Retail 2025: Europe, elaborado pela McKinsey & Company em parceria com a EuroCommerce, as vendas do retalho alimentar na Europa cresceram 2,4% em termos reais em 2024, ultrapassando, embora que marginalmente, a taxa de inflação dos preços dos alimentos (2,3%) e interrompendo um ciclo de três anos de quebras ajustadas à inflação.
Apesar deste crescimento, o contexto económico continua a impor desafios significativos. A pressão sobre os custos, a instabilidade geopolítica e a prudência dos consumidores moldaram um ano de decisões contidas e ajustamentos estratégicos por parte dos operadores. O fenómeno do downtrading abrandou, com cerca de 25% dos consumidores a optarem por alternativas mais caras e uma proporção semelhante a manter escolhas mais económicas, refletindo uma estabilização do comportamento de consumo.
O relatório, que se apoia em entrevistas a quatro CEOs do setor, um inquérito a mais de 30 líderes empresariais e respostas de 14.000 consumidores em 13 países europeus, destaca quatro grandes tendências para 2025: a diferenciação das marcas próprias, a crescente procura por alimentos saudáveis, a personalização da experiência de compra e a consolidação das bases para o crescimento futuro.
Portugal segue tendência de recuperação
O mercado português acompanhou a tendência europeia, com um crescimento real de 1,1% em 2024 – o primeiro em três anos – embora ainda 2,1% abaixo dos níveis pré-pandemia (2019). Em termos nominais, o retalho alimentar nacional cresceu 3,5%, impulsionado pela inflação (+2,4%) e pela subida no valor dos cabazes de compras (+2,3%), apesar de uma quebra de 1,2% no volume de vendas.
Os supermercados lideraram em desempenho, com um crescimento de 5,2% em valor e um ganho de quota de mercado para 67,6%. Já os discounters registaram um crescimento mais modesto (2,3%), perdendo ligeiramente quota (17,7%). As marcas próprias continuaram a reforçar a sua presença, com um aumento de 1,5 pontos percentuais, enquanto o canal foodservice manteve a trajetória positiva, crescendo 5,3% face a 2023 e situando-se 26,7% acima dos níveis de 2019.
Marcas próprias e saúde em destaque
A nível europeu, as marcas próprias mantêm a sua trajetória ascendente. Em 2024, aumentaram a sua quota de mercado e, segundo o estudo, 84% dos consumidores afirmam que continuarão a adquiri-las mesmo com um eventual aumento do poder de compra. A aposta dos retalhistas passa agora por posicionar estas marcas como propostas de valor diferenciadas, e não apenas como alternativas mais acessíveis.
O relatório, que representa a quinta edição de uma série dedicada a analisar em profundidade o estado atual e futuro do retalho alimentar na Europa, conclui ainda que a procura por produtos saudáveis e funcionais continua a crescer, impulsionada sobretudo pela Geração Z. Este grupo revela a maior intenção de priorizar uma alimentação saudável (45%), tornando-se o segmento de consumidores com crescimento mais acelerado.
A personalização surge como novo imperativo competitivo. Mais de metade dos consumidores referem que a experiência personalizada influencia a decisão de recompra, com potencial de aumento de receita e fidelização entre 4% e 6%. Neste contexto, os retalhistas recorrem cada vez mais à inteligência artificial para criar interações mais relevantes e eficientes.
Crescimento médio cinco vezes superior em receita por metro quadrado
A edição de 2025 do relatório assinala o quinto aniversário da publicação com uma análise aos growth champions: os retalhistas com melhor desempenho na Europa nos últimos cinco anos. Estes operadores registaram um crescimento médio cinco vezes superior em receita por metro quadrado. Entre os fatores que mais contribuem para esse desempenho destacam-se a aposta em marcas próprias (2,8 vezes mais provável de sucesso), a qualidade da experiência em loja (2,4), a excelência dos produtos (1,6) e a competitividade dos preços (1,5).
Daniel Läubli, diretor global de Retalho do Setor Alimentar da McKinsey, refere: O volume está a crescer novamente e alguns consumidores estão dispostos a fazer um upgrade nas suas escolhas. Entretanto, a pressão sobre os custos mantém-se elevada e muitos compradores continuam cautelosos devido à persistência das dificuldades económicas. Identificamos quatro prioridades estratégicas para os retalhistas alimentares em 2025: reforçar os focos de crescimento, aumentar a eficiência, envolver o consumidor do futuro e tirar partido da inteligência artificial como motor de criação de valor.”.
Christel Delberghe, diretora-geral da EuroCommerce, afirma: “Num ambiente incerto, marcado por pressões geopolíticas, inflação e aumento dos custos energéticos, a eficiência de custos é fundamental. Ser capaz de tirar partido do Mercado Único para ganhar escala e abraçar novas oportunidades, da crescente procura por produtos saudáveis até às experiências mais personalizadas por parte das novas gerações de consumidores, são algumas das principais alavancas para enfrentar estes desafios e prosperar.”.